A lareira acesa no canto da sala era a principal fonte de calor naquela fria noite de domingo. No ambiente aquecido, mais de 50 jovens sentados em banquinhos plásticos espalhados em uma das extremidades da sala, sendo três acomodados em um sofá, assistiam hipnotizados à apresentação de cinco jovens músicos. E mesmo aqueles que estava do lado de fora, tinham, por meio das janelas laterais, a atenção voltada para o que acontecia lá dentro.
Era a banda Veenstra, tocando no encerramento da primeira edição do Festival Pangea, do Coletivo Atlas, ocorrido nos dias 30 de abril e 1º de maio, com o propósito de encontrar uma forma alternativa para a realização de shows e a divulgação de trabalhos autorais.
O sucesso é algo relativo, mas parece ter sido atingido. Durante os dois dias de festival, mais de 300 pessoas comparecem para ver as cinco bandas locais escaladas para tocar. Organizado em apenas duas semanas, o evento foi feito sem grandes fontes de financiamento, e sem depender de um lugar de renome.
Como não estamos presos a ninguém, nenhuma gravadora, podemos fazer algo voltado inteiramente para a música, do nosso jeito
A iniciativa partiu de jovens artistas curitibanos, na casa dos 20 anos. “Como não estamos presos a ninguém, nenhuma gravadora, podemos fazer algo voltado inteiramente para a música, do nosso jeito”, explica o músico Guilherme Nunes, um dos idealizadores do coletivo.
Hambúrguer vegetariano
Mesmo dividindo a casa com mais três pessoas, foi Marcela Mancino, integrante do coletivo e música, que cedeu o espaço localizada na Paula Gomes, nas proximidades da efervescente Trajano Reis, para abrigar o festival. O mesmo local já recebeu, no ano passado, o show do grupo Apanhador Só. Difícil é definir a sonoridade das bandas. Com instrumentais longos e cheios de efeito, poderia dizer que é alternativo, mas melhor não classificar. Como disse o músico Yuri Grigoletti, “é um som para sentir”.
No primeiro dia de festival, as bandas Dunas e Farol Cego foram as atrações. No domingo, foi a vez de The Larger Quasar Group, Polvo Nanquim e Veenstra. Além da entrada a R$7 para uma pessoa e R$10 para duas pessoas, os organizadores priorizaram a venda de produtos para buscar o retorno do investimento. O cardápio tinha opções de doces e salgados, destaque para o hambúrguer vegetariano. Também era possível comprar produtos relacionados ao coletivo. Os músicos ora estavam no palco, ora estavam servindo a plateia, o que deu um ar de proximidade entre público e artista. Como contou Leonardo Gumiero, “É legal ver gente vindo para os shows ‘consumir’ nossa música. Mostra que está dando certo o que estamos fazendo.”
Intercâmbio musical
O Coletivo Atlas surgiu em 2014 como uma iniciativa de Francisco Bley (Dunas), Guilherme Nunes (Dunas, The Larger Quasar Group, Veenstra), Thomas Berti (Farol Cego) e Lorenzo Molossi (Dunas, Veenstra), amigos com projetos musicais, que de modo a criar um espaço de divulgação destes trabalhos, acabaram por construir um coletivo que atualmente engloba mais de 20 projetos. Nestes últimos dois anos, o selo foi responsável pela divulgação de novas bandas de Curitiba e por realizar um intercâmbio musical entre artistas de outros estados do país.
Deixe sua opinião