Na era das redes sociais, quem não se conecta, perde voto. Desde que Barack Obama revolucionou a comunicação entre candidato e eleitor na sua primeira corrida presidencial, em 2008, cada vez mais políticos passaram a apostar nas novas tecnologias para melhorar seus números nas urnas. Com um estilo muito diferente, Donald Trump também chegou à presidência apostando em uma participação ativa na internet: hoje, manter um perfil ativo nas redes sociais é fundamental para conquistar votos, mesmo fora do período eleitoral – mas, tanto no Brasil como no exterior, nem todos sabem utilizar essas ferramentas.
Quando Obama chegou à presidência, nove anos atrás, muitos especialistas em tecnologia apontaram que seu grande trunfo havia sido a forma como atraiu os eleitores jovens, afinal, o candidato democrata soube conquistar militantes na internet e colocá-los na rua. Seu sucesso virou caso de estudo e, ao longo de dois mandatos, Obama acumulou estreias: tornou-se o primeiro presidente americano a usar o Twitter, o primeiro a fazer um vídeo ao vivo no Facebook, o primeiro a postar uma foto com filtro no Snapchat.
A era Barack Obama coincidiu com a ascensão das redes sociais, mas só isso não explica a sua popularidade: em qualquer época, é preciso conhecer a tecnologia antes de utilizá-la. Na década de 1940, Franklin Roosevelt foi o primeiro presidente americano a aparecer na televisão, mas foi apenas quando John Kennedy usou a TV para vencer as eleições, quase vinte anos depois, que ela se tornou parte indispensável da propaganda política. A familiaridade de Obama com as redes, no entanto, está longe de ser acidental: antes de ser presidente, o então senador era visto usando seu Blackberry com frequência, sendo considerado um “nerd” por outros políticos americanos.
Novos caminhos
O caminho aberto por Obama foi seguido por outros. Com declarações polêmicas e milhões de seguidores, Donald Trump construiu grande parte de sua campanha eleitoral através de tweets. “Mesmo antes de concorrer à presidência ele era muito ativo, respondendo e retuitando outros usuários”, diz o programador Brendan Brown, criador do site TrumpTwitterArchive.com, dedicado a reunir todas as postagens do republicano em seu perfil no microblog. “Ele interagia principalmente com usuários comuns quando eles o elogiavam ou diziam que ele devia se candidatar à presidência. E também rebatia quando se sentia insultado”, recorda.
234 tuítes
Donald Trump fez chamando alguém de “loser” (perdedor)
Se Obama mantinha uma figura de bom moço, Trump segue a linha oposta. Sua participação nas redes sociais é repleta de ofensas. Segundo o contador instalado no arquivo de Brown, até o dia 22 de março de 2017, o atual presidente americano já escreveu, por exemplo, 234 tweets chamando alguém de “loser” (perdedor) e outros 183 garantindo que seus críticos são “stupid” (estúpidos). Brown diz que ficou surpreso com a quantidade de insultos presentes no histórico virtual de Donald Trump: “Muitas pessoas teorizam que ele usa seu Twitter para distrair de suas políticas, como em um grande jogo de xadrez, mas isso não é verdade. Se você olhar como ele se comportou na internet nos últimos seis anos, nada mudou”. E conclui: “isso é apenas quem ele é”.
183 tuítes
Donald Trump fez garantindo que seus críticos são “stupid” (estúpidos)
Seja na persona simpática de Obama ou no discurso intenso de Trump, é nítido que a presença virtual foi eficiente. Agora com o poder em mãos, o grande risco do presidente americano é seguir usando sua conta pessoal sem pensar nas consequências; alguns tweets ofensivos de Donald Trump já passaram perto de causar crises diplomáticas com outras nações, como ocorrido em janeiro, quando acusou o México de “tirar vantagem” dos Estados Unidos em acordos comerciais. Mais recentemente, ele usou seu perfil para “denunciar” Obama por ter grampeado seu escritório durante a campanha eleitoral – uma acusação já desmentida pelo FBI.
Meio auxiliar
Como Trump demonstra, a internet não é mais apenas um instrumento a ser usado apenas durante a campanha eleitoral. Segundo o professor Alberto Valle, da Academia do Marketing do Rio de Janeiro, a tecnologia também precisa ser utilizada para criar um relacionamento com o público fora da época de votação. “O pessoal só lembra do eleitor em época de eleição, o que é um erro crasso”, diz, lembrando que no Brasil ainda há um grande contraste na forma como os políticos utilizam as redes.
No Brasil, algumas campanhas obtiveram relativo sucesso em dominar as discussões no passado – caso da hashtag #OndaVerde, impulsionada por Marina Silva em 2014, que permaneceu como um dos assuntos mais comentados no Twitter durante o pleito, embora não tenha se convertido em uma vitória nas urnas. De qualquer forma, a força da internet não irá parar por aí: “o marketing digital está se tornando gigantesco”, afirma Valle. “Vai ser ainda mais importante nas eleições presidenciais do ano que vem. Com essa nova restrição aos recursos de campanhas, as redes sociais são a forma mais barata que o candidato tem para divulgar as suas ideias”.
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