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Na quarta-feira passada, o cineasta Marcos Jorge estava conduzindo as gravações de uma das cenas mais complicadas do filme Estômago. O objetivo do trabalho, reunindo dezenas de profissionais, é fazer com que o espectador não suspeite do mundo falso, construído pela experiência do cinema. A cena em questão era um diálogo envolvendo meia-dúzia de personagens sentados à frente de uma grande mesa.

O que no filme será uma conversa fluida, deu um trabalho considerável a Jorge e sua equipe, que tiveram que se preocupar com a disposição dos planos, quebras de eixo e a postura dos atores. Tudo temperado pelo cheiro de cebolas, abobrinhas, pimentões, queijos, uvas, esqueletos de peixes e dois suínos que decoravam a locação, uma sala do Presídio Provisório do Ahú.

Difícil foi o trabalho do ator carioca Babu Santana. Além de engordar 12 quilos para o papel de um comilão, teve de encher o estômago a cada novo take. A cabeça do leitão na mesa, decorada com a maçã na boca, parecia dar risada. Paradoxal foi o elenco e a produção tapeando o estômago com sanduíches feitos de pão de forma na hora da janta. O set de filmagem não é comestível, afinal de contas. Ali a comida era um personagem, ou quase.

Cerca de 40 receitas serão utilizadas até a conclusão das filmagens. O cardápio incorpora a culinária italiana (molhos alho e óleo e carbonara) e brasileira (feijoada, galinha pururuca). O diretor Marcos Jorge até inventou uma das receitas, a sobremesa Anita Garibaldi, que leva gorgonzola, goiabada e mel. "É um Romeu e Julieta incrementado, uma fusão de Brasil e Itália", conta. Daí o nome emprestado da heroína revolucionária. A receita foi bolada de improviso, quando Marcos recebeu um amigo em sua casa, na época em que escrevia o roteiro.

O pretexto para toda a comilança é a trajetória de Raimundo Nonato. O personagem principal, interpretado por João Miguel (Cinema, Aspirinas e Urubus), é um forasteiro que vem para a cidade grande munido apenas de uma humilde maleta. Mais por necessidade que pelo livre-arbítrio, Raimundo descobre seu talento para culinária, que será sua moeda de troca para a sobrevivência, dentro e fora da prisão.

Marcos Jorge conta que a melhor maneira de resolver o enredo era estruturá-lo de maneira não-linear. O filme mescla películas de 35mm e Super 16 buscando o que o diretor descreve como "uma linguagem simples". Foi dada liberdade ao trabalho dos atores no que tange à marcação das cenas e diálogos. "O roteiro evoluiu significativamente a partir dos ensaios desenvolvidos com o elenco", afirma Marcos. Também participam os atores Fa-biula Nascimento, Carlo Briani, Zeca Cenovicz e o titã Paulo Miklos, entre outros.

Na semana passada, a equipe gravou diversas cenas em bares e restaurantes de Curitiba. "Tive-mos uma acolhida muito grande da cidade, da prefeitura, do governo do estad e da população, o que garantiu ótimas locações. O resultado vai ficar excelente para uma produção desse porte", diz o diretor. O filme venceu mais de 300 projetos para ganhar as verbas do Edital de Filmes de Baixo Orçamento do Ministério da Cultura.

As filmagens em Curitiba serão concluídas até o dia 6 de novembro. Depois, a produção segue para São Paulo para fina-lizar o trabalho antes do início de dezembro. O lançamento deverá ocorrer em 2007.

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