O cantor Pedro Mariano, filho de Elis Regina e César Camargo Mariano, está lançando seu quinto disco e começa, neste fim de semana, no Citbank Hall em São Paulo, a turnê de lançamento do trabalho que ele define como um recomeço, depois de dez anos do lançamento de seu álbum de estréia.

CARREGANDO :)

Para a nova fase, o intérprete optou por um retorno ao básico, com arranjos criados para o quarteto de instrumentistas que o acampanha tanto no disco quanto ao vivo, composto por Conrado Goys (violões e guitarras), Junior Vargas (bateria), Leandro Matsumoto (Baixo) e Marcelo Elias (teclados e direção musical), que dão às canções o que Pedro Mariano definiu como uma sonoridade limpa e objetiva.

- Quis fechar um ciclo, começar uma história nova, bem mais fácil de ser começada pela experiência e a bagagem que eu carrego. Um recomeço, uma nova fase de um artista em um novo momento da vida. Quis então voltar para a base, com um quarteto, sem muita enrolação. Quero a partir deste disco delinear o que vai acontecer daqui para a frente - disse Pedro Mariano.

Publicidade

Ele conta que sabia que seria músico desde os dois anos de idade. Recebeu seu primeiro cachê aos 14 anos, quando gravava jingles. Como influências, o intérprete ressalta a black music norte-americana, primeiro por causa dos pais e depois por predileção. Para ele, soul, funk, jazz, samba e choro têm tudo a ver e essa mistura já foi testada e aprovada por sua mãe, ela mesma, uma funkeira.

Apesar de cantar, trilhando o mesmo caminho profissional da mãe, do pai, o arrajador e pianista César Camargo Mariano, Pedro diz ter herdado 99% do que sabe.

- Foi com quem eu convivi minha vida inteira. Foi com ele que eu aprendi a ser músico e a ser artista. Tudo que eu aplico hoje na música tem a ver com meu pai. Minha mãe é uma referência muito forte para mim. Como todos eu a admiro. Meu pai diz que tenho muitas coisas de parecido com ela, mas não por causa da convivência. Talvez porque ele dizia que ela agia assim e eu me identifiquei. Mas meu pai é o vetor de tudo.

"Só Deus é quem sabe", a quinta faixa do disco "Pedro Mariano", é uma regravação de uma composição de Guilherme Arantes. A versão acabou virando uma homenagem a Elis Regina, que também gravou a mesma canção na década de 1980.

- Se eu colocar qualquer música que minha mãe tenha gravado tem sempre essa característica de homenagem. Eu gravei a música porque adoro e sempre quis gravá-la. Nesse caso deu certo porque a versão original foi criada para um quarteto. De todo modo, ela também acabou cumprindo o papel de homenagem, pois o disco está saindo em 2007, quando faz 25 anos da morte de minha mãe. Então, para não perder o hábito de em todas as datas comemorativas dela eu fazer uma menção, nessa eu fiz também. Minha vida coincide muito com as datas comemorativas dela.

Publicidade

O cantor diz de peito aberto que qualquer comparação entre ele e a mãe como intérpretes lhe será sempre desfavorável.

- Ela é o Pelé. É bem melhor que eu, é única, não tem nada parecido. É covardia comparar. O meu irmão (João Marcello Bôscoli) falou uma coisa, que por mais duro que possa ser, é verdade. Ela morreu no auge, só sobrou coisa boa. Não sobrou a queda, o envelhecimento do artista, quando todos se perdem.

Pedro Mariano tinha 5 para 6 anos quando Elis faleceu.

- Se tem uma frustração na minha vida é eu não ter tido o prazer de conviver e lembrar dela como mãe. Como artista é impossível não lembrar, ela é muito presente na minha vida. Mas a minha mãe, a dona Elis, eu não sei quem é. Sobre a cantora, Elis Regina, eu posso falar.

Há mais diferenças que semelhanças entre ele e a mãe.

Publicidade

- Para mim é sempre um prazer cantar qualquer música do repertório de minha mãe. Só não canto mais, porque não tem nada a ver. São momentos diferentes, artistas diferentes. A carreira da minha mãe foi brilhante, mas não necessariamente o repertório dela se encaixa perfeitamente no meu.

Pedro ressalta que o universo dos cantores é bem mais limitado que o das cantoras.

- O universo feminino é de uma complexidade que o homem pode passar 40 mil gerações na Terra e jamais chegar perto. A vida do homem é simplista, pode se resumir a um jogo de futebol. Então, o repertório de uma cantora permite muito mais coisas do que o repertório de um intérprete masculino. E isso não sou eu que estou dizendo, você pode observar qualquer carreira nacional ou internacional

Além da diferença de gênero há a diferença de época. Pedro Mariano queixa-se da crítica, que analisa o intérprete da atualidade com o olhar de 40 anos atrás.

- A época que minha mãe viveu era uma época de luta por igualdade. A situação política e social que o Brasil vivia era muito tensa, você tinha que ter muito pulso para ir lá e falar correndo o risco de ser preso no dia seguinte. Hoje em dia você pode falar o que quiser e nem por isso as pessoas falam. Os compositores são contemporâneos às suas épocas e os de hoje em dia são muito mais light que os da época da minha mãe. Por isso minha briga com alguns críticos. Eles analisam o intéprete de hoje como se estivessem ouvindo o intéprete de 40 anos atrás. Não dá. Tem que avaliar o cantor dentro do contexto dele.

Publicidade