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William Kennedy, autor de Ironweed, conversa com Colum McCann numa das mesas mais interessantes da Flip | Sergio Flaksman (arquivo pessoal)/ Divulgação
William Kennedy, autor de Ironweed, conversa com Colum McCann numa das mesas mais interessantes da Flip| Foto: Sergio Flaksman (arquivo pessoal)/ Divulgação

Programação

Entre as 19 mesas que fazem parte da Flip este ano, há opção para vários tipos de leitores

Quinta – A best seller Isabel Allende fala sobre sua literatura e Robert Darnton encontra Peter Burke, ambos historiadores, numa conversa sobre o livro.

Sexta – Darnton volta ao palco para encontrar o executivo John Makison, diretor-geral da Penguin, e seguir com a discussão sobre as possibilidades do livro frente ao futuro digital. Em outra mesa, William Boyd (Tempestades Comuns) encontra Pauline Melville para falar sobre a chamada "literatura pós-colonial". O indiano Salman Rushdie encerra a programação do dia.

Sábado – Referência em meio aos estudos literários, o crítico britânico Terry Eagleton fala sobre religião e ciência em Paraty, comentando a obra em que compra briga com o biólogo evolucionista Richard Dawkins. Colum McCann e William Kennedy conversam sobre "a literatura e a cidade". Robert Crumb e Gilbert Shelton fazem a alegria dos leitores de quadrinhos.

Domingo – A cubana Wendy Guerra e a brasileira Carola Saavedra (chilena de nascimento) discutem as cartas e os diários como formas de "subversão". Benjamin Moser, biógrafo de Clarice Lispector, analisa, com o tradutor alemão Berthold Zilly, a percepção da literatura brasileira no exterior.

  • Diretor das bibliotecas de Harvard, Robert Darnton discute o passado e o futuro do livro com o historiador Peter Burke
  • William Boyd: pós-colonial

Amanhã à noite, quando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso entrar na Tenda dos Autores, em Paraty, para falar sobre Casa-grande e Senzala, a obra de Gilberto Freyre (1900-1987), terá começado de fato a 8.ª Festa Literária Internacional de Paraty (Flip).

Este ano, além de homenagear o sociólogo Freyre, o evento criado em 2003 pela editora inglesa Liz Calder discute vários temas grandes, do futuro do livro à forma como a literatura brasileira é encarada no exterior (leia quadro).

O debate acerca do livro de papel versus o formato eletrônico é forte a ponto de inspirar duas mesas, na quinta à noite e na sexta pela manhã. A primeira coloca Robert Darnton, diretor das bibliotecas da Universidade de Harvard, ao lado do historiador Peter Burke. Na segunda, Darnton volta para conversar com John Makison, diretor-geral da editora Penguin. Esta é a primeira vez que um executivo do meio editorial participa da programação principal da Flip.

A presença de Makison é simbólica no ano em que a organização acabou destacando a não-ficção – tanto em número de convidados quanto nos assuntos a serem debatidos. Das 19 mesas, pelo menos oito não se relacionam diretamente com a ficção, duas falam de poesia e uma é dedicada a quadrinhos.

Com a desistência do músico Lou Reed em cima do laço, os organizadores não tiveram tempo de chamar outro convidado. Sem o homem que fez fama com a banda Velvet Underground, as atenções se pulverizaram na Flip 2010. Há nomes para fazer vibrar os leitores de várias áreas diferentes.

A vinda do cartunista Robert Crumb ao Brasil é um acontecimento – equivalente a uma experiência religiosa. O criador do Gato Fritz, que publicou há pouco a sua versão do Gênesis (Conrad), não costuma encarar eventos públicos. O que confirma a aura magnética de Paraty, uma cidade capaz de atrair até os mais arredios. Um caso notório é o do sul-africano J.M. Coetzee, autor de Verão (Companhia das Letras), que estava tranquilo e sorridente pelas ruas da cidade histórica em 2007.

Aliás, numa conversa com a reportagem da Gazeta do Povo, Coetzee comentou que Paraty "não é um lugar real". A definição é perfeita para a cidade durante os cinco dias da Flip. O chamado Centro Histórico de Paraty, com 32 quadras pequenas, concentra todos os acontecimentos da festa e as pousadas que abrigam os autores. Então é fácil encontrá-los caminhando até a tenda principal ou mesmo passeando à toa pelas ruas de pedra.

Só em Paraty é possível ver Coetzee comprar um pé-de-moleque (imagem que ficou famosa), ou Jonathan Safran Foer (Extremamente Alto e In­­crivelmente Perto) se batendo para explicar a um garçom que gostaria de uma opção de prato sem carne. "Não entendo nada do que o senhor está falando, não", respondeu o garçom que não falava inglês.

Se Crumb vai mobilizar os leitores de quadrinhos, a escritora Isabel Allende é a maior best seller a pôr os pés no evento. Autora de A Casa dos Espíritos (1982) – adaptado ao cinema pelo sueco Bille August e com Meryl Streep no elenco –, ela vendeu mais de 50 milhões de livros no mundo todo e fala na Flip sobre o fato de ser uma das autoras latinas mais populares de qualquer época.

Leitores de ficção interessados em literatura americana têm uma mesa boa ao meio-dia de sábado, quando William Ken­­nedy encontra Colum McCann (este, irlandês radicado em Nova York). Kennedy é autor do Ciclo de Albany, do qual fazem parte sete romances, incluindo Ironweed, recém-editado pela Cosac Naify e levado ao cinema por Hector Babenco (coincidência: o filme também tem Meryl Streep no elenco). McCann venceu o Prêmio Nacional do Livro nos EUA com Deixe o Grande Mun­­do Girar (Record). Cada um a sua maneira, eles se dedicaram a escrever sobre as histórias que compõem uma cidade e discutem sobre a experiência.

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