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 | Jonathan Campos/Gazeta do Povo
| Foto: Jonathan Campos/Gazeta do Povo

Tem golaços e goleadas, tem defesas espetaculares, tem até impedimento e “disputa por pênaltis” – só que no gelo. O hóquei, ao mesmo tempo tão distante culturalmente dos brasileiros por causa do clima e tão próximo do nosso esporte mais adorado, está, aos poucos, caindo no gosto de quem acompanha jogos pela tevê por assinatura.

  • Vale tudo para evitar o gol do adversário.
  • Lamentando o gol perdido.
  • Entrou com disco e tudo.

Gostar de hóquei no gelo em um país com tradição abaixo de zero no esporte já não é coisa de uns poucos malucos. Segundo a consultoria TGI, a audiência da NHL (a liga norte-americana/canadense de hóquei) no Brasil, em 2014, foi de 1,7 milhão de pessoas – maior que a da MLB, a liga de beisebol, mas ainda abaixo da NBA (basquete), MLS (futebol de bola redonda) e NFL (futebol americano), o que não chega a surpreender. No Facebook, 6 mil pessoas curtem a fan page do site nhlbrasil.com.br e o grupo de discussões NHL Brasil tem 1,5 mil membros. E o perfil do torcedor, segundo Thiago Simões, comentarista de hóquei na ESPN brasileira, é justamente não ter um perfil definido: os fãs que interagem com a equipe de narração, por exemplo, vêm do Brasil inteiro. “O que mais me surpreende é o tanto de novatos no Twitter querendo saber sobre o hóquei”, diz o comentarista.

60 minutos

Três tempos de 20 minutos é a duração de uma partida de hóquei. Se ela acaba empatada, na temporada regular ocorre uma prorrogação de cinco minutos com morte súbita e, se o empate persistir, há o shootout (como os pênaltis no futebol). Nos playoffs, a prorrogação dura até sair um gol, não importa quanto tempo demore.

E isso que o hóquei tem uma série de desvantagens em relação aos outros esportes “americanos”. A mais óbvia delas é resultado do clima. Quadras de basquete existem aos montes no país; equipamento de futebol americano e beisebol até pode ser um pouco difícil de encontrar, mas está disponível, e um terreno ou gramado comum podem ser adaptados para o esporte. Mas o hóquei exige gelo, e muito ocasionalmente um shopping center monta um rinque de patinação que também pode servir para um rachão. Sobra sua versão tropical, o hóquei in-line. Quem joga – e há times espalhados pelo Brasil, e de várias faixas etárias – a versão sobre rodinhas quase seguramente também acompanha a NHL.

Dinastia

Quando um time se torna dominante na NHL por um longo período de tempo, ele passa a ser conhecido como uma “dinastia”. Como os Maple Leafs nos anos 1940 ; os Canadiens nos anos 50 e 70; os Islanders no início dos anos 80; e os Oilers também dos anos 80 (time de Wayne Gretzky, o maior de todos os tempos).

A outra desvantagem é cultural. Filmes sobre hóquei nunca chegaram ao status de alguns longas sobre beisebol (Campo dos Sonhos, 42 – A História de uma Lenda, O Homem Que Mudou o Jogo) ou futebol americano (Um Sonho Possível, Duelo de Titãs, Um Domingo Qualquer) .

Claro, existe o filme dos patos (Nós Somos os Campeões, da Disney), mas não dá para comparar com nenhum desses citados, em elenco, enredo ou sucesso de público. E, o mais importante, o hóquei nunca teve destaque na televisão aberta brasileira. O falecido Luciano do Valle narrou jogos de Michael Jordan, Magic Johnson, Larry Bird e Karl Malone, e nos anos 80 trouxe também o Super Bowl para a Bandeirantes. No máximo, a tevê aberta brasileira viu algumas transmissões de hóquei durante edições dos Jogos Olímpicos de Inverno.

