Na falta de histórias originais, Hollywood tem se dedicado a sugar o que pode de refilmagens e adaptações de livros, quadrinhos e seriados de televisão. O anúncio de uma nova versão de King Kong, portanto, não surpreendeu a ninguém. Com um pequeno porém: o nome do diretor.
Peter Jackson, o neozelandês que levou a trilogia O Senhor dos Anéis a faturar 17 Oscars e US$ 3 bilhões nas bilheterias, não usou o macacão somente para descolar mais alguns trocados. Realizou um grande sonho de infância afinal, decidiu se tornar cineasta aos 9 anos, após assistir ao primeiro King Kong, rodado em 1933.
O resultado da empreitada, em cartaz nas telas do mundo todo a partir de hoje, não é apenas o filme-evento mais divertido do ano. É um tremendo desafio para os diretores de grandes produções, que a partir de agora terão de cortar um dobrado para superar o feito de Jackson.
Para início de conversa, o King Kong de 2005 possui, de longe, os efeitos especiais mais grandiosos de que se tem notícia. Ao longo de três horas de projeção (nada entediantes, diga-se de passagem), o espectador é capturado por uma coleção de seqüências fantásticas, produzidas por truques digitais que simplesmente não existiam há três ou quatro anos. Mas de nada adiantaria tanta pirotecnia sem um roteiro decente. E aí entra em cena Fran Walsh, mulher de Peter Jackson e autora de um script movido a doses equilibradas de humor, drama, romance e, principalmente, ação.
A trama começa em Nova Iorque, onde a humilde atriz Ann Darrow (Naomi Watts, de 21 Gramas) luta para sobreviver em meio à Grande Depressão. Prestes a dançar seminua para ao menos ter o que comer, ela recebe um convite do produtor de cinema Carl Denham (Jack Black, de Escola do Rock): protagonizar um filme "revolucionário", a ser rodado em locações exóticas fora dos EUA. Ambicioso e meio picareta, Denham quer, na verdade, filmar a Ilha da Caveira, um lugar perdido que, reza a lenda, foi habitado por uma civilização extinta.
A bordo de um cargueiro, Ann e Denham partem em uma jornada às cegas, acompanhados da equipe de filmagem e da tripulação do navio. Já em alto mar, a atriz conhece o dramaturgo e roteirista Jack Driscoll (Adrien Brody, vencedor do Oscar por O Pianista), por quem se apaixona imediatamente.
A primeira parte de King Kong se encerra com a chegada da trupe à Ilha da Caveira, que realmente existe e é guardada por uma tribo indígena esquisitona. Nesse momento, a história ganha contornos de filme de terror, com os nativos em transe, ensandecidos, lutando contra os invasores brancos. Seu alvo é Ann, que deve ser entregue, numa espécie de sacrificio religioso, ao verdadeiro dono do pedaço: o macacão, é claro.
King Kong, no entanto, não esmaga a oferenda. Pelo contrário, apaixona-se por ela e a carrega como se fosse uma bonequinha. Ann, por sua vez, corresponde ao carinho da fera. Ao ser salva pelo primata de um ataque de tiranossauros (sim, a ilha é infestada de seres pré-históricos), a atriz encontra a proteção que nunca teve em toda a sua vida. Freud explica.
Com cerca de oito metros de altura, o King Kong de Jackson convence pelo realismo. Mas seu, digamos, charme está mesmo nas expressões faciais humanizadas (para os mais cínicos, um tanto ridículas), emprestadas virtualmente por Andy Serkis. O ator, que havia "interpretado" o feioso personagem digital Gollum, em O Senhor dos Anéis, também aparece aqui em carne e osso, no papel do cozinheiro do navio.
Fiel ao roteiro de 1933, Jackson reconduz o grupo a Nova Iorque, agora de posse de King Kong, aprisionado após quase uma hora de estripulias em seu habitat natural. Nesse meio tempo, metade dos personagens morre de maneira violenta, o que explica o fato de o filme não ser recomendado para espectadores de todas as idades.
Obcecado por reconhecimento, Denham prepara uma exibição do gigante na Broadway. E o resto da história já está impregnada no imaginário popular, com a fera ferida e descontrolada lutando para reencontrar sua amada. Ainda assim, Jackson envolve a audiência até o último dos 187 minutos de projeção, proeza que não conseguiu nos longas da trilogia O Senhor dos Anéis (com sua baboseira new age e subtramas confusas).
Spielberg perdeu o trono: quem manda agora no cinema de entrenimento é Peter Jackson, responsável por encurtar, ainda mais, a distância entre fantasia e realidade. GGGG
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