A Terra está com os dias contados. Hoje somos 7,3 bilhões de seres humanos infestando todos os cantinhos do planeta. Não importa se é o Deserto do Saara ou o Círculo Polar Ártico, lá estamos nós. Segundo projeções oficiais das Nações Unidas, em 2030 chegaremos a 8,5 bilhões e 9,7 bi em 2050. Em 2100, quando a Índia passar a China como país mais populoso do mundo e a Nigéria deixar os Estados Unidos para trás e ocupar o terceiro lugar, seremos 11,2 bilhões de pequenos vírus adoecendo o planeta, consumindo todos os seus recursos naturais e caminhando juntos para o apocalipse ambiental.
Como salvar, então, o planeta e, por consequência, a humanidade? No filme ‘Inferno’, com Tom Hanks no elenco e baseado no livro de Dan Brown (o mesmo autor de ‘O Código Da Vinci’), um bilionário chamado Bertrand Zobrist aparece em cena num seminário estilo TED discorrendo sobre como o excesso de população vai matar o planeta. Por baixo dos panos, articula a criação de um vírus capaz de liberar um bom espaço em nosso superlotado planetinha, matando 97% da população mundial.
Vamos deixar por um momento o fato de que o personagem de Zobrist é claramente um psicopata. No filme, ele mostra uma colônia de bactérias dentro de um copo de Becker. A colônia começa com alguns poucos indivíduos e vai se multiplicando exponencialmente até ocupar o copo inteiro. A analogia é clara e sedutora: as bactérias somos nós e o copo é a Terra. Quem não lembra do famoso monólogo do agente Smith em ‘Matrix’, no qual ele compara os humanos aos vírus?
“Eu tentei classificar sua espécie e me dei conta de que vocês não são de fato mamíferos. Todo mamífero neste planeta desenvolve instintivamente um equilíbrio natural com o ambiente em que vive, exceto os humanos. Vocês se mudam para um local e se multiplicam e multiplicam até que todos os recursos naturais sejam consumidos e a única maneira de sobreviver seja se espalhar para outra área. Existe outro organismo neste planeta que segue o mesmo padrão. Você sabe qual é? Os vírus. Os seres humanos são uma doença, um câncer para este planeta. Vocês são uma praga e eu sou a cura.”
Isso tudo fica muito legal no cinema, rende boas cenas, bons roteiros, mas é fruto de algo que aprendemos ainda na escola ser errôneo. Existe um conceito na economia chamado — guarde bem o nome — Armadilha Malthusiana. O economista britânico Thomas Malthus (1766-1834), previu que a população humana cresceria em progressão geométrica (2-4-8-16…), ao passo que os recursos agrícolas cresceriam em progressão aritmética (1-2-3-4-5, você entendeu).
O problema, segundo Malthus, é que nós, à medida que os recursos ficassem escassos, sofreríamos com guerras, fome e doenças. Aí você pensa: “acho que ele não errou, hein? É isso mesmo que está acontecendo por todo lado.” Mais ou menos.
Depopulação
Gregory Clark, historiador econômico, publicou um livro chamado ‘Farewell to Alms’ em 2012 no qual afirma que, sim, a humanidade viveu durante um período (ele estabelece que foi até o ano 1790) dentro dessa armadilha malthusiana. Mas que o desenvolvimento ajudou a escapar dela. De fato, os países desenvolvidos e mesmo países como Brasil e China, ainda pobres, experimentaram uma queda absurda na taxa de natalidade.
Na verdade, apesar dos prognósticos indicando um aumento vertiginoso na população mundial até o fim deste século, há cientistas que já se preocupam com outro fenômeno, a depopulação. Segundo um estudo de 2008 realizado pelo IIASA, uma organização não-governamental austríaca, em 2200 o mundo terá metade dos habitantes de hoje. Em 2300, toda a população mundial será menor que a chinesa atualmente.
É claro que, como defende o próprio Clark, existem lugares que vivem presos, até hoje, na armadilha malthusiana. São países muito pobres, como os localizados na África subsaariana. Com um ou 11 bilhões de pessoas, o verdadeiro inferno sempre estará em algum lugar bem real.
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