No verão passado, a Coreia do Norte fez algo meio estranho. No 70.º aniversário de libertação da Coreia da ocupação japonesa, foi feito um pronunciamento pelo estado fechado e autoritário anunciando que ele iria permanentemente atrasar seus relógios em meia hora. O país estava criando o próprio fuso horário: o horário de Pyongyang.
Era um plano que não fazia muito sentido, e muitos o interpretaram, compreensivelmente, como mais um exemplo da falta de lógica que é característica das políticas de Pyongyang. No entanto, o caso também colocou uma outra questão em destaque: o fuso horário é algo que faz pouquíssimo sentido no mundo inteiro.
A Rússia no momento tem 11 fusos, enquanto a China tem só um. Dizem que os espanhóis sofrem de um cansaço constante porque estão no fuso errado. O Nepal, inexplicavelmente, é o único país do mundo a ter um fuso horário com 15 minutos de deslocamento.
Diante desse cenário caótico, seria razoável pensar: será que o próprio fuso horário já não é em si um conceito falho? É o que pensam Steve Hanke e Dick Henry.
A lógica é das mais simples: se for 7 horas da manhã em Washington, D.C., é 7 horas da manhã em qualquer outro lugar do mundo também. Não há fusos. Onde quer que você esteja, a hora é a mesma.
Alguns anos atrás Hanke, um economista de destaque da Johns Hopkins University e pesquisador sênior do think tank do Instituto CATO, e Henry, professor de física e astronomia da Johns Hopkins, se uniram para propor um novo calendário projetado para consertar as deficiências do calendário atual.
O plano foi batizado de “O Calendário Permanente Hanke-Henry”. No mês passado, depois de ler uma notícia do caderno “WorldViews”, do “Washington Post”, sobre o horário de Pyongyang, Hanke veio até nós para detalhar uma outra ideia que ele e Henry esquematizaram, visando pôr ordem no caos causado pelos fusos horários.
O plano era de uma simplicidade chocante. Em vez de tentar regular uma variedade de fusos em todo o mundo, deveríamos, no lugar disso, optar por algo bem mais fácil: acabar com todos os fusos e manter um único “Horário Universal”.
A ideia parece extrema? Talvez sim, mas talvez não. O mapa acima nos dá uma ideia de como é o mundo agora, e como seria se usássemos apenas um único sistema de Horário Universal. A lógica é das mais simples: se for 7 horas da manhã em Washington, D.C., é 7 horas da manhã em qualquer outro lugar do mundo também. Não há fusos. Onde quer que você esteja, a hora é a mesma.
A maioria das pessoas teria que mudar o modo como planejam sua rotina. Em Washington, por exemplo, isso significaria que teríamos que nos acostumar a acordar perto do meio-dia e jantar por volta 1 da manhã .
Embora possa simplificar nossas vidas, no fim das contas, o conceito exigiria algumas grandes mudanças no modo como pensamos sobre o tempo. Como todos os relógios ainda seriam sincronizados com base no Tempo Universal Coordenado (o sucessor da Hora de Greenwich que corre no sudeste de Londres), a maioria das pessoas teria que mudar o modo como planejam sua rotina.
Em Washington, por exemplo, isso significaria que teríamos que nos acostumar a acordar perto do meio-dia e jantar por volta 1 da manhã (tudo bem, talvez para algumas pessoas não seja uma mudança muito brusca).
Mas, como defendem Hanke e Henry, em muitos outros aspectos, o novo sistema facilitaria muito a comunicação, a viagem e o comércio em fronteiras internacionais.
O WorldViews recentemente conduziu uma entrevista por e-mail com Hanke e Henry na qual eles explicam porque precisamos nos livrar dos fusos, porque o Horário Universal é um sistema melhor e porque já chegou a hora também para sua proposta para uma reforma no calendário. As respostas se encontram abaixo, com leves edições, pelo bem da clareza (Hanke e Henry deram respostas conjuntas às perguntas).
Sandford Flemming, um engenheiro ferroviário canadense, foi o primeiro a propor um sistema mundial de fuso horário em 1889: as operações gêmeas do vapor e da eletricidade aniquilaram as distâncias e fizeram com que uma reforma fosse necessária. Hoje a operação da internet aniquilou o tempo e o espaço por completo, preparando-nos para a adoção de um horário mundial.
É a média comum. Essas mudanças continuam indo para lá e para cá como uma bola de futebol política, e tudo isso desapareceria se nossas ideias fossem adotadas.
Geralmente é por motivos políticos, às vezes econômicos. Estamos do lado certo da história: Basta olhar para os EUA, onde o horário local em cada cidade era a norma até serem implantadas as ferrovias, então criaram-se os fusos. Sandford Flemming, um engenheiro ferroviário canadense, foi o primeiro a propor um sistema mundial de fuso horário em 1889: as operações gêmeas do vapor e da eletricidade aniquilaram as distâncias e fizeram com que uma reforma fosse necessária. Hoje a operação da internet aniquilou o tempo e o espaço por completo, preparando-nos para a adoção de um horário mundial.
O ex-presidente russo Dmitry Medvedev consolidou o horário da Rússia em alguma medida em 2010, mas essas reformas foram revertidas por Duma em julho de 2014. A implementação mal-feita de uma boa ideia. Agora a Coreia do Norte adotou uma diferença de meia hora em relação ao horário da China e do Japão. A confusão reina! A Indonésia, onde um de nós [Hanke] trabalhou como assessor econômico para o ex-presidente Suharto durante a crise financeira asiática de 1998, é um país de grande território no qual seria bom prestarmos mais atenção, já que eles propuseram abolir dois de seus três fusos por motivos econômicos, o que colocaria a Indonésia no mesmo fuso horário que Cingapura.
Você está perguntando se alguns desses fios de macarrão são piores do que os outros: não, todos são ruins.
É porque, do ponto de vista da física, só existe UM único horário! E esse princípio da física se alinha com perfeição com os princípios da economia. Esse é precisamente o motivo pelo qual tratamos desse assunto num segmento de um curso na Johns Hopkins sobre economia aplicada.
O horário solar local funcionava bem, mas só quando quase todas as atividades eram locais! Hoje, muitas são globais e UM único horário se faz necessário. Eu (Henry) lembro de uma vez em que a minha mãe, já com idade avançada, no Canadá, virou para mim e disse: “Ah, que dia quente hoje, 30 graus!”. Se até ela conseguiu se acostumar com a mudança [de medir a temperatura em graus Celsius, em vez de Fahrenheit, como é utilizado nos EUA], qualquer um consegue!
Tem um motivo pelo qual todas as linhas aéreas hoje usam o Horário Universal (o de Greenwich), e é para que os aviões não batam uns nos outros. Todo piloto e navegador sabe que horas são. Hoje, nós passageiros não temos as informações que os pilotos têm e acabamos perdendo voos por conta de problemas de horário e fusos e horário de verão... e o problema não é só com linhas aéreas, mas vídeo-conferências também.