Espetáculo grandioso

Luzes, músicas, coreografias e a vibração de uma torcida frenética. Assista a um trecho da abertura do jogo.

+ VÍDEOS

Foi exatamente uma partida olímpica o meu primeiro contato com o hóquei no gelo: a final dos Jogos de 1994. Naquele ano em que o Brasil superou, nos pênaltis, uma seca de 24 anos em Copas do Mundo, os canadenses esperavam conquistar a primeira medalha de ouro olímpica no hóquei desde seu último triunfo, em 1952. Já eram 40 anos de domínio soviético (naquele seu esquema de amadorismo, pero no mucho), atrapalhado apenas por duas vitórias norte-americanas. Em 1992, o Canadá tinha batido na trave, perdendo a final para a Comunidade de Estados Independentes. Dois anos depois, disputava o ouro com a Suécia e vencia por 2 a 1 até os minutos finais. Os canadenses levaram ao empate e, após uma prorrogação sem gols, foram para o shootout, o equivalente no gelo dos nossos pênaltis. Nas cobranças alternadas, a Suécia conquistou o primeiro ouro de sua história (repetiria a dose em 2006). O Canadá só voltou a ser campeão olímpico em 2002.

Imagine um jogador que precisa se equilibrar sobre duas lâminas no gelo, patinar em alta velocidade, se livrar dos adversários e lançar para o fundo das redes – com um taco – um disquinho de borracha de 7,6 centímetros de diâmetro

Aquela final de 1994 eu vi não ao vivo, mas por meio de uma gravação em VHS, na casa de amigos. Depois daquilo, só voltei a ver hóquei no gelo em uma tela alguns anos depois, graças aos jogos de computador da franquia NHL. Partidas reais, mesmo, só as que meus amigos norte-americanos gravavam para me enviar pelo correio. Agora, com acesso maior à televisão por assinatura, fica muito mais fácil acompanhar os jogos.

Na tevê

Este sábado (11) é o último dia da temporada regular, e ainda há vagas nos playoffs em disputa. A ESPN transmite, às 22 horas, Colorado Avalanche e Chicago Black-hawks. Os play-offs começam na quarta-feira, dia 15, e só na segunda-feira, dia 13, os canais ESPN definirão as partidas que serão transmitidas para o Brasil, dependendo das equipes classificadas e do calendário das disputas.

Mas por que hóquei? Sou fã de vários outros esportes de gelo ou neve, e estive nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2006, em Turim, na Itália, como voluntário. E, pelo menos para mim, o hóquei atrai por causa da enorme dose de habilidade envolvida. Se já nos maravilhamos com o golaço do James Rodríguez no Maracanã, com um passe milimétrico do Peyton Manning, com uma enterrada ou um toco do Lebron James, com os 40 home runs do Nelson Cruz no ano passado, imagine um jogador que precisa se equilibrar sobre duas lâminas no gelo, patinar em alta velocidade, se livrar dos adversários (às vezes com dribles desconcertantes) e lançar para o fundo das redes – com um taco – um disquinho de borracha de 7,6 centímetros de diâmetro. Ou então imagine um goleiro defender (e muitas vezes não dar nem rebote) esse mesmo disquinho, vindo na sua direção a mais de 100 quilômetros por hora, e frequentemente tendo a visão bloqueada por colegas ou adversários passando na sua frente. É habilidade demais.

  • O anúncio nos jornais anunciava a partida da noite e a retomada do uniforme preto do Tampa Bay Lightning.
  • Fãs locais e o telão em frente à Amelie Arena, em Tampa.
  • Do lado de fora da arena, um telão gigante, banda de ska e diversos pontos de venda de cerveja e produtos oficiais do time.
  • Dentro da arena, a surpresa: uma camiseta de presente para cada fã.
  • Arena tomada pelos fãs, muito AC/DC no sistema de som e um telão impressionante em forma de cubo apresentando os atletas.
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