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Em Ela Vai, Catherine Deneuve vive uma mulher que chuta tudo para o alto e cai na estrada | Divulgação
Em Ela Vai, Catherine Deneuve vive uma mulher que chuta tudo para o alto e cai na estrada| Foto: Divulgação

Há um momento na vida em que qualquer um tem a vontade de largar tudo para trás e cair na estrada. Sem destino, ou hora marcada para o retorno. Bettie, a protagonista de Ela Vai, vivida por uma Catherine Deneuve em estado de graça, faz isso. Mais por impulso do que de caso pensado. Ainda assim, é uma decisão que, aos poucos, vai se provando radical, e cujas consequências são imprevisíveis, capazes de, sim, mudar o seu rumo – e de render um bom filme.

Viúva, a personagem é uma mulher de 60 e tantos anos que mora com a mãe idosa, Annie (Claude Gensac), ao lado de quem administra, aos trancos e barrancos, um pequeno restaurante na Bretanha, região do noroeste da França. O ímpeto de chutar tudo para o alto vem quando a personagem descobre que seu amante, um homem casado, engravidou uma jovem de sua cidadezinha, acaba de ser expulso de casa pela mulher e decide assumir o namoro, colocando Bettie para escanteio.

A traição faz vir à tona uma série de frustrações, mas também a coloca em movimento: um dia simplesmente pega o carro, sob o pretexto de sair para comprar cigarros, e cai na vida. Logo vem um pedido da filha, Muriel (Camille), para que leve o neto, Charly (Nemo Schiffman), que ela mal conhece, à casa de Alain (Gérard Garouste), avô paterno do garoto.

E as aventuras vão se sucedendo, chegando a levar Bettie a um encontro insólito, do qual participarão todas as mulheres que, como ela, concorreram ao título de Miss França, em 1969. O objetivo da reunião é produzir um calendário cuja renda será revertida para uma causa beneficente.

Coescrito e dirigido pela também atriz Emanuelle Bercot, que atuou no ótimo Polissia, Ela Vai tem o charme de sua despretensão. A grande sacada da trama é se desenvolver em torno de alguém que, meio ao acaso, rompe com o previsível, desafia a rotina e se coloca em risco. Essa decisão, arriscada é bem verdade, a reaproxima da filha, com quem tem uma relação distante e tensa, e do neto, para ela um desconhecido, e talvez reacenda sua vontade de seguir vivendo. Também a faz pensar com mais maturidade a respeito de seus desejos e limitações.

A alma de Ela Vai está na entrega de Catherine Deneuve ao papel. Seu desempenho é solar e brinca, inclusive, com a imagem de glamour e beleza associada à estrela, um mito do cinema francês – na juventude, a personagem foi miss, afinal de contas.

É arrepiante a cena em que, desesperada, Bettie, em seu Mercedes velho, dirige sem destino por estradas vicinais de sua região ao som da linda canção "This Love Affair", do canadense-americano Rufus Wainwright. Só esse momento já vale o ingresso. GGG

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