Você tem um filme novo a lançar? Prepare-se: alguém, em algum lugar, está apenas esperando para fazer um protesto.
Nos últimos meses, grupos hindus protestaram contra "O Guru do Amor", e defensores dos deficientes mentais fizeram objeções à maneira como a palavra "retardado" é usada em "Trovão Tropical".
Na semana passada, uma filial em Los Angeles do Conselho de Relações Americano-Islâmicas pediu a Warner Bros para mudar o título de seu filme ainda inédito "Towelhead" (o título significa "turbante", mas é um termo pejorativo usado como sinônimo de "muçulmano").
Como que para deixar claro até que ponto as sensibilidades estão aguçadas, o roteirista Mike Scott, escrevendo na quinta-feira no jornal Times-Picayune de Nova Orleans, criticou o lançamento de "Disaster Movie" no terceiro aniversário da passagem do furacão Katrina.
Embora o filme satírico não faça humor envolvendo furacões, Scott considerou "totalmente insensível" a escolha da data de estréia do filme.
De qualquer maneira, Nova Orleans tinha algo bem mais concreto com que se preocupar, com a aproximação de um desastre potencial real, o furacão Gustav. E a maior parte do público não prestou muita atenção a "Disaster Movie" (que no Brasil terá o título "Super-heróis e a Liga da Injustiça") de qualquer maneira: o filme estreou na sétima posição das bilheterias, vendendo apenas 6,9 milhões de dólares em ingressos em seus primeiros quatro dias em cartaz.
Mas o cinema ainda ocupa espaço grande no debate público. O simples fato de um filme tratar de um tema em particular é capaz de desencadear uma discussão. E, a partir do momento em que um grupo começa a protestar, a mídia se apressa a cobrir a "controvérsia", que, no mínimo, dará às emissoras a oportunidade de transmitir um clipe de filme para animar seus jornais.
Muitos na mídia acham que Hollywood, na verdade, aprecia essas polêmicas, segundo o raciocínio "falem mal, mas falem de mim". Mas Hollywood, que prefere controlar as mensagens que cria para promover seus filmes, geralmente preferiria que os protestos desaparecessem sem alarde.
Quanto aos grupos que protestam, eles às vezes saem com a imagem arranhada.
Foi o caso, por exemplo, dos grupos hindus que se ofenderam com o decididamente tolo "Guru do Amor": a impressão que ficou é que não tinham senso de humor. E sua causa não foi beneficiada quando Deepak Chopra -- amigo de Mike Myers que faz uma ponta no filme -- manifestou-se em defesa do filme, afirmando que o comediante tem "compreensão profunda da sabedoria, das tradições e da espiritualidade orientais".
"Trovão Tropical" foi um caso diferente. O filme, uma sátira do processo de fazer cinema, não zomba dos deficientes mentais - exceto se eles próprios forem atores.
Apesar de achar que o uso do termo "retardado" no filme foi inaceitável, a primeira-dama da Califórnia, Maria Shriver, escrevendo no Los Angeles Times, foi quem fez mais sentido quando, em lugar de simplesmente criticar o filme, aconselhou os pais a conversar com seus filhos sobre o emprego de palavras pejorativas. Em lugar de fazer controvérsia apenas, ela sugeriu que o filme fosse aproveitado como "momento de ensino."