O cineasta paranaense Beto Carminatti exibe hoje, a partir das 20h30, na Cinemateca de Curitiba, cópias inéditas restauradas de cinco filmes que o diretor realizou nas décadas de 80 e 90. A recuperação do acervo, custeada por meio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, foi idealizada por Cristiane Lemos, produtora, fotógrafa, designer, e, também, mulher de Carminatti. A sessão de hoje, com a presença do diretor, é a oportunidade ideal para quem quer conhecer a produção de um dos expoentes da chamada "Geração Cinemateca".
Nascido em Santa Catarina, Carminatti mudou-se para Curitiba em 1974. Logo começou a freqüentar os cursos de cinema organizados na Cinemateca do Museu Guido Viaro. O primeiro filme, Dellirium Dreams, tornou-se possível graças a uma dica de Fernando Severo, cineasta contemporâneo de Carminatti. "Ele um dia me ligou e disse que havia alguns rolos de filme Super 8 com validade quase vencida", relembra Carminatti. Se não fosse usada logo, a película se tornaria inutilizável.
O principiante aproveitou a brecha, pegou os rolos, e montou um filme, colhendo depoimentos de pessoas próximas. Inquiriu os personagens escolhidos com duas perguntas: "O que você quer ser?" e "O que você acha que seu filho vai ser?". O filme mostrou a visão de mundo de alguns curitibanos no final dos anos 70.
Hoje, o diretor vê o trabalho como um ponto seminal de sua filmografia. "Foi onde eu encontrei o meu tema. Morava no Portão e as pessoas que faziam parte do meu documentário eram do meu convívio. Eu não olhava para elas como alguém que está observando o outro de maneira racional", comenta. "Várias pessoas que fazem hoje parte do meu universo cinematográfico, tiveram o seu princípio ativo no Dellirium Dreams. Todas as coisas que fui fazendo depois foram o desdobramento desse princípio", acrescenta.
A mostra inclui algumas consequências desse desdobramento. É o caso de Serpente Negra, documentário de 1985, que, ao falar de grafites nas prisões curitibanas, mergulha no drama social dos encarcerados. "Não busquei ver o drama social do ponto de vista ideológico. A condição social acabou aparecendo através do que os presos estiveram me contando, como, por exemplo, os sonhos que tinham dentro da prisão", explica o cineasta.
No final dos anos 80 e início dos anos 90, o cineasta envolveu-se com o grupo de teatro Lusco Fusco de Curitiba, dirigido por Luis Carlos Teixeira, que resultou em duas obras de videoarte, O Marinheiro e Büchner. A primeira tem como tema vida e obra do poeta português Fernando Pessoa. A segunda é inspirada no texto do dramaturgo Wolfram Meehring, sobre vida e obra do escritor Georg Büchner. Na leva, também foi recuperado o filme Welcome to Paradise, "misto de documentário e videoclipe" que mostra como os meios de comunicação de massa transformam qualquer tema "em circo eletrônico".
Carminatti, que lançou este mês o curta o Mistério da Japonesa, a partir da obra de Valêncio Xavier, cogita reunir a produção mais recente em um longa sobre homens solitários, agregando O Mistério da Japonesa, Eternamente, e Terra Incógnita, entre outros títulos.
Serviço: Retrospectiva de filmes de Beto Carminatti. Cinemateca de Curitiba (R. Carlos Cavalcanti, 1.174 ), (41) 3321-3252. Hoje, às 20 horas. Entrada franca. Internet: www.betocarminatti.hpg.ig.com.br
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