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Mutarelli: no documentário, faz depoimento sobre o desenhista Flávio Colin | Arquivo/Gazeta do Povo/Théo Marques
Mutarelli: no documentário, faz depoimento sobre o desenhista Flávio Colin| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo/Théo Marques

Costumam dizer que o Brasil é um país sem história, que não cuida dos seus, não preserva sua memória. Mas, em se tratando de histórias em quadrinhos, pode-se dizer que os irmãos Eduardo e João Calvet, da produtora Ideograph, fazem a sua parte em Quadrinhos, série semanal de cinco documentários que o Canal Brasil começa a exibir amanhã, às 21 horas.

São episódios de aproximadamente meia hora em que autoridades do gênero, artistas ou estudiosos, analisam a produção brasileira de quadrinhos desde seu surgimento, em fins do século 19, com a publicação de Nhô-Quim ou Impressões de uma Viagem à Corte pelo ítalo-brasileiro Angelo Agostini.

Especialistas como Waldomiro Vergueiro, Patati, Moacy Cirne, Álvaro de Moya, Heitor Pitombo e Sidney Gusman conversam com a câmera em bate-papos que destacam a importância da HQ nacional. Como é o caso do gênero terror, tema do segundo episódio.

Com a censura imposta aos quadrinhos norte-americanos nos anos 1950 devido à criação de um código de ética, a demanda pelo gênero no Brasil alavancou o surgimento de vários novos desenhistas como Flavio Colin, Nico Rosso, Rodolfo Zalla, Júlio Shimamoto e Eugênio Colonnese.

"A censura nos EUA foi excelente para o Brasil. Graças a ela, surgiram vários autores para cumprir a falta de material americano", diz João Calvet, idealizador da série de tevê e conhecido dos fãs de quadrinhos como organizador da feira Comicmania, que teve 12 edições e acontecia no Castelinho do Flamengo, no Rio de Janeiro. Um evento que fez tanto sucesso em meados dos anos 90, que acabaria virando programa com o mesmo nome, no canal CNT.

O Comicmania da tevê era produzido realmente no quarto em que Calvet morava, no Rio, diferentemente do 15 Minutos, da MTV, com Marcelo Adnet, que reproduz algo despojadamente parecido, só que em estúdio. Depois de produzir um documentário sobre o cineasta Ivan Cardoso para o Canal Brasil, João Calvet, que tem 38 anos e mora há dez em Nova Iorque, sugeriu a série Quadrinhos.

"Eles gostaram da idéia, mas disseram que o plano inicial, de dez episódios, teria que ser reduzida à metade", explica. Ele já está fazendo um novo programa para o canal, sobre Nuno Leal Maia, previsto para estrear em setembro. "A partir daí, fiz uma lista de pessoas básicas. A cooperação em São Paulo, por exemplo, foi total. Mauricio de Sousa gostou tanto do projeto que sugeriu fazermos outro documentário sobre o seu estúdio."

De São Paulo, além do pai da turma da Mônica, que aparece em seu estúdio e em imagem de arquivo ao lado de Pelé (dando entrevista a um jovem Lucas Mendes sobre o personagem Pelezinho), aparecem na série de documentários gente como Angeli e Lourenço Mutarelli, que, aliás, abandonou por horas os quadrinhos para dedicar-se à literatura e dá um belo depoimento sobre Flávio Colin, um dos melhores desenhistas brasileiros, dono de um traço único e falecido há seis anos: "O Colin me impressionava mais pela particularidade do traço. Ele tinha um traço diferente de tudo o que eu conhecia, muito próprio. Era um desenho muito simples, quase infantil. E, ao mesmo tempo, ele era perturbador, tinha algo de medieval naquelas figuras".

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