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Os 140 caracteres que limitam o tamanho de uma mensagem no microblog Twitter parecem insuficientes em algumas situações. Em outras, no entanto, conseguem concentrar discursos tão contundentes que podem mudar a vida de uma pessoa. E quase sempre para pior.

É o que sentiu na pele – e no bolso – a rapper australiana Iggy Azalea, que teve de cancelar a participação na edição 2015 da parada do orgulho gay de Pittsburgh (no estado da Pensilvânia), umas das maiores cidades os Estados Unidos.

A apresentação da cantora estava prevista dentro de uma festa no dia 13 de junho. Alguns dias antes, contudo, ela postou em sua página no Twitter que precisou cancelar o show depois de ser criticada pela comunidade LGBT por causa de postagens consideradas preconceituosas feitas em 2010, no início de sua carreira.

Tuítes do mal

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When guys whisper in eachothers ear I always think its kinda homo” (“Quando vejo dois caras cochichando um no ouvido do outro ,acho meio homossexual”, em tradução literal), tuitou a cantora na época.

No mesmo post em que anunciou o cancelamento de sua participação no evento, disparado no dia 8 de junho, Iggy Azalea acrescentou estar arrependida se chegou a ofender ou chatear alguém com a mensagem e que acredita firmemente na igualdade de gêneros.

O que parece não ter comovido a legião de pessoas que contestou a atitude da cantora pela frase da qual ela não deve se livrar tão cedo.

Por dentro de tudo

Casos como esse são mais comuns do que se pensa, e engana-se quem acha que qualquer mensagem publicada em qualquer rede social tenha alguma restrição de alcance. No Twitter, principalmente.

Os comentários publicados nessa rede não apenas têm uma abrangência incontrolável como também estão sujeitos a entrar em um ranking dos assuntos mais comentados. Os chamados trending topics (TTs) são uma ferramenta operada por cálculos algoritmos que selecionam automaticamente os dez assuntos mais “falados” em um determinado período de tempo.

“Os trending topics são uma referência importante dentro de um contexto específico, ou seja, eles dão pistas sobre o comportamento de um determinado grupo”, explica Ana Brambilla, pesquisadora especializada em jornalismo digital, em entrevista por e-mail.

Para Ana, essas “pistas”, além de destacarem os assuntos mais interessantes do momento, também têm uma função mais extensiva, que é de analisar determinados comportamentos sociais momentâneos.

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“Essas pistas não levam apenas ao assunto que mais interessa ao público, por exemplo, Neymar. Mas se Neymar aparece nos trending topics às 9 horas da manhã, provavelmente é porque ele está no programa da Ana Maria Braga. Então os trending topics são um indicativo de que o público mais ativo neste momento está assistindo tevê e usa a rede social como segunda tela. Ou seja, os trending topics sempre trazem uma ideia além daquela que refletem de maneira literal”, acrescenta a pesquisadora.

Mas, os TTs não ajudam apenas a desvendar práticas pontuais dos internautas. Em um momento de produção e consumo descomedido de notícias e conteúdos voltados para os mais variados usos e gostos, impulsionados pelas novidades constantes da internet, esse mecanismo também atua confrontando a agenda de informações antes consolidada apenas pelos meios de comunicação tradicionais.

Por isso, Sandra Portella Montardo, professora da Universidade Feevale, no Rio Grande do Sul, e integrante da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura (ABCiber), explica que um dos destaques funcionais dos trending topics também é a possibilidade de destacar o que não entra na pauta de notícias dos veículos normalmente consumidos.

“[Os trending topic] representam uma forma de dar visibilidade a demandas sociais e culturais a partir da atuação das pessoas que estão no Twitter”, comenta Sandra. “Em termos jornalísticos, eles podem trazer à tona temas que não fariam parte da pauta de determinados veículos, representando, assim, uma demanda social que merece ser objeto de atenção desses veículos”.

Os trending topics são uma referência importante dentro de um contexto específico, ou seja, eles dão pistas sobre o comportamento de um determinado grupo.

Ana Brambilla, pesquisadora especializada em jornalismo digital.

