O diretor brasileiro Francisco Garcia dedicou primeiro longa-metragem, "Cores", a falar sobre a "agonia" de sua geração, a de jovens na casa dos 30 para quem o crescimento econômico do Brasil não trouxe a oportunidade de um futuro melhor.
O filme, exibido na mostra Novos Diretores do 60º Festival de Cinema de San Sebastián, na Espanha, é também uma história de amizade "verdadeira", a de três jovens que vivem uma vida de desilusão e rotina.
Garcia (São Paulo, 1980) acredita que as pessoas de sua idade "têm uma angústia e um vazio muito grandes". "É uma geração pós-hippie, pós-punk, da desilusão dos anos 1990 e de um começo de século que não sabemos para onde vai", definiu, em entrevista à Agência Efe.
É um filme cheio de simbolismos, metáforas e antíteses, começando pelo título, "Cores", para uma história contada em preto e branco. "Essa é a ironia, porque o que falta na vida dessas pessoas é justamente a cor", conceitua o diretor.
A abundância de planos fixos foi a forma que o paulistano escolheu "para estabelecer a dilatação do tempo, certa lentidão" no dia a dia dos três protagonistas: Luiz, que trabalha em uma farmácia; sua namorada Luara, que sonha durante o trabalho em uma loja de animais com fazer uma longa viagem; e Luca, que montou um estúdio de tatuagem mas que sobrevive com o dinheiro que rouba de sua avó.
O tempo de Luca é como o da tartaruga que anda pelo pátio de sua avó, suspenso enquanto o progresso e o mundo que os rodeia é completamente alheio para eles.
"A situação econômica melhorou, mas nem todos estão contentes no Brasil, porque esse crescimento não se materializa em suas vidas. Quem tem mais continua tendo mais e quem tem pouco continua na m...", resume.
Muitas pessoas dessa faixa, que sem uma formação universitária e sem trabalho "têm muitas dificuldades para sobreviver".
O diretor comentou que quase todos os filmes falam "um pouco de política", mas que no entanto ele não critica o trabalho que fez para ativar o desenvolvimento econômico do ex-presidente Lula, em quem votou e com cujas imagens começa o filme, mas "uma forma de governar o mundo" que não fomenta a divisão da riqueza.
Garcia destaca a importância da relação de amizade dos protagonistas para sua obra, um vínculo à prova de contratempos, que o diretor descartou desde o início transformar em triângulo amoroso.
O estreante trata seus personagens com ternura, talvez porque se sinta identificado com cada uma deles, porque os três refletem de algum modo uma parte de sua vida.
"A ternura é a coisa mais importante para continuar vivendo. E entre eles há uma relação de amizade verdadeira", conclui.
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