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 | Fabiano Vianna/Reprodução
| Foto: Fabiano Vianna/Reprodução

Opinião

Estranha e delicada, Lívia chegou lá

Sandro Moser

O ponto alto do trabalho de Lívia Lakomy sempre foram suas letras encharcadas de um cinismo bem-humorado para falar das idiossincrasias e mitos curitibanos.

Quando ainda cantava cercada pelos "piás de prédio", Lívia compôs uma música em que dizia que no "submundo autofágico" da música paranaense a maior glória possível era "aparecer sorrindo na capa do Caderno G".

Curiosamente, a cantora atinge hoje a "glória suprema" com um álbum cantado em inglês. O disco reúne uma dúzia de canções pop que mantêm a ironia característica de Lívia, porém, de uma forma mais complexa. Curitiba continua sendo um dos temas, mas não o principal. O truque deste álbum é tentar colocar a capital paranaense dentro do Brasil tropical, como na brincadeira de botar o rabo no burro.

Chama atenção a qualidade das canções quando sabemos que elas foram escritas por Lívia quando ela tinha apenas 16 anos. Também é muito esperta a forma de divulgar o disco: através de cartões postais com a arte e o endereço do site para baixar as músicas.

Outro destaque é a produção de André Prodóssimo, que misturou melodias pop a um rock rural com texturas esquisitas.

Ele mesmo tocou violões, guitarras, viola caipira, ukulele e baixo elétrico em todas as faixas. A banda foi completada por Flávio Lira (baixo acústico), Ary Giordani (acordeão), Edvaldo Chiquini (trompa) e o percussionista André Rass, que chegou a tocar oito instrumentos diferentes em algumas faixas. O resultado são canções que sabem ser delicadas e bizarras ao mesmo tempo e provam que Lívia sempre foi uma das principais compositoras de sua geração. GGG1/2

Lançamento

Bossa Urbana, com Lívia Lakomy e MC Cabes

+55 (Av. Vicente Machado, 866, Centro), (41) 3322-0900. Hoje, às 22 horas. R$ 10 (fem.) e R$ 20 (masc.). O álbum Subtropical pode ser baixado no site www.livialakomy.com/subtropical.

  • A cantora repete a pose de Bob Dylan:

O álbum Subtropical, que a cantora e compositora de Lívia Lakomy lança hoje, foi pensado para soar "estranho". Segundo a própria autora, a sonoridade pretendida neste novo trabalho é "uma mistura de urbano com caipira, pop e raiz, cool e jeca, familiar e bizarro".

Lívia surgiu no meio da década passada, liderando a banda Lívia e os Piás de Prédio. Jornalista por formação, ela ganhou notoriedade com suas letras em português; verdadeiras crônicas cheias de ironia sobre os usos e costumes curitibanos.

Neste disco, ela recupera um repertório composto em inglês, anterior à fase com os "piás de prédio", de um tempo em que ela, ainda adolescente, compôs músicas pop com o sonho de se tornar uma grande estrela mundial.

Morando atualmente em Nova York, onde está cursando mestrado em Jornalismo na Universidade de Columbia, ela explica que decidiu gravar antes de viajar para os Estados Unidos, pois "achou importante ter um material bem feito em inglês para apresentar lá".

"Quando resolvi retomar estas canções, percebi que tinha de mudar a pegada. Falei com o [violonista e produtor do disco] André Prodóssimo para que tentássemos deixar as músicas o mais estranho possível", conta.

"Queria chocar os ouvidos. Quando a coisa está ficando muito fácil, vem um solo de acordeão", observa. O som é cru, gravado com instrumentos acústicos e sem bateria, samplers ou efeitos. Todos os instrumentos são tocados por seres humanos reais", brinca.

O conceito do álbum, expresso no título, brinca com a ideia de que existe sim algo de caipira e provinciano em Curitiba, mas, nem por isso, a cidade deixa de fazer parte de um festivo país tropical. A arte da capa, feita pelo ilustrador curitibano Fabiano Vianna reforça essa ideia.

"Falei para o Fabiano que queria algo como se o quadro "Festa de Polacos" [de Paul Garfunkel, de 1979] pintado pelo Poty Lazzarotto, com as coisas anacronísticas que ele faz", revela. "O clima é de festa no interior, com DJ e araucárias misturadas a postes de luz", conceitua.

Harlem

Lívia se mudou no ano passado para os EUA, pois foi aprovada em uma bolsa de mestrado em que estuda literatura de não ficção. "Eu descobri que não tenho talento suficiente para inventar, nunca poderei ser uma escritora de ficção. Porém, sou interessada por tudo de um jeito que consigo, espero, contar de uma maneira legal as coisas que acontecem", analisa.

Ela divide um apartamento com um colega indiano ("no nosso armário só tem curry e farinha de mandioca") e conta que ainda não teve oportunidade de montar um banda ou se apresentar em sua nova cidade. Algo que pretende fazer agora, com o novo material. Porém, sem ilusões de sucesso. "Vou tocando os meus estudos e o que tiver de acontecer vai acontecer. A cada dois anos aparece um novo Bob Dylan. Eu prefiro ser a Lívia."

O primeiro passo foi dado comprando um novo violão. "Eu estava dormindo em um colchão de ar. Tinha dinheiro para comprar ou uma cama ou um violão. Lógico que comprei o violão", diverte-se.

Trajetória

Uma "curitiboca" subtropical:

• Lívia Lakomy nasceu em Curitiba em 1985.

• Enquanto cursava Jornalismo na Universidade Federal do Paraná, formou a banda Lívia e os Piás de Prédio. O grupo lançou dois discos. O primeiro em 2008, com o mesmo nome da banda. O segundo, Bloco II, foi lançado em 2010.

• Suas composições também foram gravadas por outros artistas, como Bernardo Bravo e A Banda Mais Bonita da Cidade.

• Subtropical é seu primeiro disco solo.

• Desde o ano passado, Lívia vive em Nova York, onde faz mestrado na Universidade de Columbia.

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