Pouco tempo depois de chegar a Curitiba, o artista visual Tom Lisboa teve a oportunidade de assistir à turnê do espetáculo O Grande Circo Místico, criado há 30 anos por Chico Buarque e Edu Lobo especialmente para o Balé do Teatro Guaíra. Com roteiro de Naum Alves de Souza, que se inspirou em um poema escrito por Jorge de Lima nos anos 1970, a montagem foi vista por mais de 200 mil pessoas apresentada, inclusive, no Macaranãzinho e no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.
Em 2002, a então diretora do Teatro Guaíra, Suzana Braga, viabilizou uma segunda versão, também de grande sucesso: foram 60 apresentações em sete capitais brasileiras. Dessa vez, Tom Lisboa foi convidado para ser o fotógrafo do balé, e acompanhou ensaios, provas de figurino e mais de 20 apresentações. O material, que ficou sete anos na gaveta virou o livro (In)visível Real, viabilizado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura e distribuído pela Pulp Editora. "Não gosto de nenhum trabalho meu parado. Todos os dias olhava para as gavetas e pensava que aquilo tinha de virar livro", conta o artista, que havia tentado outros projetos de leis de incentivo até conseguir a aprovação no ano passado.
Sua maior vontade era deixar uma lembrança visual do Grande Circo Místico. "O balé é maravilhoso e o disco é um dos melhores álbuns da MPB. [Durante a primeira montagem] era uma época em que não havia download. Tive que encomendar o disco depois que vi o balé, e ele levou 20 dias para chegar", relembra Lisboa, que "nunca imaginou" que um dia poderia fotografar a nova versão da apresentação, que foi coreografada por Luiz Arrieta. Tom teve a oportunidade de registrar os bailarinos de diferentes ângulos: ele lembra de quando ficou praticamente pendurado no teto do Teatro Guaíra. "Era um espaço em cima das placas de iluminação. Tive de deixar tudo muito bem organizado para fotografar".
Nas 144 páginas (as fotos foram selecionadas entre milhares de negativos), o leitor consegue acompanhar a segunda versão do espetáculo de maneira cronológica, junto com as letras das canções (como "Beatriz", por exemplo). Outra característica do livro é que as fotografias foram todas feitas com material analógico. "É um livro que está na contramão do que é a fotografia hoje", acredita o artista, que diz ter um "certo saudosismo" em fazer imagens com filme fotográfico. "No analógico, a expectativa de saber como a foto ia ficar era grande." Porém, o artista acabou tendo problemas para impressão do livro 1,5 mil cópias acabaram indo para o lixo, e a edição teve de ser refeita.
Dança
Apesar de ficar confortável em fotografar representações, como o balé, Tom Lisboa explica que registrar dança não é simples. "A pose é algo que me incomoda muito na fotografia, e isso não aconteceu no espetáculo. Eles não facilitaram o meu serviço, fui eu quem tive de encontrar o melhor ângulo."
Blog
Para complementar o trabalho, o artista criou o blog www.invisivelreal.blogspot.com, onde costuma postar fotografias, textos, reportagens da época, imagens e sons das duas montagens do Grande Circo Místico. "Tinha o desejo de comparar as duas versões e isso é possível com o blog." Tom Lisboa também conseguiu despertar novamente o sentimento do espetáculo em pessoas que se apresentaram na época, já que exemplares foram doados para ex-bailarinos. "Todos ficaram satisfeitos, pois foi um período muito feliz para quem participou. Não tem como não se emocionar com o espetáculo".
Serviço:
(In) visível Real, de Tom Lisboa. Editora Pulp, 144 págs. Preço médio: R$ 49,90. Fotografia
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