Com 43 anos de existência, o Festival Internacional de Londrina (Filo) traz ao público da cidade paranaense uma variedade grande de espetáculos e companhias, que vão desde grupos locais recém-formados até outros já reconhecidos no Brasil e no mundo, como os mineiros do Espanca! e o Mestre do Butô, dança fúnebre-expressionista japonesa, de Kazuo Ohno, que esteve no evento em 1992. O fato de ele ocorrer de maneira consecutiva, sem falhas, fez com que uma tradição de teatro e um público qualificado se formasse em Londrina.
Idealizado em 1968 de maneira independente por estudantes inquietos, que tiveram de driblar as limitações da ditadura militar, o festival foi evoluindo aos poucos, assumindo o teatro como principal manifestação cultural do evento, em uma cidade ainda com pouco tempo de fundação. Em meio a tantas manifestações que ocorriam no país durante aquele ano, quem diria que aquela sobreviveria? Não só sobreviveu como se tornou um dos mais importantes polos teatrais no país.
"Na época alguns estudantes começaram a pensar em um evento que tivesse música, artes plásticas e teatro. Eu morava em Arapongas (município próximo a Londrina), mas acabei me envolvendo. Ficamos três anos independentes, fazendo tudo por conta própria", diz uma das criadoras, Nitis Jacon. Os anos se passaram e o festival foi abraçado pela Universidade Estadual de Londrina (UEL), em 1972, até chegar ao patamar de internacional, em 1988. Hoje, o Filo é um grande evento, que tem orçamento de R$ 2 milhões e contribui para movimentar, além do público, o turismo e o comércio da cidade.
A trajetória para a consolidação do festival foi longa, e é justamente por isso que o evento conseguiu cativar plateias, acredita o atual presidente, Luiz Bertipaglia. "A evolução do Filo é interessante, porque ele surgiu como algo isolado e somente depois passou a diversificar as atrações e trazer grupos estrangeiros. Foi um processo que se consolidou aos poucos."
Outro segredo, tanto para angariar mais público quanto para manutenção do que já existe, é oferecer ao espectador uma programação plural, com espetáculos infantis e de humor, por exemplo, além dos gratuitos e os de rua. Os dois últimos, diz Bertipaglia, ajudam a captar quem não é um consumidor de teatro habitual e que não pagaria por um ingresso. "Com essa tática, fisgamos o transeunte, aquele que passou desinteressado e parou para ver o espetáculo, nem que seja por poucos minutos". Na última edição, em junho deste ano, o público foi mais de 100 mil pessoas, considerável para uma cidade cuja população é de aproximadamente 600 mil.
Nos bairros
Promover apresentações em bairros mais afastados e em cidades da região é também uma maneira encontrada pelo Filo para formar e aumentar o público. "O teatro não é um produto dos mais acessíveis. Para angariar plateia, tem de se saber exatamente o que pretende, e também quem se quer atingir. E isso é essencial no Brasil, já que temos demanda para diversos tipos de espetáculo", diz o presidente, que também crê ser essa a grande falha dos produtores, o que acaba afastando interessados.