O Festival de Berlim deu início na última quinta feira à sua 63ª edição com "The grandmaster", de Wong Kar-wai. O diretor chinês é também o presidente do júri da mostra oficial.
Mostrado numa sessão prévia para a imprensa, "The grandmaster" é um drama épico de artes marciais e romance, que se passa durante a tumultuada China dos anos 1930. Inspirada na vida de IP Man (Tony Leung Chiu Wai), o lendário mestre de Wing Chun que foi mentor de Bruce Lee, a trama envolve temas de guerra, família, vingança, memória e amor.
A história gira em torno de dois mestres de kung fu: ele, Ip Man, vem do sul da China. Já ela, Gong Er, vem do norte. Os caminhos deles se cruzam na cidade natal dele, Foshan, na véspera da invasão japonesa de 1936. A China está em tumulto e os poderosos do sul do país estão às vésperas de se separar do norte, na eterna e histórica luta interna chinesa. Mas o conto de traição, desafio, honra e amor está acima do pano de fundo caótico da guerra da ocupação e das rivalidades.
Com sua assinatura, estilo, atmosfera de romance e realismo e dezessete anos depois de Cinzas do Passado, seu primeiro filme no gênero o diretor traz o tema a um novo patamar, ao investigar a eterna questão das artes marciais: se o vencedor é mais do que apenas o último homem que se mantém em pé.
"The grandmaster" teve quase três anos de produção e mais de uma década de preparação.
Entrevista
A Gazeta do Povo participou da concorrida coletiva com o diretor quando ele falou sobre o filme e os desafios para realizá-lo.
"A ideia para este filme surgiu em 1999, quando eu vi o super 8 da família de um grandmaster: é o único arquivo desse mestre. Ele tinha a responsabilidade de passar o conhecimento de kung fu, o código de honra e a técnica da luta para as gerações que viriam depois dele", explicou Kar-wai, acrescentando que o maior desafio para fazer o filme foi que ele nunca praticou artes marciais.
"Mas aprendi muito. Durante o filme, eu vi que os lutadores de kung fu são humildes, apesar de saberem que tem uma arma na mão. Eu era como aquela criança que aparece no filme olhando os lutadores, como eu fazia também quando era menino. Eu admiro muito a seriedade deles", ressaltou.
Tony Leung disse que precisou treinar por três anos para fazer o papel.
"Mas foi o primeiro que eu fiz tendo o perfeito entendimento do meu personagem", declarou sob risos dos jornalistas.
Júri oficial
Pela manhã, o diretor fez a apresentação do seu júri, que é formado pela diretora dinamarquesa Susanne Bier, pelo diretor alemão Andreas Dresen, pela diretora e fotógrafa americana Ellen Kuras, pela artista e diretora iraniana Shirin Neshat, pelo ator americano Tim Robbins e pelo diretor e produtor grego Athina Rachel Tsangari.
Para ele, ser jurado em Berlim é uma experiência gratificante para qualquer cineasta.
"Eu estou verdadeiramente honrado com o convite de Dieter (Dieter Kosslick, diretor da Berlinale). E também muito feliz de retornar e ver os últimos trabalhos de diretores de todo o mundo", ressaltou.