
Com o início de mais uma edição no Solar do Rosário, na semana passada, o curso Formação de Plateia em Música, das educadoras musicais Clarice Miranda e Liana Justus, chegou ao seu 20.º ano consecutivo.
Pelos cálculos das professoras, 40 mil pessoas passaram por suas aulas neste período, do Solar do Rosário e do Centro Paranaense Feminino de Cultura onde acontecem este ano até em escolas públicas em regiões periféricas, passando por temporadas por mais de 30 cidades a convite do Circuito Cultural do Banco do Brasil em 2000 e 2001.
Acompanhando de perto desde o primeiro contato de jovens com a música clássica até o desenvolvimento de carreiras prodigiosas como a do pianista Pablo Rossi, Clarice e Liana dizem ter visto o cenário musical se transformar ao longo do período em que se lançaram ao projeto, a convite do Solar do Rosário.
Uma delas é a implantação de aulas de música no ensino regular um processo árduo, para o qual esperam contribuir com kits didáticos à venda no site do projeto (www.formacaodeplateia.com.br).
"É a nossa grande meta no momento", conta Clarice, prontamente complementada pela colega. "Somos contatadas por professores de todo o país e lembramos muito da nossa experiência quando começamos o curso. Há uma grande dificuldade de se conseguir material. Fizemos o que queríamos que existisse no começo do projeto", conta Liana.
Os kits e outras várias publicações em que as educadoras vêm trabalhando trazem a abordagem no ensino da música em que se baseia o projeto, que ensina desde orientações básicas de comportamento durante os espetáculos até os detalhes mais sutis das principais peças do universo erudito. O próximo lançamento deve se chamar Perguntas e Respostas sobre Orquestra, em que as autoras respondem a questionamentos corriqueiros nestes 20 anos.
"O curso começou sem pretensões. Íamos a concertos e ouvíamos dúvidas das pessoas, por isso resolvemos elaborar um curso para preencher essas lacunas", explica Clarice. "A tônica é a linguagem, que é a mais simples possível", diz Liana.
As educadoras falam das experiências nestes 20 anos em tom apaixonado e reverente em relação à música clássica. Contam histórias como a de uma aluna idosa que chegou trêmula às aulas, tomando antidepressivos e "achando que a vida era um horror", e que concluiu o curso de namorado, cabelo pintado e até sem bengala. "Continuamos cada vez mais apaixonadas pelo que fazemos", diz Clarice. Liana completa.
"A lição mais evidente que tivemos é que, independentemente da classe social e das oportunidades, os interesses podem ser os mesmos, as dúvidas são as mesmas. E que, à medida em que as pessoas entram em contato com a música de qualidade, a aceitação é natural", diz. "Nunca tivemos um caso de rejeição."



