Público de quase 10 mil pessoas lotou a apresentação do Grupo Galpão no domingo, na Praça do Papa| Foto: Guto Muniz/Divulgação
Primeiro dia do festival começou com uma parada artística ao longo de uma avenida

A partir do centro de Belo Horizonte, o motorista leva uns bons 20 minutos até a Praça Alaska, no bairro chique Belvedere, onde o grupo mineiro Quik apresentava sua performance Ressonâncias. A escolha por locais distantes da sede administrativa do 11.º Festival Internacional de Teatro Palco & Rua (FIT-BH) ilustra o esforço em fazer o evento aparecer na cidade de 2,3 milhões de habitantes.

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Realizado a cada dois anos pela prefeitura da capital mineira, o Fit se espalha cada vez mais e não se permite perder sintonia com a classe artística local.

A abertura, na tarde do último sábado, incluiu uma parada artística pelas ruas do bairro Savassi. À noite, cinco espetáculos foram realizados em diferentes pontos da cidade, incluindo a periferia.

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A descentralização das apresentações – são 60 locais recebendo peças – foi a principal estratégia neste ano para chamar a atenção do público.

O motivo para isso tem a ver com as próprias características cênicas. "O teatro tem dificuldade de impactar, por ser artesanal. E os festivais, em geral, perderam muito do ineditismo – hoje as pessoas viajam mais, assistem a coisas na internet etc. Então, a saída que achamos foi radicalizar a descentralização, para que mais pessoas tivessem contato com a arte", explicou à reportagem o diretor artístico do evento, Marcelo Bones.

Assim como os demais curadores do evento, ele é do ramo teatral – mais um esforço que se nota no Fit, o de manter a relevância artística. Os outros convidados são Yara de Novaes, diretora mineira radicada em São Paulo, e Grace Passô, que dirige o celebrado Espanca!.

Além deles, o crítico Valmir Santos trabalha como consultor. Essa sintonia com o que a classe artística está pensando não mudou depois que o festival, nascido por iniciativa do movimento de teatro de grupo da cidade, em 1994, foi adotado pela prefeitura.

"Tentamos trazer não só variedade, mas também expandir a percepção do que é teatro", contou Valmir à Gazeta do Povo. Com isso, vieram espetáculos que dialogam, por exemplo, com as artes visuais, como o espanhol Golgota Picnic, em cartaz de 21 a 24 de junho, e a série Transfiguration/Hybridation/Transept, em cartaz de hoje a sábado com o congolês radicado na França Olivier de Sagazan.

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Em conversa com a imprensa, ontem, ele explicou que o show nasceu de uma crise por que passou, quando, para reencontrar sua identidade, lançou argila e tinta no rosto. "O festival continua tendo radicalidade", aprova a curadora Yara de Novaes, para quem a vocação local para a formação de grupos de pesquisa duradoura foi estimulada pelo festival.

Público

Quem acompanha a cena local se dispõe a percorrer os bairros em busca das apresentações ramificadas. Foi assim com Ressonâncias, no Belvedere. Cerca de 50 pessoas caminharam pela praça atrás de dois bailarinos e dois músicos, que ocuparam o espaço com dança contemporânea e um convite para bailar junto com eles, no final. O uso de notas estridentes e desafinadas e ruídos como o de papel ao vento, perto de um potente microfone, acabou atraindo a atenção de pes­soas até de dentro dos prédios.

Fenômeno mesmo de público por aqui é o Galpão, grupo mineiro que ajudou a criar o festival. Com a reestreia de Romeu e Julieta, de 1992, eles iniciaram as comemorações de seus 30 anos – depois de passar pelo Shakespeare’s Globe, de Londres. Foi emocionante ver o público cantar com os artistas algumas canções do espetáculo, como "Flor, Minha Flor", e outras de criação própria.

Outros grupos locais foram selecionados por edital para compor a grade da programação, com ênfase em espetáculos de rua – presente até no nome do evento.

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A jornalista viajou a convite do FIT-BH.