Brutal: Katyn reconstitui, nos minutos finais, o massacre dos 14 mil poloneses prisioneiros de guerra pelos comunistas| Foto: Divulgação

São Paulo - O nome de Andrzej Wajda virou sinônimo de cinema político. Foi isso que a atriz Jane Fonda disse ao lhe entregar o Oscar honorário em 2000. Ela se curvou diante de Wajda e o chamou de "Sr. Política".

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A política realmente dá o tom das obras de Wajda, hoje com 50 anos de carreira, que marcaram o cinema polonês e mundial. A provocação volta com Katyn, em cartaz em Curitiba a partir desta sexta-feira.

Em entrevistas, o diretor contou como foi obcecado, durante anos, por contar a história sinistra do massacre de oficiais do Exército polonês, atribuído aos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, mas, na verdade, cometido pelos comunistas que já estavam preparando o caminho para a tomada do poder, após a guerra.

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Katyn retira seu título da floresta da Rússia em que o crime foi perpetrado, em 1940. Durante décadas, o assunto foi tabu na Polônia. Somente depois de 1990, quando Mikhail Gorbachev se desculpou oficialmente, os poloneses puderam questionar abertamente o que havia ocorrido com suas lideranças.

O filme começa com o Pacto Molotov-Ribbentrop, entre alemães e russos, que na guerra viriam a se tornar adversários. O jovem oficial Andrzej não atende aos pedidos da mulher e, no caos reinante – os poloneses ficam presos numa ponte, acossados pelos alemães numa ponta e pelos soviéticos na outra –, permanece ao lado dos companheiros de Exército, classificados como prisioneiros de guerra.

Alguns personagens são reais – a mulher do general Smorawinski, o professor da Universidade de Cracóvia e sua esposa, mas a maioria é formada por uma combinação de figuras reais e fictícias, como o major russo Popov, cujo nome e passado são autênticos, mas sua participação na trama é uma especulação.

Redirecionado

Stalinistas de carteirinha poderão reclamar do formato tradicional, que transforma Katyn num filme de guerra em que o holocausto é redirecionado – os alemães são substituídos por comunistas e os judeus, por católicos poloneses.

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Para enfatizar a estrutura "clássica" do seu relato, Wajda reserva para o desfecho a reconstituição do massacre dos 14 mil poloneses prisioneiros de guerra, entre oficiais e civis, executados pela NKVD, a polícia política soviética. É brutal.

Wajda, pintor, homem de teatro e cinema, queria terminar Katyn sob o signo dessa gravidade. "É o filme sobre a morte de uma nação, ou pelo menos dos sonhos de toda uma geração, que repercutiu pelas gerações seguintes", disse.

História real

O massacre foi descoberto em 1943, as autoridades o atribuíram aos nazistas e o jornal Pravda chegou a sugerir que era uma limpeza de arquivo – os mortos seriam poloneses que colaboravam com o Exército invasor de Adolf Hitler.

Em 1952, uma comissão do Congresso dos Estados Unidos investigou o assunto e apontou para a responsabilidade da União Soviética. Moscou reagiu acusando os norte-americanos e dizendo que era manobra da Guerra Fria.

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Nos quase 40 anos seguintes, as tentativas de estabelecer os fatos esbarravam na censura oficial e até na repressão. Em 1990, Mikhail Gorbachev admitiu o crime e pediu, oficialmente, desculpas ao povo polonês.