Angelo Antonio vive o médium jovem| Foto: Divulgação

O novo longa-metragem de Daniel Filho, Chico Xa­­vier, chega hoje às salas de cinema – mesma data em que se comemora o centenário do médium mineiro – com potencial de alcançar o recorde de bilheteria dos blockbusters nacionais do diretor, Se Eu Fosse Você 1 e 2.

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Pelo menos é o que se espera de um filme com orçamento de R$ 11 milhões, coproduzido pela Sony Pictures, Downtown Filmes, Globo Filmes e Estação da Luz e elenco global dos mais impressionantes – são 135 atores e centenas de figurantes. Mas, como em Lula, o Filho do Brasil, de Fábio Barreto, em Chico Xavier a trajetória de vida do personagem suplanta as qualidades cinematográficas do filme.

Baseado na obra As Vidas de Chico Xavier, do jornalista Marcelo Souto Maior, o longa-metragem é focado em três fases da vida do médium. Matheus Costa vive Chico menino, órfão de mãe e maltratado por uma madrinha (Giulia Gam) que considera sua conexão com o além "coisa do diabo".

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Metáfora

Ele surge em cena lambendo a ferida de outra criança, a mando da supersticiosa tutora, em uma metáfora do que fará no futuro: ao psicografar mensagens de filhos mortos, Chico deu alento a milhares de mães que lotavam todos os dias a Casa da Prece, em Uberaba.

Angelo Antonio (2 Filhos de Francisco) vive o médium ainda jovem, entre 1931 e 1959, período em que conhece seu guia espiritual, o espírito Emmanuel, ainda em Pedro Leopoldo, onde nasceu, que o ajudará em sua missão de psicografar livros ditados pelos mortos – foram mais de 450 publicações.

Já em Uberaba, onde passou a viver após ser descreditado em sua cidade natal, ele é vivido por Nelson Xavier, entre os anos 1969 a 1975 – que até pouco tempo, absolutamente cético, se irritava ao ser confundido com o médium, e hoje diz ter vivido uma "revolução". "Foi como se uma cachoeira de emoção tivesse tomado conta de mim durante as filmagens. Chico vai me acompanhar sempre a partir de agora", diz.

O filme tem como seu principal "achado", nas palavras do próprio Daniel Filho, usar como fio condutor encenações de trechos da polêmica entrevista de três horas que Chico concedeu ao programa Pinga-Fogo, na extinta TV Tupi, em 1971. Além da impressionante atuação de Nelson Xavier, o ator (e espírita) Paulo Goulart brilha como o jornalista Saulo Guimarães, que o sabatina com questões polêmicas.

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A preocupação em ser absolutamente fiel à história – Daniel Filho conta que "quis entrar na cabeça do médium" – acaba por tornar o filme didático. As cenas são breves, os diálogos fáceis e os planos tradicionais como nas novelas. Além disso, excesso de verossimilhança no cinema faz com que o real pareça forçado. Emmanuel, por exemplo, com sua túnica branca e gestual empolado soa artificial; e a cômica cena do avião, em que Chico Xavier grita desesperado durante uma turbulência, destoa da trama de tintas mais dramáticas.

A subtrama do casal (Cristiane Torloni e Toni Ramos) que perde o filho, morto pelo amigo, e recebe uma carta psicografada pelo médium avisando da inocência do garoto, é só um dos inúmeros episódios da biografia de Chico Xavier, mas ganha destaque exagerado.

O filme certamente vai agradar quem deseja ver bem contada nas telas – e nada além disso – a história de Chico Xavier, uma das figuras mais admiradas no país. GG1/2