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Proposta de um horário universal foi criada por um professor de Física e um economista da Universidade John Hopkins , em Baltimore, no estado de Maryland (EUA). | Pixabay
Proposta de um horário universal foi criada por um professor de Física e um economista da Universidade John Hopkins , em Baltimore, no estado de Maryland (EUA).| Foto: Pixabay

No verão passado, a Coreia do Norte fez algo meio estranho. No 70.º aniversário de libertação da Coreia da ocupação japonesa, foi feito um pronunciamento pelo estado fechado e autoritário anunciando que ele iria permanentemente atrasar seus relógios em meia hora. O país estava criando o próprio fuso horário: o horário de Pyongyang.

Era um plano que não fazia muito sentido, e muitos o interpretaram, compreensivelmente, como mais um exemplo da falta de lógica que é característica das políticas de Pyongyang. No entanto, o caso também colocou uma outra questão em destaque: o fuso horário é algo que faz pouquíssimo sentido no mundo inteiro.

A Rússia no momento tem 11 fusos, enquanto a China tem só um. Dizem que os espanhóis sofrem de um cansaço constante porque estão no fuso errado. O Nepal, inexplicavelmente, é o único país do mundo a ter um fuso horário com 15 minutos de deslocamento.

Diante desse cenário caótico, seria razoável pensar: será que o próprio fuso horário já não é em si um conceito falho? É o que pensam Steve Hanke e Dick Henry.

A lógica é das mais simples: se for 7 horas da manhã em Washington, D.C., é 7 horas da manhã em qualquer outro lugar do mundo também. Não há fusos. Onde quer que você esteja, a hora é a mesma.

Alguns anos atrás Hanke, um economista de destaque da Johns Hopkins University e pesquisador sênior do think tank do Instituto CATO, e Henry, professor de física e astronomia da Johns Hopkins, se uniram para propor um novo calendário projetado para consertar as deficiências do calendário atual.

O plano foi batizado de “O Calendário Permanente Hanke-Henry”. No mês passado, depois de ler uma notícia do caderno “WorldViews”, do “Washington Post”, sobre o horário de Pyongyang, Hanke veio até nós para detalhar uma outra ideia que ele e Henry esquematizaram, visando pôr ordem no caos causado pelos fusos horários.

O plano era de uma simplicidade chocante. Em vez de tentar regular uma variedade de fusos em todo o mundo, deveríamos, no lugar disso, optar por algo bem mais fácil: acabar com todos os fusos e manter um único “Horário Universal”.

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Abaixo, infográfico do “Washington Post” mostra como é mundo hoje na divisão de fusos horários e como ele ficaria com um “horário universal”:
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A ideia parece extrema? Talvez sim, mas talvez não. O mapa acima nos dá uma ideia de como é o mundo agora, e como seria se usássemos apenas um único sistema de Horário Universal. A lógica é das mais simples: se for 7 horas da manhã em Washington, D.C., é 7 horas da manhã em qualquer outro lugar do mundo também. Não há fusos. Onde quer que você esteja, a hora é a mesma.

A maioria das pessoas teria que mudar o modo como planejam sua rotina. Em Washington, por exemplo, isso significaria que teríamos que nos acostumar a acordar perto do meio-dia e jantar por volta 1 da manhã .

Embora possa simplificar nossas vidas, no fim das contas, o conceito exigiria algumas grandes mudanças no modo como pensamos sobre o tempo. Como todos os relógios ainda seriam sincronizados com base no Tempo Universal Coordenado (o sucessor da Hora de Greenwich que corre no sudeste de Londres), a maioria das pessoas teria que mudar o modo como planejam sua rotina.

Em Washington, por exemplo, isso significaria que teríamos que nos acostumar a acordar perto do meio-dia e jantar por volta 1 da manhã (tudo bem, talvez para algumas pessoas não seja uma mudança muito brusca).

Mas, como defendem Hanke e Henry, em muitos outros aspectos, o novo sistema facilitaria muito a comunicação, a viagem e o comércio em fronteiras internacionais.

