Quando "Som e Fúria" passava na Globo, a imprensa assinalou a baixa audiência - 19 pontos -, esquecendo-se do horário e da sofisticação da minissérie assinada por Fernando Meirelles. A própria Globo, avaliando o prestígio que lhe deu "Som e Fúria", anunciou nova temporada. Enquanto ela não chega, o público pode ver o filme que um dos diretores, Tonico Mello, tirou da minissérie. Ela tem vida própria.
Você deve se lembrar que "Cidade de Deus" virou minissérie - "Cidade dos Homens" - e retornou ao cinema, por meio de um roteiro especial. E houve o caso de "O Auto da Compadecida", de Guel Arraes, (micros)série que foi editada para o cinema. Tonico Mello interrompeu o próprio longa - "Os Vips" - para reeditar "Som e Fúria". É verdade que foi ele, a partir de uma conversa com Wagner Moura, quem teve a intuição de que havia um filme ali dentro.
Foram necessários ajustes - e a refilmagem de uma cena - para garantir a nova unidade. A minissérie baseia-se numa similar canadense, que Meirelles, seus roteiristas e codiretores transpuseram para o Brasil. O filme privilegia a história de Jacques (Daniel de Oliveira), o astro de TV contratado para fazer o príncipe da Dinamarca, numa montagem de Hamlet dirigida pelo talentoso Dante (Felipe Camargo), que, no passado, pirou justamente durante outra versão da peça com o dilema "ser ou não ser".
Celebração do teatro - na TV e, agora, no cinema -, "Som e Fúria" incorpora outros textos e personagens de Shakespeare. Jacques tira a dúvida do palco e a experimenta na vida. As cenas em que Dante o orienta nos seis solilóquios da peça são belas, Andréa Beltrão é divina como diva, mas Dan Stulbach sintetiza o filme ao dizer que algo se passou naquela noite, naquele teatro.
Som e Fúria - 104 min. Comédia. Com Felipe Camargo, Andréa Beltrão, Pedro Paulo Rangel. HSBC Belas Artes 15h30, 17h30, 19h30, 21h30