Filosofia para o dia a dia

Michael Sandel começa o seu curso em Harvard fazendo algumas perguntas curiosas a seus alunos. Por exemplo: um trem está sem freios e tem duas alternativas. Se seguir pelo trilho atual, matará cinco pessoas. Se trocar para outra rota, matará apenas uma. É justo trocar de rota? Quando todos os alunos respondem, ele complica um pouco mais a pergunta. E se você está olhando a situação de cima de um viaduto, ao lado de um sujeito. Não há desvio possível, mas você pode empurrar o sujeito ao seu lado e isso pararia o trem. Seriam, de novo, cinco mortes ou uma...

Claro que se trata de uma brincadeira. Mas a ideia é que os alunos comecem a pensar sobre qual é a coisa certa a se fazer em cada circunstância. Com o tempo, as perguntas ficam cada vez mais complicadas. Imagine que o governo norte-americano consegue prender um terrorista no dia 10 de setembro de 2001. Sabe-se que ele faz parte de uma conspiração que levará a algo terrível, mas ele se recusa a denunciar a trama. É justo torturá-lo?

Fazendo perguntas como essas, Sandel se transformou no mais popular intelectual de Harvard. O curso que ele ministra sobre justiça atrai mais de mil alunos por semestre. Foi preciso destinar o maior auditório da universidade a ele. Filmado, o curso foi colocado on-line. Uma emissora de tevê japonesa, a NHK, comprou os direitos e o exibiu. O resultado é que agora, quando Sandel vai ao Japão, é tratado como celebridade.

Embora seja "pop", Sandel trabalha com questões difíceis, que há séculos a humanidade tenta responder. Basicamente, quer saber sobre moral e política. O que devemos fazer, afinal de contas. Quais são os limites da ética? O que no mundo atual está errado? O interesse, segundo ele próprio, é usar a abstração da filosofia para responder às questões com que todos nós nos confrontamos no dia a dia.

Nesta semana, Sandel esteve pela primeira vez no Brasil. A convite de uma empresa, percorreu três capitais (São Paulo, Fortaleza e Brasília) para falar sobre seu novo livro: O Que o Dinheiro Não Pode Comprar?. Nele, o autor discute os limites do mercado e como devemos lidar com o fato de nossa cultura estar cada vez mais voltada para as finanças. Antes de embarcar para o país, Sandel concedeu uma entrevista à Gazeta do Povo por telefone. O resultado você confere aqui.