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Ney Matogrosso: pop e cabaré aos 68 anos | Rogério Mesquita
Ney Matogrosso: pop e cabaré aos 68 anos| Foto: Rogério Mesquita
  • Capa do CD: sobre o amor

Há 33 anos, Ney Matogrosso lançou o segundo álbum de sua carreira-solo, intitulado Ban­­di­­do. O carro-chefe do LP era "Ban­­­­dido Corazón", composta por Rita Lee. A canção foi um es­­trondoso sucesso e virou te­­ma de abertura de Coquetel de Amor, exibida dentro de Espalho Mágico, folhetim metalinguístico de Lauro César Muniz que mostrava os bastidores da teledramaturgia. Dois anos mais tarde, no disco Feitiço, o cantor gravaria "Bandoleiro" (de Lu­­cinha), outro hit.

Através de sua carreira, que hoje beira as quatro décadas, Ney, uma das maiores vozes masculinas na história da música brasileira, jamais fugiu da imagem de fora-da-lei, de outsider. Ser diferente, contraventor, "bandido", afinal de contas, sempre foi para ele um trunfo. Já nos tempos da banda Secos & Molhados, trio que explodiu nas paradas em 1973 com seu disco de estréia, a figura andrógina e subversiva do cantor provocava a censura e o governo militar com rebolados sensuais, insinuantes, revolucionários. Ninguém ficou indiferente.

Por isso, não é com grande surpresa que seu competente penúltimo disco, Inclassificáveis, seja agora sucedido por mais um título que evoca a ideia da marginalidade: Beijo Bandido. Mas desta vez o território é o amoroso.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Ney refuta a ideia de que o disco, bom do início ao fim, te­­nha uma ambientação de cabaré. "Não é isso. Acho que, apesar de ser menos rock-and-roll e mais intimista do que o anterior, é um álbum com elementos pop", rebate. Ele até tem razão, mas a escolha de "Tango para Tereza", canção de Evaldo Gou­­veia e Jair Amorim que fez enorme sucesso na voz de Ângela Maria nos anos 70, e o próprio figurino do cantor (assinado por Ocimar Versolato) exibido no encarte do disco e no show ho­­mô­­nimo denuciam que, em seu melhor estilo camaleonico, o Ney performático, exuberante e reluzente de Inclassificáveis agora cede lugar a uma faceta mais dândi e romântica.

Regravações

Mas não é de todo desprovida de razão a afirmação do cantor de que Choro Bandido também é pop. Afinal, Ney não pode ser resumido à condição de artista de MPB. Em seu novo álbum, há duas provas evidentes disso. "Nada por Mim",de Herbert Vian­­na e Paula Toller, é a chamada "balada perfeita", uma daquelas músicas atemporais que nunca deixam de tocar nas rádios. Ele a cantou pela primeira vez em um dueto com a intérprete original da composição, Marina Lima. Gostou e, ao perceber que faltava algo ao show e ao repertório do disco que quebrasse um pouco o clima de recital, pernsou automaticamente na canção.

Outro elemento inegavelmente pop no CD é "Mulher Sem Razão", de Cazuza e Bebel Gil­­berto. Ney conta que Lucinha Araújo, mãe de Cazuza, lhe ofereceu a música há alguns anos, mas a gravação acabou não acontecendo. E quando se deu conta, Adriana Calcanhotto já a havia registrado – e com bastante êxito – no álbum Maré (2008). Acostumado a gravar canções já registradas por outros artistas, Ney diz que jamais teve problemas com isso. "Não me importo nem um pouco de cantar músicas que não são inéditas, nem que gravem o que já cantei."

Roberto & Erasmo

Falando em covers, em regravações, Ney experimenta pela primeira vez em Choro Bandido uma dupla de compositores de peso, mas que jamais havia dado as caras em seu repertório: Roberto & Erasmo Carlos. O desejo de cantar a ultrarromântica "A Dis­­tância" surgiu pela primeira vez há muitos anos, enquanto assistia no cinema ao filme Violência e Paixão (1974), penúltimo longa-metragem de Luchino Vis­­conti (de Rocco e Seus Irmãos). "Testarda Io", título da versão em italiano para a música, interpretada pela cantora Iva Za­­nicchi, o tocou profundamente e, mais de 30 anos depois, fecha o disco.

O repertório conta ainda com outras pérolas. Entre elas, a bela "As Ilhas", música que o argentino Astor Piazolla convidou Ney para cantar, foi lançada em raro compacto de 1975, proibido pela censura da ditadura. Agora volta à vida de novo na voz de Ney, que aos 68 anos, continua mais bandido do que nunca. GGGG

Serviço

Beijo Bandido. Ney Matogrosso. EMI Music. Preço médio: R$ 36.

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