Uma semana depois de a equipe do Porta dos Fundos atrair centenas de adolescentes e crianças para a Bienal do Livro do Rio, outro fenômeno da internet foi responsável pelo bate-papo mais badalado de hoje, último dia do evento. Um auditório com 350 garotos e garotas aos gritos estridentes recebeu Felipe Neto, 25, criador do canal virtual Não Faz Sentido, um dos mais vistos do YouTube no Brasil, com média de 4 milhões de visualizações por vídeo, e da produtora Parafernalha, responsável pela série "Na Toca", do canal Netflix. Neto participou da programação juvenil do espaço #acampamento devido ao lançamento de "Não Faz Sentido - Por Trás da Câmera", cuja repercussão -o livro é o mais vendido da editora Casa da Palavra nesta edição da Bienal- ele disse considerar "surreal". "O livro está há três semanas na lista de mais vendidos da "Veja" e ainda não li crítica negativa, justo eu, que sou sempre tão xingado por tudo", comentou. "Escrevi para contar os bastidores do programa, mas hoje vejo que o livro mostra como o entretenimento está mudando com esse movimento de TV pela internet virando o que é hoje", disse. Sobre a produtora Parafernalha, na qual trabalha com cerca de 30 funcionários, Neto disse que não é simples conseguir o respeito de quem o conheceu, três anos atrás, como autor de vídeos na internet. "Fiquei muito associado àquela imagem. Hoje, que tenho um trabalho como empresário, vou a reuniões, falo de maneira diferente do que estou falando aqui, percebi que muita gente do mercado tem preconceito mesmo. Mas, quando você começa a mostrar resultado, número, competência, as pessoas começam a ver de outra forma."
"Conteúdo Coxinha" Com o repertório repleto de palavrões que o tornou conhecido, Neto criticou o "conteúdo coxinha" dos programas de humor tradicionais e pais que consideram seus vídeos inapropriados. "Uma mulher veio dizer que a filha fala palavrão por minha causa. Respondi: 'Educação quem dá é pai e mãe.'" Mas admitiu ter ficado preocupado com o poder de influência que descobriu ter -durante o encontro, vários adolescentes começaram suas perguntas dizendo estarem nervosos pela oportunidade de falar com ele e que ele os "ensinou a pensar". "Falo um monte de merda, e tem muito adolescente assistindo. Pensei que, se começasse a me policiar, ia virar coxinha. Então, o que passei a fazer nos vídeos foi esclarecer: 'Não tome o que estou dizendo como verdade, pesquise antes de concordar comigo." Neto ainda aproveitou o público jovem e ruidoso ali reunido para passar algumas lições, disfarçadas entre piadas --inclusive quanto ao próprio fato de eles serem ruidosos. "Se alguém chega chorando e esperneando para pedir autógrafo, não posso falar 'cala a boca', porque eu seria um babaca completo. Mas tem que ter limite entre admirar o trabalho e admirar a pessoa. Gosto do trabalho da Miley Cyrus, mas, se falo mal de algo que ela faz, vem alguém dizer: 'Por que está falando mal dela, seu merda?'. Essa pessoa perdeu o controle." Em assuntos não relacionados a seu próprio trabalho, tirou sarro da atual produção musical brasileira ("Olha, tá difícil. Vi a lista de indicados ao prêmio Multishow e fiquei com vontade de chutar meu próprio saco") e do Facebook ("Abrir a página principal do Facebook é ficar sendo estapeado por merda, porque você fica vendo o que tem de pior na internet").