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Seguindo o mesmo caminho de produções como "O Auto da Compadecida" (2000) e "Caramuru - A invenção do Brasil" (2001), a minissérie da Rede Globo "Som e Fúria" chegará aos cinemas depois de exibida na televisão em agosto passado.

A versão, que nesta semana estreia apenas em uma sala em São Paulo, condensa quatro dos oito episódios do original. Aqui, estão apenas aqueles dirigidos por Fernando Meirelles e Toniko Melo, que também é responsável pela nova montagem.

"Som e Fúria" é baseado na série canadense "Slings and Arrows" e, basicamente, mostra um grupo de teatro às voltas com uma montagem de "Hamlet", de William Shakespeare. No filme, Oliveira (Pedro Paulo Rangel) é um diretor mergulhado em problemas que encerra uma apresentação de "Sonho de uma Noite de Verão" e acaba atropelado por um caminhão, num momento de crise de criatividade.

Para salvar o destino da companhia que precisa urgentemente montar o clássico, a solução é chamar Dante Viana (Felipe Camargo) para assumir o posto de diretor artístico. Ele vai montar a peça, mas existe um problema do passado, uma questão mal resolvida: no auge de sua carreira como ator, ele interpretou o príncipe atormentado da Dinamarca, mas abandonou a peça depois de poucas apresentações e entrou em decadência. Na época, ele era dirigido por Oliveira e atuava com sua namorada, Elen (Andrea Beltrão), que até hoje é a diva da companhia.

Em meio a esses fantasmas do passado, Dante precisa montar um "Hamlet" de sucesso, lidar com a inveja do diretor financeiro da companhia (Dan Stulbach), fazer um ator de televisão (Daniel de Oliveira) interpretar o protagonista da peça de forma convincente e aturar o fantasma de Oliveira, que o atormenta, mas também o ajuda várias vezes.

"Som e Fúria" tem uma história simples de bastidores de teatro. Ao tentar levar Shakespeare para a televisão, mantendo o que mais importa -- seus conflitos, tramas e personagens --, Meirelles, que idealizou a versão brasileira da série, conseguiu o feito de dessacralizar o bardo sem o reduzir ao vazio das telenovelas, por exemplo. No entanto, a versão para o cinema parece não dar o tempo necessário para que tramas e personagens se desenvolvam.

Muitas pontas acabam soltas e, quando retomadas, parece haver uma cratera no meio. Exemplo: Oliveira gostaria que quando morresse seu crânio fosse doado para a companhia e servisse como objeto de cena em Hamlet. Ao saber da morte do amigo, Dante fica preocupado, pois deverá cumprir a promessa. Poucas cenas depois ele está com uma caixa térmica que supostamente contém a cabeça. O assunto morre aí. E só no final do filme o crânio é novamente lembrado.

São detalhes que mostram que o filme é o que exatamente é: condensação de uma obra maior.

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