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Tim Maia Racional – Vol. 1, um dos discos mais cultuados da música brasileira, está chegando ao formato CD este mês. O cantor, que morreu em 1998, era contra a reedição da obra, que retrata uma fase de sua vida que não gostava de lembrar. A família do artista, detentora dos direitos do álbum, negociou por anos com gravadoras e fechou com a Trama, que está lançando o CD. A empresa informa que não há nada acertado ou previsto para o lançamento do também cultuado Tim Maia Racional Vol. 2.

Em 1975, em uma fase de grande sucesso na carreira, Tim Maia jogou tudo para o alto para entrar em uma seita criada pelo místico Manoel Jacinto Coelho (1903 – 1991). O cantor abraçou a chamada Cultura Racional, que tinha uma explicação extraterrestre para a origem da humanidade, descrita no livro Universo em Desencanto.

Tim passou a vestir roupas brancas, abandonou todos os vícios e foi viver com a Comunidade Racional juntamente com sua banda, a Vitória Régia. Desse "confinamento", surgiram os dois discos clássicos. Lançados pelo selo próprio Seroma (de Sebastião Rodrigues Maia), os álbuns traziam um Tim no auge da voz, apresentando um som que misturava black music (soul e funk), MPB e muita psicodelia.

"O Tim já tinha as bases prontas para um disco que iria lançar pela RCA. Ele só trocou as letras, fazendo referências ao livro Universo em Desencanto e à Cultura Racional", revela Serginho Trombone, um dos músicos que acompanhou a viagem do cantor – assim como Paulinho Guitarra, Paulinho Trompete, o tecladista Robson Jorge, o baixista Beto Cajueiro, Oberdan Magalhães (sax e flauta, que mais tarde fundaria a Banda Black Rio) e os bateristas Robério Rafael e Luiz Carlos Batera.

"Ficávamos o tempo inteiro tocando, de manhã, de tarde e de noite", comenta Serginho, que lembra que todos aceitaram normalmente a conversão para a seita. "Achávamos legal aquele estilo de viver em comunidade, todo mundo junto. E também aquela história de onde vinha a nossa existência", diz.

O músico diz que Tim Maia se desencantou com a seita principalmente pela forma como o dinheiro era utilizado pelos dirigentes dos grupo. "Ele dava tudo o que tinha para os caras. Não gostava de lembrar disso e por isso renegava os discos", explica. O trombonista não ouviu o CD remasterizado e não acredita muito na história de que o cantor teria aprovado a reedição antes de morrer. "Se ele fosse reeditar, acho que teria mudado todas as letras, só usado as bases, como fez da primeira vez", opina.

O veto de Tim Maia e a demora para a conversão ao CD tornaram os poucos vinis prensados ainda mais valorizados – dependendo do bom estado de conservação, podem custar até R$ 500 cada. Há alguns anos, uma versão pirata em CD com os dois álbuns foi lançada no mercado (parecia oficial de tão caprichada). Mas agora o público em geral vai poder conferir um dos grandes momentos da música brasileira – apesar das letras viajantes (e sem muito sentido atualmente), o som não ficou datado e continua caindo muito bem aos ouvidos de quem aprecia a boa black music. GGGGG

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