A Itália lembrou no início do mês os três anos de uma das maiores tragédias da história envolvendo imigrantes. No dia 3 de outubro de 2013, 368 pessoas vindo da Líbia morreram em um naufrágio, abrindo os olhos do mundo para um drama que já vinha se tornando recorrente e colocando no mapa a ilha de Lampedusa. Situada na Sicília, junto ao Mar Mediterrâneo, o local é uma das portas de entrada de migrantes que saem da África e tentam ingressar clandestinamente na Europa.
O local é o cenário do documentário “Fogo no Mar”, dirigido pelo italiano Gianfranco Rosi e que abre o Festival de Cinema da Bienal Internacional de Curitiba. O longa, que estreou no Brasil em abril, mas permanecia inédito na capital paranaense, foi o vencedor do Urso de Ouro no último Festival de Berlim. A sessão única acontece nesta quinta (20), às 20 horas, no Espaço Itaú.
Quando o júri da Berlinale, presidido pela atriz Meryl Streep, decidiu premiar o filme, o tema imigração estava sendo debatido de forma intensa, especialmente no tocante a barrar ou acolher os estrangeiros. Além da urgência do assunto, é bem possível que o tratamento dado pelo diretor no filme tenha pesado na decisão.
Gianfranco Rosi acompanha o cotidiano de um grupo de moradores da ilha, especialmente um garoto, que se preocupa apenas em ir à escola, brincar com um estilingue e se juntar ao pai em um barco pesqueiro. O pai do garoto, uma senhora idosa e um radialista são outros personagens que assistem de longe ao sofrimento dos refugiados. Ao longo do filme, esse cotidiano pacato se alterna com o trabalho das equipes que atendem os naufrágios.
Em entrevista ao site Adoro Cinema, Rosi (naturalizado italiano, mas que nasceu na Eritreia, no norte da África) contou que passou um ano filmando na ilha. Nesse período, registrou um naufrágio com vários mortos, apresentado de forma crua no filme. “De certa forma, parece existir um equilíbrio entre a profundidade da exploração da ilha e a narrativa mais leve. Eu tratava da morte, então precisava estruturar esse tema. Não foi uma escolha, tive que ajustar o filme ao estado das coisas. Sendo um documentário, eu não poderia inventar nada”, afirmou.
Sem narrador, sem trilha sonora e sem entrevistas, com imagens tanto poéticas como impactantes. Assim é “Fogo no Mar”, que deixa que o espectador tire suas conclusões. “Não faz mais sentido fazer documentários que saibam de tudo, que nos contem tudo. Temos toda a informação circulando através da internet, da imprensa, sabemos de tudo o que acontece. Não há mais necessidade em contar histórias tão didáticas”, justifica o cineasta.