Em uma tentativa de restringir notícias inventadas de circularem livremente dentro de sua plataforma, o Facebook estaria sondando uma ferramenta que proveria notícias de fontes confiáveis para seus usuários, segundo pessoas ligadas ao projeto.
À medida que notícias inventadas se espalham pela internet, alguns culpam redes sociais como o Facebook, onde usuários têm acesso irrestrito para compartilhar desenfreadamente informações não apuradas.
O fundador e presidente do Facebook, Mark Zuckerberg, já havia declarado anteriormente que o propósito do site é ser uma empresa de tecnologia e não uma fonte de informação. Zuckerberg se esquiva de qualquer responsabilidade pelas eventuais consequências de posts com notícias inventadas — muitos dos quais acabaram favorecendo Donald Trump na corrida eleitoral de 2016.
Entretanto, agora, a empresa parece estar abrindo caminho para outros sites a seguirem, visando reduzir o número de notícias inventadas e provendo a seus usuários conteúdo confiável e relevante.
Fontes ligadas ao projeto do Facebook declararam que a mais recente ferramenta do site, “Collections,” se assemelha muito ao “Discover” do Snapchat, estabelecendo parceria com agências de conteúdo renomadas que apresentarão artigos em determinado espaço do site em que usuários poderão acessar notícias reais.
O site ainda planeja inserir essas notícias dentro do feed dos usuários, o que daria às publicações acesso direto a uma rede crescente de integrantes de mídias sociais; uma saída mais interessante do que postar notícias em suas próprias páginas ou comprar espaço na plataforma.
A iniciativa parece contrastar com declarações feitas por Zuckerberg há menos de um mês, quando argumentou ser improvável que notícias inventadas na rede social tenham exercido algum papel significativo na vitória de Trump na corrida presidencial.
“Acho mesmo que existe uma profunda falta de empatia em afirmar que o único motivo que levou alguém a votar em quem votou foi porque leu alguma notícia inventada,” afirmou Zuckerberg, dias após as eleições. “Caso você acredite nisso, então acho que não entendeu a mensagem que os simpatizantes de Trump tentaram transmitir nessas eleições.”
Contudo, apenas uma semana depois ele mudou de tom e anunciou novas políticas do Facebook para ajudar a identificar e punir o compartilhamento de notícias inventadas. Elas incluem criar algoritmos que conseguem automaticamente detectar conteúdo falso, classificar notícias que possam ser inventadas com selos de advertência e permitir que os usuários denunciem conteúdo suspeito.
“Estamos elevando o nível das matérias que sugerimos como links adicionais em nosso feed de notícias,” escreveu Zuckerberg na época. “Muita da desinformação é causada por spams de interesse econômico. Estamos pesquisando maneiras de desestabilizar esse negócio através de políticas de publicidade mais severas e melhor detecção de fazendas de cliques (quando internautas recebem dinheiro para clicar em determinado número de links por dia).
O esforço em desenvolver o “Collections” parece levar adiante tal promessa. Mas embora o serviço venha a proporcionar notícias apuradas para os usuários do Facebook, é difícil saber até que ponto eles irão acessá-las ou mesmo comprar a ideia.
Visto que a campanha eleitoral de 2016 serviu para dividir o país como nunca antes, mais e mais pessoas se alienaram na busca por notícias unilaterais que se alinhassem com seus pontos de vista, contribuindo assim com uma bolha de informação em que suas opiniões são sempre embasadas e repetidas. Porque muitos acreditaram em notícias que alimentavam suas próprias inclinações, um número significativo de pessoas respondeu ao resultado das eleições com total surpresa, tentando entender como Trump conseguiu tirar de Hillary Clinton uma vitória até então garantida.
“Os americanos tendem a tirar o que sabem, ou acham que sabem, de uma caixinha de autocondescendência,” afirma Krista Jenkins, professora de ciências políticas da Universidade de Fairleigh Dickinson em Teaneck, Nova Jersey.
“Em nosso discurso, precisamos da troca de ideias e de perspectivas para que possamos reverter essa inquietante tendência de sempre enxergar o lado oposto como nocivo e desorientado”, diz Jenkins, “em vez de os vermos como pessoas que foram levadas por suas experiências e opiniões a acreditarem em diferentes formas de se chegar a um determinado lugar”.
Embora a tentativa do Facebook de cuidadosamente selecionar fontes de notícias confiáveis seja um passo adiante, mudar o hábito de quem consome notícias no site talvez seja uma tarefa mais complexa. Publicações e programas de tevê de esquerda vêm tentando dialogar com seus opositores, entrevistando comentaristas conservadores. Segundo especialistas, no entanto, será preciso muito mais do que isso para fazer o país enxergar valor na imparcialidade dos fatos.
“Essas bolhas de informação não foram impostas ao público — elas representam o que as pessoas querem”, argumenta Paul Levinson, professor de mídia e comunicação na Fordham University, em Nova York (NY). “Enquanto as redes sociais continuarem a proporcionar uma plataforma de livre discussão para essas bolhas de notícias, nada vai mudar.”
Tradução de Miguel Nicolau.