Marketing

Contudo, ao mesmo tempo em que carrega uma aplicação informativa e também de entretenimento, os TTs têm sido um grande coadjuvante publicitário e até mesmo manipulador.

Não é de agora que empresas e públicos particulares, como fãs, por exemplo, esquematizam os primeiros lugares da lista para divulgar produtos, novidades e até mesmo informações.

Estudante de doutorado em comunicação, Ana Brambilla conta que resultados preliminares de uma pesquisa que ela vem realizando desde novembro do ano passado mostra que 55% dos tuítes com links que direcionam o leitor para notícias de um grande portal jornalístico são postados por robôs humanos, sob incentivo indireto de uma empresa de telefonia móvel.

A empresa de telefonia, segundo Ana, premia os usuários que mais usam as redes sociais, e para “facilitar” o processo, esses usuários acionam robôs em seus próprios perfis de Twitter, que transformam em tuítes todas as novas notícias publicadas por um determinado site.

“Além de generalizar a popularidade de um tema, que é importante para um grupo xis enquanto entendemos que reflete a preferência de toda uma sociedade, nem todos os usuários que se manifestam nas redes, sobretudo no Twitter, são tão honestos. Isso polui a rede e cria um panorama falso da popularidade de certos conteúdos”.

Novo aplicativo explica trending topics

A pluralidade cultural dos internautas faz com que os trending topics nem sempre sejam tão óbvios. Pensando nisso, o Twitter lançou, em abril um aplicativo capaz de explicar as hashtags ligadas aos assuntos mais comentados em um determinado período

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Sandra Montardo lembra que os trending topics podem representar até mesmo interesses menos comerciais, mas ainda assim específicos, “como fãs de determinado artista, banda, ou seguidores de políticos que se organizam online para fazer alguma hashtag se tornar TT e dar visibilidade a algum tema em especial”.

Aliás, se você tem algum contato com o mundo lá fora já deve ter ouvido, alguma vez na vida, essa que tem sido uma das palavras mais usadas no mundo virtual (e fora dele também): hashtag.

Em termos práticos, é nada mais nada menos que uma palavra qualquer, tipo “Neymar”, antecedida pelo símbolo # – o famoso “jogo da velha”.

Ainda que objetivamente não pareça ser algo tão complexo, não se engane. Esse dispositivo, mais do que um distintivo da cultura virtual, serve como um classificador de conteúdos publicados nas redes sociais que ajuda os conteúdos a bombarem ainda mais na internet.

Isso porque, quando é usada, a hashtag cria uma interação do conteúdo com os outros integrantes da rede social que estão falando sobre o mesmo assunto, elevando as possibilidades de o tema aparecer na lista de assuntos mais lidos.

Mas por que um trending topic tem uma importância tão grande dentro dessa rede social?

“Ao ver aí um determinado hashtag, ou na lista de trending topics do momento, o internauta poderá se interessar pelo tema, potencializando a formação de uma bola de neve quando faz um retuíte ou cria um novo tuíte para expressar sua opinião utilizando o mesmo hashtag”, explica Juliana Colussi, pesquisadora em redes sociais e ciberjornalismo. “Portanto, o trending topic pode influenciar nos temas abordados pelos usuários”.

Acredite se quiser, mas o fato é que posts preconceituosos disparados nas redes sociais podem mesmo ser casuais, ou seja, sem intenção de ofender.

A psicóloga e consultora em desenvolvimento humano, Cleila Elvira Lyra, acredita que algumas pessoas não têm capacidade de presumir o desdobramento de determinadas mensagens.

“São tão alienadas em algum tipo de sistema social e cultural que se colocam numa posição de que aquilo é certo e não percebem que é preconceito”, explica.

Já os fatos intencionais – aqueles em que o internauta sabe em que campo está entrando – podem significar uma maneira de fortalecer o espírito exibicionista da própria pessoa. “Na maioria dos casos, faz parte da estrutura psicológica da pessoa. É assim que ela se reconhece. Mas, a maior punição que você dá para exibicionista é ignorá-lo”.

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