O novo secretário de estado da Cultura, João Luiz Fiani, que substituiu Paulino Viapiana, quer assumir compromissos na pasta: descentralizar as ações culturais da capital para o restante do estado e regatar projetos como o Teatro de Comédia do Paraná, mas sem deixar de lado a vida artística. Conhecido pelas peças populares que promove em seu teatro privado, o Lala Schneider, ele frisa: “Tenho direito de trabalhar depois que termina o expediente. Quero subir no palco para fazer ‘A Casa do Terror’ à meia-noite, e vou fazer. Ninguém tem nada a ver com o que eu vou fazer no meu trabalho artístico. Vou continuar fazendo, sem usar recursos públicos, que é como eu faço as minhas peças há 20 anos”.
O novo secretário, há 36 anos em meio às artes cênicas, que se sentiu honrado em receber o convite “em um período de crise”, falou à Gazeta do Povo sobre o Programa Estadual de Incentivo à Cultura (Profice), lançado no fim de 2014, diálogo com a classe artística e outros assuntos:
Quais são suas maiores preocupações ao assumir o cargo?
São três: o Profice, o Teatro Guaíra e o Museu Oscar Niemeyer. Cuidar que o aporte de recursos continue o trabalho que se vem fazendo. E, claro, a descentralização, porque é muito importante que o estado seja contemplado em uma política pública de cultura. A gente não pode esquecer o estado do Paraná, não é só Curitiba.
O senhor já tem algo em mente para promover essa descentralização?
Tem vários projetos. Um deles é lutar pela volta do Teatro de Comédia no Paraná [considerado o primeiro grupo de teatro oficial do estado, fundado em 1962], do qual fiz parte nas décadas de 1980 e 1990, com uma produção de espetáculos de grande porte que pudesse viajar pelo interior do estado, em uma parceria com os municípios. Mas não só teatro. Dança, música, literatura, artes plásticas, enfim, todas as áreas. Esse vai ser um grande desafio para a secretaria.
Sobre o Profice, ele sai? Há uma expectativa alta do meio cultural.
O Profice foi adequado a uma nova realidade, dentro da readequação financeira pela qual passam o estado e o país. Qual o panorama hoje: nós estamos em contato com o secretário da Fazenda, para ver qual será a destinação orçamentária para que o Profice possa ser colocado em prática efetivamente. Só que ainda não sabemos o quanto vai ser, para que a gente possa aprovar todos os projetos. O andamento está correto, ninguém precisa ficar preocupado. Tenho certeza que o governador e o secretário da Fazenda vão fazer de tudo para que o Profice exista e possa ser mantido nesse estado. Que é uma conquista nossa, da classe artística.
Há alguma ideia de quanto será o valor? Inicialmente, foram previstos R$ 30 milhões, via renúncia fiscal, que foram revogados um mês depois.
Para esse valor a gente vai ter que esperar um posicionamento da secretaria da Fazenda, que está conseguindo quitar todas as dívidas com fornecedores. O estado está entrando num momento de equilíbrio. Só vou poder saber quanto vai ter para o Profice quando o estado tiver essa tranquilidade orçamentária.
Guerra e paz
João Luiz Fiani garante que Seec e Fundação Cultural de Curitiba serão parceiras. Segundo ele, já existe uma pré-agenda com o presidente Marcos Cordiolli.
Há uma previsão de quando isso possa acontecer?
Tive uma reunião com o secretário da Fazenda, e ele me prometeu em 15 dias um posicionamento.
A Orquestra Sinfônica do Paraná funciona em sua maioria com cargos comissionados, assim como outros corpos estáveis e setores do Teatro Guaíra, que tem um problema sério de mão de obra. O que é possível fazer para solucionar, ou ao menos amenizar o problema?
No Brasil inteiro, as principais orquestras funcionam com OS (Organizações Sociais), que eu acredito que seja uma grande saída. Mas o Guaíra já está num processo, que estou acompanhando, para criação do Serviço Social Autônomo (SSA). Não gostaria de discutir se um é melhor que o outro, eu prefiro estudar as duas opções. Para os músicos, a SSA é a preferida neste momento. Mas, será que é a melhor para o estado, em relação ao orçamento? Isso a gente tem que discutir.
