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O polêmico filme "Turistas" (veja trailer), em que seis jovens vêm passar férias no Brasil e acabam assaltados, drogados e vítimas de uma quadrilha de tráfico de órgãos, estréia nos Estados Unidos esta sexta-feira (1º) acompanhado de pesadas críticas dos principais jornais americanos. A principal delas é da bíblia do cinema, a "Variety", que compara a produção a "O albergue", horror produzido por Quentin Tarantino e passado na República Tcheca.

Assim como em "Turistas" (assim mesmo, com o título em português), "O albergue" mostra turistas torturados. "São parecidos não só pela trama mas também por incluírem xenofobia, exploração sexual, sadismo e muito sangue", escreveu Dennis Harvey na "Variety".

A crítica chama a atenção para a campanha de marketing pesada do filme. Com um custo baixo para os padrões hollywoodianos (US$ 10 milhões), o orçamento publicitário foi três vezes maior. O que poderá refletir em uma boa bilheteria. A produção independente é da 2929 Entretenimento e os direitos de distribuição nos EUA foram comprados pela Fox Atomic, braço dos estúdios Fox voltado para o público jovem.

Ainda segundo a "Variety", o filme dirigido por John Stockwell (de "Uma onda perfeita 2" e "Blue crush") é "mais desagradável do que assustador, e tem um detestável americano como protagonista (Josh Duhamel)". No entanto, a resenha defende o povo americano e chama os viajantes "mochileiros" (como são conhecidos os turistas aventureiros e com pouco dinheiro) de burros. "Pelo menos metade deles são", afirma o jornalista. E pede aos espectadores estrangeiros não terem raiva e ficarem com má impressão dos americanos depois de assistirem ao filme.

As críticas destacam alguns absurdos, como o ônibus em que os turistas viajam pelo litoral do Brasil ("algum lugar entre São Paulo e Rio de Janeiro" - na verdade, as filmagens foram em Ubatuba e cidades próximas). Trata-se de um modelo de transporte ultrapassado, impossível de algum viajante encarar em qualquer lugar do mundo. Para completar, os gringos contratam um motorista louco, que acaba entrando numa discussão com um americano mais alterado, perde o controle do veículo e quase cai numa ribanceira. Com o ônibus quebrado, eles resolvem descer até a praia mais próxima e passar a noite no lugar. Ficam amigos de um australiano com português fluente e um finlandês e aproveitam o cenário paradisíaco.

Primeiro vem a diversão, com piadas sobre nudismo no Brasil. "Será que posso tirar a parte de cima do biquíni?", pergunta a gringa. "Claro! Estamos no país do topless!", responde um desavisado. À noite, eles caem numa festa regada a mambo no lugar de samba e muita caiprinha. Só que envenenada.

Acordam na manhã seguinte à beira do mar e descobrem que roupas, passaportes e dinheiro foram roubados. Brigam com os moradores do lugarejo e um novo amigo chamado Kiko resolve ajudá-los deixando-os passar a noite numa casa no meio da mata.

Naturalmente a casa é isolada e o caminho até ela é longo. Eles param para mergulhar nas lindas cachoeiras do lugar. "Os fãs de horror podem se sentir enganados durante as cenas nas cavernas subaquáticas, com longas e ociosas cenas dos turistas nadando sem nenhum suspense", diz o crítico da "Variety", completando que este momento mais parece "Mergulho radical ("Into the blue") do que "O albergue".

Quando os gringos chegam no abrigo, encontram passaportes de vários turistas, instrumentos cirúrgicos e muitas câmeras. Então, o sinistro doutor Zamora chega de helicóptero e eles descobrem que ali funciona um comércio ilegal de órgãos.

A resenha destaca as piadas equivocadas do roteiro e diz que o resultado é um "filme bobo para ser esquecido". "Se 'O albergue' se dintingüe pela delicadeza, 'Turistas' passa uma idéia tão ofensiva quanto qualquer piadinha de mau gosto".

São descritas outras cenas bizarras do filme. Como a do médico brasileiro explicando que tira órgãos dos "ianques" para doá-los a um hospital do Rio, "como uma maneira de lutar contra o imperialismo do Primeiro Mundo". O crítico zomba: "Os agradecimentos por essa ironia sem sentido podem ir para o roteirista Michael Arlen Ross".

Outra cena com o médico brasileiro (vivido por Miguel Lunardi) é lamentável. Em um determinado momento, ele grita com os gringos aprisionados e se dirige a um deles com um tom de pele mais escuro: "Seu índio estúpido, faça o que eu digo. Agora você é meu".

"Sem dúvida o Brasil se divertirá com esse retrato muito mais que o povo da República Tcheca o fez com 'O albergue', diz o jornalista da "Variety" nem se importanto com a maneira ofensiva que os brasileiros são retratados.

Como em muitas críticas, o cenário e a fotografia são elogiados. "Mas, tecnicamente, 'Turistas' lembra produção de filme de horror B", completa Dennis Harvey.

Veja o que dizem outras críticas americanas:

"New York Times": Se a estupidez fosse crime, esses estúpidos do horror barato levariam chicotadas por um bom tempo em Attica (famosa prisão americana instalada em Nova York).

"Entertainment Weekly": Você acreditaria se eu dissesse que o terrível assassino de "Turistas" é a pessoas mais humana, responsável e de caráter do filme?

"Atlanta Journal-Constitution": Junte num filme turistas irritados e medrosos, a violenta América do Sul como cenário, jovens sedentos por sexo com muito horror. Isso não é só entretenimento, mas um produto pronto para entrega na sua casa.

"Chicago Tribune": Estou com medo. Ficarei muito tempo sem abrir uma gaveta de escrivaninha durante minha vida.

"Hollywood Reporter": Tudo começa a desmoronar até o meio do caminho. Mas antes de tudo há um completo emaranhado, com roteiro confuso e obscuro.

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