De quando em quando, o cinema norte-americano produz um filme importante sobre jornalismo. Para ficar em apenas dois exemplos, os anos 70 tiveram Todos os Homens do Presidente, de Alan Pakula, em que Robert Redford e Dustin Hoffman reencenavam a apuração do escândalo de Watergate. Duas décadas depois, era a vez de Ron Howard mostrar o pulso de um tabloide nova-iorquino em O Jornal.
Agora, chega às telas dos Estados Unidos State of Play, "o estado das coisas, em tradução livre, que no Brasil se chamará Intrigas de Estado e tem estreia prevista para 12 de junho.
É um grande filme, mais na linha O Dossiê Pelicano (1993, do mesmo Pakula), no sentido de que a trama policial é o fio condutor, do que de Todos os Homens do Presidente, em que a discussão política costurava a narrativa. Mas é o tema incidental que tem chamado mais a atenção e levado jornalistas às lágrimas ao final dos 127 minutos de exibição: a importância institucional da imprensa escrita e a crise pela qual ela passa nos Estados Unidos, causada por um modelo de negócios que se provou equivocado e alimentada pela recessão econômica.
O argumento de State é de que sem repórteres com experiência e tempo para trabalhar numa história não há jornalismo digno do nome, e, sem esse, o sistema de freios e contrapesos que regula os poderes perde um componente vital.
O filme não rejeita o "novo mundo dos blogues, por exemplo, apenas sugere que a nova mídia tem a ganhar se incorporar a consistência da velha, em vez de simplesmente a negar ou torcer por sua extinção, como é o caso de nove em cada dez blogueiros. State faz isso ao reimaginar para os novos tempos a parceria Carl Bernstein-Bob Woodward, agora com um jornalista veterano (Russell Crowe) que é obrigado a se aliar a uma jovem blogueira (Rachel McAdams) para investigar uma história que envolve um político (Ben Affleck) e uma empresa de mercenários que lembra a Blackwater. Ambos trabalham para o mesmo jornal em crise, o fictício Washington Globe.
No final, ganham todos, a República, Hollywood e o jornalismo.
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