O Guaíra depende dos corpos estáveis, a OSP precisa de uma definição urgente. Os músicos precisam ter tranquilidade para trabalhar, precisamos de instrumentos, rever contratações. A orquestra tem que tocar mais, isso é importante. O próprio governador tem um carinho muito grande pela orquestra, porque foi o pai dele [o então governador José Richa] que a criou [em 1985]. Então, ele está lutando muito para que a gente possa resolver isso da melhor maneira possível. Mesma coisa com o balé, ambos são fundamentais.
Sobre a parte estrutural do Teatro Guaíra. A primeira fase da reforma foi financiada pela Renault. A segunda fase já foi anunciada, com repasse de R$ 1,5 milhão. Esse apoio continuará? Há previsão de verba estadual para a obra?
O Teatro Guaíra tinha que passar por essa reforma. Desde a inauguração não tinha passado por uma intervenção assim. E a Renault hoje é uma parceira do estado. Esse apoio surgiu da relação do próprio governador com a Renault. É claro que, quanto menos a gente tiver que tirar dinheiro para reforma, melhor. Prefiro que tenhamos recursos para investir em outras coisas.
Muitos outros espaços culturais necessitam de reformas: o Museu da Imagem e do Som (MIS) foi reformado, mas ainda não está funcionando. A Casa Andrade Muricy (CAM) fechou há mais de um ano. Como pretende sanar esses problemas?
Eu não entendi quando cheguei aqui por que o MIS não está funcionando. Tanto que a primeira reunião que fiz na Casa Civil foi para que ele funcione nessa nova sede maravilhosa. Garanto que em poucos meses ele já estará lá. A CAM precisa de uma reforma, e, novamente, a gente volta a falar de recurso financeiro, a situação é de delicadeza. Mas sabemos que é um imóvel importante para a cidade e o estado, e ele precisa ser reformado. Vamos tentar arrumar esses recursos.
O senhor vai continuar atuando no seu teatro e em suas peças?
Essa foi a pergunta que fiz ao governador quando ele me fez o convite. É óbvio que vou continuar trabalhando como artista. Eu não sou político, não sou funcionário público, eu sou artista, e estou aqui para colaborar com quem faz cultura no estado. Depois das sete da noite, eu quero continuar fazendo teatro, sim. Claro que muito menos, porque tenho viagem, evento, enfim. Se me chamarem para trabalhar numa peça, depois do meu expediente, nada me impede.
Falando em gestão, sua experiência em administração privada pode ajudar?
No teatro Lala Schneider, precisei viabilizar aquele espaço. Obviamente, nesse período, tive que optar por um estilo de trabalho mais popular, que o público frequentasse meu espaço e que a gente pudesse sobreviver. É um tipo de política empresarial que muitas vezes não combina com a política pública de cultura. Então, nesse aspecto, eu não vejo como associar as duas coisas.
Essa sua linha pode ter causado resistência por parte da classe artística em relação ao seu nome à frente da secretaria?
Eu não senti isso. Porque as pessoas sabem separar, acredito. Não estou aqui como diretor e autor de teatro, estou aqui como gestor. E, modéstia à parte, como gestor, tem poucos que fizeram o que eu faço e o que eu fiz nessa cidade. As pessoas podem fazer críticas ao meu trabalho como produtor e autor das minhas peças. Mas isso aí é gosto. Não vou trabalhar aqui na secretaria com o meu estilo de teatro. Não tem nada a ver uma coisa com a outra. Se eu for fazer algo mais popular, é porque foi uma demanda do público, afinal, é o povo que paga o salário de todo mundo. É para isso que temos que trabalhar. Por isso estou ouvindo todo mundo, porque quero dar a minha cara para esse trabalho. Eu tenho esse direito, afinal de contas, estou sentado atrás dessa mesa.
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