E o Festival do Rio 2008 termina nesta quarta-feira à noite com a entrega do troféu Redentor. Há muita expectativa para saber quem serão os vencedores das Premières Brasil e Latina. O júri fará a coisa certa, premiando um documentário - "Loki - Arnaldo Baptista", de Paulo Henrique Fontenelle? Existem outros candidatos aos prêmios de melhor ator e atriz que não os integrantes do elenco de "Romance", de Guel Arraes? E o júri vai optar entre Wagner Moura e Vladimir Brichta? Ou entre Letícia Sabatella e Andréa Beltrão, ou quem sabe atribuirá seu prêmio somente à segunda, pois ela, afinal, é a alma de Verônica, e tem muita gente por aqui entusiasmada com o novo longa de Maurício Farias?
São perguntas cujas respostas virão logo mais, no Cine Odeon BR, que abriga a gala de encerramento do evento. Embora a organização do Festival do Rio tenha restringido, este ano, por medida de economia, a lista de convidados internacionais, foi possível encontrar muita gente interessante por aqui, autores seminais como o italiano Paolo Taviani, o japonês Masahiro Kobayashi, o francês Claude Miller, o mexicano Arturo Ripstein e outro italiano, o estreante Gianni Di Gregori, roteirista de "Gomorra", de Matteo Garrone, e cujo longa de estréia, "Almoço em Agosto", foi uma das surpresas do festival."Almoço" foi comprado pela Imovision para distribuição no País e você talvez já o possa ver na Mostra de São Paulo, que começa dia 16. A lista de filmes e convidados do evento paulista será anunciada no sábado.
Mas a verdade é que muitas estréias da Première Brasil viraram acontecimentos artísticos e mundanos capazes de render capas de jornais e revistas. Como a estréia de "Romance", ontem (7) à noite. A Première Brasil chegou ao seu décimo ano com recorde de filmes apresentados. De sete, na primeira edição, eles saltaram para 65, entre curtas e longas, documentários e ficções, sendo 26 absolutamente inéditos. Um desses filmes que passaram aqui pela primeira vez foi o de Guel Arraes. Só o elenco do filme já faria a festa dos paparazzi, que transformam cada exibição da Première Brasil num grande tititi. A de ontem teve um convidado ilustre, Caetano Veloso, que foi prestigiar o filme produzido pela ex-mulher, Paula Lavigne. Aliás, Andréa Beltrão tomou Paula como inspiração para sua personagem, ou será mera impressão?
Caetano pode pisar na bola - sua recente polêmica com jornalistas de São Paulo -, mas é uma referência cultural. O diretor do curta "Maridos, Amantes e Pisantes", Angelo Defanti, que foi o complemento de "Romance", comemorou no palco do Cine Art Palácio o fato de que o irmão de Maria Bethânia ia assistir ao filme, como se só isso já fosse uma recompensa. O curta dele é uma piada muito divertida (e bem realizada) sobre o improvável confronto entre marido, mulher e o amante escondido no armário, incluindo uma discussão sobre sapatos que parece saída de "Vou para Casa", de Manoel de Oliveira.
"Romance" é diferente de tudo o que Guel Arraes fez antes. Diferente, em termos. O diretor que, no começo de sua carreira sonhava fazer filmes como Glauber Rocha e Jean-Luc Godard, hoje tem como referência Domingos Oliveira - ele disse. Seu filme trata de arte e vida e das relações entre teatro, televisão e cinema. Wagner Moura e Letícia Sabatella fazem no palco uma versão de "Tristão e Isolda", mas ela vira uma estrela de TV e a relação acaba.
Anos mais tarde, Letícia chama o ex para dirigir uma adaptação televisiva do texto clássico - "Tristão e Isolda no Nordeste". O filme discute o amor trágico, a transcodificação de mídias e é extremamente crítico (irônico?) no seu olhar sobre as relações no mundo das artes. Na abertura, Guel disse que "Romance" marcava uma mudança para ele, e que ficaria preocupado se o público risse muito. "Romance" não é sombrio, como "Tristão e Isolda" costuma ser. O público riu muito. O filme tem a cara de Guel e de seu co-roteirista, Jorge Furtado.
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