O WorldViews recentemente conduziu uma entrevista por e-mail com Hanke e Henry na qual eles explicam porque precisamos nos livrar dos fusos, porque o Horário Universal é um sistema melhor e porque já chegou a hora também para sua proposta para uma reforma no calendário. As respostas se encontram abaixo, com leves edições, pelo bem da clareza (Hanke e Henry deram respostas conjuntas às perguntas).

Pixabay

Sandford Flemming, um engenheiro ferroviário canadense, foi o primeiro a propor um sistema mundial de fuso horário em 1889: as operações gêmeas do vapor e da eletricidade aniquilaram as distâncias e fizeram com que uma reforma fosse necessária. Hoje a operação da internet aniquilou o tempo e o espaço por completo, preparando-nos para a adoção de um horário mundial.

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Foi mencionado num e-mail anterior que havia cerca de cinco países que alteraram seu fuso horário no ano passado. É um número alto para um único ano?

É a média comum. Essas mudanças continuam indo para lá e para cá como uma bola de futebol política, e tudo isso desapareceria se nossas ideias fossem adotadas.

Então, por que os países alteram seus fusos?

Geralmente é por motivos políticos, às vezes econômicos. Estamos do lado certo da história: Basta olhar para os EUA, onde o horário local em cada cidade era a norma até serem implantadas as ferrovias, então criaram-se os fusos. Sandford Flemming, um engenheiro ferroviário canadense, foi o primeiro a propor um sistema mundial de fuso horário em 1889: as operações gêmeas do vapor e da eletricidade aniquilaram as distâncias e fizeram com que uma reforma fosse necessária. Hoje a operação da internet aniquilou o tempo e o espaço por completo, preparando-nos para a adoção de um horário mundial.

Quais problemas já foram causados pelos fusos ao redor do mundo?

O ex-presidente russo Dmitry Medvedev consolidou o horário da Rússia em alguma medida em 2010, mas essas reformas foram revertidas por Duma em julho de 2014. A implementação mal-feita de uma boa ideia. Agora a Coreia do Norte adotou uma diferença de meia hora em relação ao horário da China e do Japão. A confusão reina! A Indonésia, onde um de nós [Hanke] trabalhou como assessor econômico para o ex-presidente Suharto durante a crise financeira asiática de 1998, é um país de grande território no qual seria bom prestarmos mais atenção, já que eles propuseram abolir dois de seus três fusos por motivos econômicos, o que colocaria a Indonésia no mesmo fuso horário que Cingapura.

Tem algum exemplo de política de fuso horário que lhes pareça particularmente absurdo?

Você está perguntando se alguns desses fios de macarrão são piores do que os outros: não, todos são ruins.

Então, sobre o sistema de Horário Universal: o que os levou a defender essa opção com tanto zelo?

É porque, do ponto de vista da física, só existe UM único horário! E esse princípio da física se alinha com perfeição com os princípios da economia. Esse é precisamente o motivo pelo qual tratamos desse assunto num segmento de um curso na Johns Hopkins sobre economia aplicada.

Mas por que ele funcionaria melhor do que, digamos, regulamentar os fusos de modo que eles combinem melhor com o horário solar local?

O horário solar local funcionava bem, mas só quando quase todas as atividades eram locais! Hoje, muitas são globais e UM único horário se faz necessário. Eu (Henry) lembro de uma vez em que a minha mãe, já com idade avançada, no Canadá, virou para mim e disse: “Ah, que dia quente hoje, 30 graus!”. Se até ela conseguiu se acostumar com a mudança [de medir a temperatura em graus Celsius, em vez de Fahrenheit, como é utilizado nos EUA], qualquer um consegue!

Quais seriam as principais vantagens de um sistema de Horário Universal?

Tem um motivo pelo qual todas as linhas aéreas hoje usam o Horário Universal (o de Greenwich), e é para que os aviões não batam uns nos outros. Todo piloto e navegador sabe que horas são. Hoje, nós passageiros não temos as informações que os pilotos têm e acabamos perdendo voos por conta de problemas de horário e fusos e horário de verão... e o problema não é só com linhas aéreas, mas vídeo-conferências também.

Adam Taylor escreve sobre assuntos estrangeiros para o The Washington Post. Nascido em Londres, é formado pela University of Manchester e pela Columbia University.
Tradução de Adriano Scandolara.
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