Romance
Fim
Fernanda Torres. Companhia das Letras, 208 págs., R$ 34,50.
Fernanda Torres é, não há por que duvidar, uma observadora bastante atenta do que ocorre ao seu redor. A atriz, que há tempos se revelou uma cronista quase sempre certeira nas páginas da Folha de S.Paulo e das revistas Veja Rio e piauí, lança agora seu primeiro romance, que leva o título de Fim. E prova também ser uma jogadora bastante ousada.
Se alguém esperava dela uma história sobre os bastidores do teatro, da televisão ou do cinema. Ou uma trama que pareça ter alguma remota proximidade com o que as pessoas imaginam ser a sua vida, errou feio.
Fernanda, que aos 20 anos venceu o cobiçado prêmio de melhor atriz no Festival de Cannes, por Eu Sei Que Vou Te Amar dividido com a alemã Barbara Sukowa, laureada por seu desempenho em Rosa Luxemburgo , resolveu não ir muito longe de onde vive e trabalha, o Rio de Janeiro, mas fala de uma realidade nem um pouco glamourosa.
Tomando como cenário a Babel urbana que é o bairro de Copacabana, uma espécie de síntese não apenas da cidade, mas do próprio país, ela escreve sobre um tema tão espinhoso quanto rico, a morte, dentro de uma perspectiva bem original, e até certo ponto inusitada.
Fim tem como personagens centrais um grupo de velhos amigos, todos da mesma geração, e dos respectivos desfechos de suas respectivas vidas. Mas não espere da prosa de Fernanda, atualmente em cartaz na Rede Globo com o seriado Tapas & Beijos, uma narrativa edificante, ou melodramática, sobre a amizade.
O texto da autora, hoje com 48 anos, vai em outra direção: ela investe em um tom de tragicomédia, ao mesmo tempo erótico, safado, irônico (quanto não sarcástico), mas também muito humano, para entrelaçar as histórias de seus personagens, quase sempre tomando como ponto de partida, ou de chegada, o fim de cada um deles.
Em capítulos intermediários, ela trata de coadjuvantes essenciais, como esposas, amantes e filhos desses homens, cujas vidas são descritas com a afiada verve de uma cronista de costumes que parece saber do que está falando. Daí a suspeita de que ela observe com muita atenção o mundo mais prosaico, banal.
Surpreende a desenvoltura com que Fernanda, dada sua limitada experiência com a ficção, lida com instâncias de fluxo de consciência, o que torna a maior parte de seus personagens, sobretudo os protagonistas masculinos, muito verossímeis. São homens que viveram o auge da juventude nos anos 60 e, portanto, vivenciaram a fase áurea do Rio de Janeiro, e, cada a um a sua maneira, trata de meter os pés pelas mãos rumo a desfechos quase todos meio patéticos. Desandam, enfim.
Outra virtude de Fim, terceiro colocado na lista dos mais vendidos da Livraria Cultura nesta semana, é o controle que Fernanda demonstra ter da arquitetura narrativa. Embora muitas das histórias contadas se entrecruzem e, portanto tenham momentos em comum, as perspectivas são sempre outras e o mosaico final impressiona.
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