DVD
A Traição do Falcão (foto ao lado)
Estados Unidos, 1985. Direção de John Schlesinger. MGM. Preço médio: R$ 29,90 (exclusivamente no site www.livrariacultura.com.br). Suspense.
Baseado em fatos verídicos, A Traição do Falcão é um daqueles filmes que nunca foram muito populares nos Estados Unidos. Afinal, seus protagonistas são "traidores" da pátria, irmanados com o inimigo durante a Guerra Fria. O hoje sumido Timothy Hutton (vencedor do Oscar de melhor ator coadjuvante por Gente como a Gente) é Chris Boyce, um funcionário do Ministério da Defesa que descobre documentos capazes de provar que a CIA está secretamente pressionando governos estrangeiros em jogos geopolíticos que sempre visam aos interesses dos EUA, Sean Penn, genial como de hábito, vive Daulton, melhor amigo de Chris, um sujeito de fala rápida, à beira do irritante, que o convence a vender a informação ao governo da União Soviética. A "brincadeira", que no início mais parece uma traquinagem adolescente, acaba se transformando em escândalo internacional.
Por que assistir: Sob a direção segura de John Schlesinger (do premiado Perdidos na Noite), A Traição do Falcão flui com tensão e suspense ao som da ótima trilha sonora de Pat Matheney e da canção-tema "This Is Not America", na voz de David Bowie. Um bom drama adulto dos anos 80. (PC)
Livro 1
Zoologia Bizzara (foto 1)
Ferreira Gullar. Casa da Palavra. 84 págs. R$ 55. Infantojuvenil.
O poeta Ferreira Gullar sempre se permitiu brincar. Em sua casa, no Rio de Janeiro, ele diz que, na companhia do seu gato, chamado Gatinho, acontecem festas com papéis, em tese, destinados ao lixo, como convites, folhetos e jornal velho. Ao cortar, colar e misturar a papelada, Gullar vislumbrou um livro, que acaba de chegar às livrarias. Trata-se de Zoologia Bizarra, no qual uma colagem que sugere formas de animais sempre em diálogo com um poema.
Por que ler: Em primeiro lugar, porque se trata de um livro de Ferreira Gullar, um dos mais importantes poetas brasileiros, sempre rigoroso em sua produção. Inserido no contexto da reciclagem, o artista da palavra espelhou, lado a lado, poesia e imagem. Os desenhos que ele encontrou a partir de recortes receberam legendas de luxo, as pérolas poéticas que esse escultor de frases certeiras costuma produzir. "A árvore voa no pássaro que a deixa" é um exemplo do talento de Gullar. O poeta ainda encontra jeito de rir do ser humano e, nesses momentos, é arrebatador: "O mal dos bichos foi aprender a falar conosco." (MRS)
CD 1
Lisbon (foto 2)
The Walkmen. Fat Possum. Importado. Preço médio: US$ 14. Indie rock.
Apesar de incluído no enorme balaio do indie rock, o quinteto norte-americano The Walkmen é um dos poucos a possuir uma sonoridade bastante específica, calcada na tradição nova-iorquina de nomes como The Velvet Underground e Bob Dylan.
Em seu sexto álbum, o recém-lançado Lisbon, a banda continua a explorar os elementos que a destacam das demais formações do mesmo gênero: guitarras dissonantes, bateria entrecortada e melodias vocais que só podiam sair da garganta de Hamilton Leithauser, dono de uma voz bastante peculiar.
Versando em sua grande maioria sobre ressentimentos e arrependimentos a trilha sonora perfeita para losers de plantão, na opnião de muitos as canções de Lisbon variam entre a intensidade e a delicadeza. Na primeira categoria, encaixa-se a explosiva "Angela Surf City", mais acelerada, de batida surf rock. Na segundo quesito destacam-se a semi-acústica "Blue as Your Blood" e a singela "Woe Is Me" (também de pegada surf).
