Trajetória
Conheça mais da carreira do autor, ator e diretor paulista Flávio de Souza
O começo
Flávio estreou aos 16 anos, como o mais novo integrante de um grupo teatral dirigido por Naum Alves de Souza, o Pód Minoga. Era colega de uma futura celebridade: Carlos Moreno, que viria a se tornar o "garoto"-propaganda mais famoso do país. Folias Bíblicas foi a primeira peça que estrearam em um teatro, fora do galpão onde ensaiavam, em 1977. Dois anos depois, o grupo acabava. Naum seguiu seu próprio caminho rumo ao Suburbano Coração (de 1984) e Moreno foi estudar nos Estados Unidos.
Quem foi criança nos anos 80 provavelmente gastou horas na frente da tevê vendo os programas criados por Flávio de Souza. Catavento foi o primeiro a estrear na Cultura, em 86. Logo depois, fez Rá-tim-bum e o Castelo Rá-tim-bum. E ainda O Mundo da Lua, do garoto Lucas Silva e Silva.
O universo infantil foi o primeiro a acolher o dramaturgo e diretor paulista. Nos palcos, porém, a maior parte do trabalho feito por Flávio de Souza em três décadas de carreira mira o público adulto. É o caso de Flashback (confira o serviço), a comédia policial que o tem mantido em Curitiba ao longo do último mês.
Souza nem viu passar o Festival de Curitiba, atolado nos ensaios da peça que estreará hoje, no Guairinha. Volta a trabalhar com teatro depois de seis anos de afastamento, por convite de um produtor curitibano amigo seu, Jewan Antunes, e aproveitou a oportunidade para tirar da gaveta um texto escrito no fim dos anos 80, ainda inédito.
Flashback deve muito a Agatha Cristie e aos outros autores de romances policiais que o dramaturgo lê às centenas seu predileto é o belga Georges Simenon (1903-1989). Mas a ambientação na Inglaterra das famílias abastadas, que residem não em Londres, mas em casas de campo nos arredores, trai a inspiração direta nas tramas da rainha do crime e autora de O Assassinato de Roger Ackroyd.
O tom da peça cai mais para a comédia, ainda que o final seja "bem policial e até dramático", como diz o diretor. Um assassinato, vários suspeitos. Pistas verdadeiras e falsas, viradas nas investigações e um fim (espera-se) surpreendente são os elementos que ele juntou, seguindo a boa e velha fórmula do crime.
Em Flashback, o fio da história passa pela narrativa feita por um mordomo a um investigador. A partir do que ele conta, se materializam cenas do que teria sucedido a uma rica mulher, morta enquanto escrevia sua biografia potencialmente comprometedora. "Seria mais fácil fazer no cinema. Mas como sou teimoso, estou fazendo no teatro", diz Flávio. O elenco como qual trabalha é todo curitibano: vieram atores chamados pela produção e o "teste" por que passaram se resumiu a conferir se tinham a cara do personagem.
Longo intervalo
Os seis anos que Souza passou longe do teatro foram revertidos em horas de trabalho para a tevê, o cinema e a literatura infantis. Répétition, de 2004, havia sido sua última peça. Ele a escreveu e dirigiu, atuando ao lado da atriz Xuxa Lopes numa segunda versão da montagem, que originalmente estreou em 1994 e veio à Ópera de Arame pela Mostra Contemporânea do Festival de Curitiba.
Em um ano e meio, Flávio redigiu nada menos de 13 livros para crianças. Desde os volumes magrinhos, de 15 páginas, àqueles de uma centena delas. Apenas um era tradução: Peter Pan, vertido para o português mantendo a estrutura autêntica bem mais volumosa do que a maioria das adaptações conhecidas , sai este ano pela editora FTD.
Também gastou dias trancado em casa, escrevendo para o TV Xuxa. Afinal, alguns infantes dos anos 2000 igualmente cresceram ouvindo palavras suas, mas saídas da boca da apresentadora loira. "Eu era responsável por cada palavra que ela falava, era um trabalho insano. Ia a todas as gravações. Tudo o que não estava de acordo, mudava na hora. Fui aprendendo o jeito dela falar: é bem simples, direto, com um pouco de gíria", lembra. "mas o simples é muito difícil de fazer. Escrever complicado é fácil."
Souza só abandonou a função quando o programa, de início uma ficção, migrou de vez para o formato de auditório. Antes disso, escreveu ainda os roteiros de seis filmes da apresentadora, a começar por Abracadabra. E de seus especiais de Natal.
Serviço:
Flashback. Guairinha (R. XV de Novembro, s/n.º), (41) 3315-0979. Texto e direção de Flávio Souza. Com Ludmila Nascarella, Luiz Goes e Lia Comandulli. Sexta e sábado às 21 horas e domingo às 19 horas. R$ 15 e R$ 7 (meia). Até 25 de abril.
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