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Um Teatro Colón lotado ovacionou, na sexta-feira (28), o concerto inaugural da primeira turnê internacional da Filarmônica de Minas Gerais. Criada há cinco anos em Belo Horizonte, e dirigida pelo maestro Fabio Mechetti, a filarmônica rapidamente se consolidou como a segunda melhor orquestra brasileira, atrás apenas da Osesp, cujo exemplo, em termos de organização e programação, vem sendo seguido pela agremiação mineira, embora com orçamento mais modesto (R$ 20 milhões, contra R$ 87 milhões da sinfônica paulista).

A apresentação da filarmônica em Buenos Aires fazia parte da prestigiosa série de concertos do Mozarteum Argentino, que leva a terras portenhas os grandes nomes da cena erudita internacional. Os ingressos estavam esgotados e, do lado de fora do teatro, cambistas eram capazes de querer até US$ 250 por entrada.

Paulista com atividades profissionais nos EUA (dirige a Sinfônica de Jacksonville, na Flórida, e foi regente associado do mítico Mstislav Rostropovich em Washington), Mechetti é antes um maestro sóbrio do que espalhafatoso, e tal característica se refletiu no programa, que ele dirigiu todo de cor (incluindo os dois bis, que foram o rondó das "Variações Concertantes" do argentino Alberto Ginastera e o prelúdio das "Bachianas Brasileiras n. 4", de Heitor Villa-Lobos).

Assim, a uma leitura comedida da abertura da ópera "Il Guarany", de Carlos Gomes, seguiu-se o ponto alto da noite: o concerto para violoncelo de Dvorák, tendo Antonio Meneses como solista.

Meneses já executou essa obra diversas vezes, com inúmeras orquestras brasileiras, mas é difícil que tenha soado tão refinada quanto no Teatro Colón. Mechetti, a orquestra e ele pareciam respirar juntos, e fizeram especialmente do segundo movimento um elevado momento de música de câmara.Muitos dos méritos, evidentemente, se devem à inacreditável acústica do Colón, sem paralelo no continente latino-americano. Na tradicional casa portenha, os músicos que estão no palco ouvem-se como se estivessem a tocar sozinhos, enquanto o público recebe as obras com elevado grau de nitidez. O som jamais "embola".

Para a segunda parte, Mechetti reservou a quarta sinfonia de Tchaikovski, executada de modo contido, e sem os excessos de sentimentalidade normalmente associados ao compositor russo. O resultado final, se não arrebatador, revelou-se sólido e consistente.

O mesmo programa será repetido nas próximas etapas da viagem: Montevidéu (dia 28), Córdoba (dia 30) e Rosário (dia 31).

Para o ano que vem, além de uma temporada de concertos incluindo convidados como Anna Vinnitskaya (piano), Daniel Müller-Schrott (violoncelo) e John Neschling (regente), fala-se em uma turnê para Chile, Colômbia, Peru e Equador, além da primeira gravação internacional para o selo Naxos.

Falta ainda uma sede própria para a orquestra, que atualmente se apresenta no Palácio das Artes. Diz-se que tal função será cumprida pela Estação de Cultura Presidente Itamar Franco, com inauguração prevista para 2014, e custo estimado em R$ 140 milhões. Se vier efetivamente a dispor da sua Sala São Paulo, daí a Filarmônica de Minas Gerais poderá seriamente reivindicar o posto de segunda Osesp do Brasil.

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