Por que ouvir? Vale a pena dar mais uma chance a esses nova-iorquinos, que parecem ter recuperado a capacidade de criar boas melodias após o estranho e quase inaudível You & Me (2008). (JG)
Internet
Memória Funarte (foto 3)
www.funarte.gov.br/brasilmemoriadasartes/
A Funarte mantém um centro de documentação no Rio de Janeiro, que guarda fotos e gravações de áudio e vídeo que são relevantes para a história da produção artística brasileira. Com a internet, abriu-se a possibilidade do acervo ser oferecido de forma simples e democrática para qualquer pessoa com interesse ou curiosidade para conhecer e desfrutar dessas pequenas viagens no tempo. Está lá, por exemplo, o registro documental do Projeto Pixinguinha, que a partir de 1977 passou a rodar o Brasil levando shows, a preços populares, de músicos brasileiros. O projeto foi um sucesso, mas enfrentou a má vontade da censura mantida pelo governo militar da época. O produtor do Pixinguinha, Hermínio Bello de Carvalho, fez questão de registrar todos os shows. Graças a isso, hoje se pode ver no site da Funarte, além de artigos sobre o projeto e o roteiro de cada show, o áudio de músicas apresentadas.
Preste atenção: Cartola canta seus sambas com João Nogueira. Henriette Morinau fala de sua trajetória no teatro brasileiro. Nelson Rodrigues interpreta o papel de tio Raul em uma montagem da peça Perdoa-me por me Traíres, em rara participação nos palcos, que foi generosamente registrada por fotos. (MS)
Livro 2
Eu Vos Abraço, Milhões (foto 4)
Moacyr Scliar. Companhia das Letras. 253 páginas. R$ 40. Romance.
Em Eu Vos Abraço, Milhões, Scliar usa uma linguagem direta para contar a história de Valdo, um brasileiro que viveu sua infância e juventude entre os anos 20 e 30. Filho de pai pobre que era humilhado pelo patrão, Valdo teve a curiosidade pelo mundo despertada pela chance de estudar e de ler bons livros. A amizade com um jovem simpatizante do comunismo faz com que ele acredite que encontrou um caminho para melhorar o mundo, resgatando a dignidade de pessoas humildes. Scliar prepara uma ironia para o comunista e ateu Valdo. Ele parte para o Rio para se juntar ao Partido Comunista, mas se vê obrigado a trabalhar como operário na construção do Cristo Redentor. O personagem vive, ao longo do livro, duas realidades brasileiras: a do interior do Rio Grande do Sul, onde a masculinidade é o elemento mais forte e, por isso mesmo, a humilhação imposta aos trabalhadores humildes é ainda mais agressiva, e a da capital federal, onde a vida política gira em torno de si mesma e desilude os bem-intencionados.
Por que ler? Eu Vos Abraço, Milhões é a saga de um brasileiro, contada em um romance de leitura fácil e que se torna mais saborosa graças às referências a fatos verídicos, que recriam o clima do Brasil da primeira metade do século 20. (MS)
CD 2
Going Back (foto 5)
Phil Collins. Atlantic/Warner.Preço médio: R$ 29,90. R&B/Soul.
Aos 59 anos, o cantor e baterista britânico Phil Collins resolveu sair de uma semiaposentadoria para gravar seu novo disco, Going Back. Embora seja autor de dezenas de hits, sobretudo na década de 80, o músico quis agora exercitar apenas seus talentos de intérprete e gravar canções da fase áurea da gravadora norte-americana Motown. Músicas que ele ouviu muito durante sua adolescência na Inglaterra dos agitados anos 60. No álbum Hello, I Must Be Going!, ele já havia feito sucesso com uma releitura de "You Cant Hurry Love", hit do trio feminino The Supremes, e agora resolveu fazer um álbum inteiro dessas perolas do rhythm & blues e da soul music, gravado com todo o requinte técnico do século 21, mas sem pirotecnias. Tanto que soa como um disco produzido nos estúdios do famoso selo de Detroit.
Por que ouvir: Collins acerta em cheio, por exemplo, no seu cover da linda balada "Never Dreamed Youd Leave in Summer", do grande Stevie Wonder. Ótima também é sua versão de "(Love Is Like a) HeatWave", primeiro single do CD que conta com a participação de três dos lendários Funk Brothers, Bob Babbitt, Ray Monette e Eddie Willis. (PC)
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