HQ
Logicomix Uma Jornada Épica em Busca da Verdade
Apostolos Doxiadis e Christos H. Papadimitriou. Martins Fontes, 348 págs., R$ 65. Quadrinhos.
Uma história em quadrinhos sobre as ideias da Matemática e da Física modernas que também discute os limites entre a lógica e a loucura. Os temas podem parecer densos para a arte sequencial, mas a agilidade da narrativa e a rica história de vida do protagonista fazem de Logicomix um dos lançamentos mais interessantes a chegar ao mercado brasileiro de HQs este ano.
Idealizado por Apostolos Doxiadis um dos pioneiros no estudo da interação entre Matemática e narrativa ficcional, preceito que baseia seu best seller, Tio Petros e a Conjectura de Goldbach (1992) , Logicomix retrata a vida do filósofo e matemático Bertrand Russell (1872-1970) e sua incessante busca por estabelecer os fundamentos lógicos de todos os princípios matemáticos, processo que o levou ao limiar da insanidade.
Iniciada nas últimas décadas do século 19, a narrativa se estende até a Segunda Guerra Mundial, interligando meticulosamente a vida de Russell, o caráter perene de suas ideias e a angustiante busca do filósofo pela verdade absoluta, caminho no qual ele cruza com pensadores lendários, como Gottlob Frege (1848-1925), David Hilbert (1862-1943), Kurt Gödel (1906-1978) e Ludwig Wittgenstein (1889-1951).
Em ilustrações arrojadas, a trama inclui ainda o próprio processo de criação da obra os roteiristas, consultores e desenhistas de Logicomix também são personagens, que volta e meia aparecem em cena, preocupados em saber se as informações técnicas contidas no roteiro não seriam excessivamente cifradas para o leitor médio. Um romance histórico rico e original, quadro a quadro.(JG)
CD 1
Music for Small Hours
Clarke Boland Sextet. Biscoito Fino, preço médio: R$ 38,40. Jazz.
Embora possa causar um certo estranhamento nos primeiros minutos, o disco de dez faixas do sexteto liderado por Kenny Clarke (bateria) e Francy Boland (piano), daí "Clarke Boland Sextet", consegue usar ritmos latino-americanos para criar leituras novas de grandes composições do jazz. A melhor maneira de experimentar a proposta das "Músicas para a madrugada" é tocar a faixa dois, "Lush Life", de Billy Strayhorn, com vocais do baixista Jimmy Woode. Todo o disco soa familiar, o que pode ser bom algumas vezes e ruim em outras. Bom porque oferece o conforto de uma atmosfera que pode ser descrita como brasileira e ruim porque parece mais do mesmo. De qualquer forma, é um dos bons títulos do selo de jazz da gravadora Biscoito Fino. A verve latina funciona muito bem em "Lorraine", composta pelo trompetista Dizzy Gillespie provavelmente porque Dizzy adorava música cubana. E de novo na simpática "Ensandinado", quando reaparece a voz de Woode. (IBN)
Livro
Os Incríveis Infortúnios de um Escritor Aprendiz
Florian Zeller. Rocco, 208 págs., R$ 34,50. Romance.
Florian Zeller tem 30 anos e, apesar da relativa pouca idade, já construiu reputação no universo da literatura. O escritor francês, autor de outros três livros, já foi premiado e mostra mais uma vez por que vem sendo elogiado continuamente neste novo romance.
Os Incríveis Infortúnios de um Escritor Aprendiz apresenta a trajetória de Julien Parme, um adolescente que perdeu o pai e que não parece mais encontrar espaço dentro da casa onde vive.
O convívio com a mãe torna-se insuportável devido à presença do namorado dela e, depois de não aguentar mais a aparente falta de ar e de ambiente para viver, Julien decide fugir.
A ironia e o humor temperam cada linha dessa longa narrativa.
Julien é engraçado.
Ele, apesar de ainda não ter produzido uma obra, já se imagina famoso, rodeado por fãs, dando entrevistas, rico e a sorrir continuamente.
O livro tem qualidades, principalmente quando o texto mistura as ações do jovem personagem com as reflexões que ele, mesmo sendo confuso, consegue elaborar. Afinal, fica claro, o escritor Florian Zeller escreve sobre um período confuso da vida de um humano, mas ele tem clareza a respeito do que está fazendo. (MRS)
CD 2
Pra Gente Fazer mais um Samba
Wilson das Neves. mp,b/Universal Music, preço médio: R$ 28. Samba.
Wilson das Neves é coisa fina. O baterista preferido de Chico Buarque ("Hoje não subo ao palco sem ele. Ele é o pulso da banda, termômetro, técnico do time, rei da anedota e pajé", assume Chico no encarte do disco) esbanja elegância em mais um álbum repleto de sambas, daqueles de verdade. Este é o terceiro trabalho do baterista, que se assume de vez como intérprete e compositor.
Se o trato de Neves, 74 anos, com as baquetas é delicado, preciso, inconfundível enfim, há outros bons motivos para ouvir o disco. A primeira faixa, uma das sete parcerias com Paulo César Pinheiro e que dá nome ao álbum, remete aos sambas de gafieira. Há um ar clássico, mas o cheiro de naftalina passa muito longe.
Outros parceiros da Velha Guarda do Império Serrano dão as caras. Com Delcio Carvalho e Arlindo Cruz, das Neves compôs "Estava Faltando Você" e "Não Dá", respectivamente. No instrumental, completam a plêiade o pianista João Carlos Rebouças, o baixista Zé Luiz Maia, o trombonista Vitor Santos, os violonistas Claudio Jorge e Jorge Helder e o baterista André Tandeta. (CC)
Site
The Perry Bible Fellowship
Na internet: www.pbfcomics.com
É uma tarefa quase diária que invariavelmente acaba em um riso efêmero, porém sincero. Acessar o site The Perry Bible Fellowship (http://www.pbfcomics.com), descobri, é um bom truque para esquecer da rotina, espairecer a cabeça, desanuviar as ideias. Criadas no começo dos anos 2000 pelo norte-americano Nicholas Gurewitch, as tirinhas tiveram origem no jornal The Daily Orange, da universidade de Syracuse, no estado de Nova York. Compostas de três ou quatro quadros rápidos, sugerem mini-histórias baseadas em um humor que beira o surreal. Os temas e diálogos (em inglês) certeiros, incluem religião, sexualidade, ficção científica e morte.
No site, tentação é passar horas clicando no link "random", (aleatório), que mescla temas e datas das tiras. A PBF já recebeu oito prêmios dos chamados web cartoons. Entre eles o Ignatz Award em 2005 e 2006 e o Web Cartoonist Choice Award em 2006 e 2007. O sucesso culminou em 2008, com a vitória em uma das categorias do prêmio Eisner, o mais importante das HQs. Apesar de ter outros colaboradores, como Evan Keogh e Albert Birney, o site foi atualizado com novas tiras pela última vez em junho deste ano. Mesmo assim vale a pena "perder" tempo com os desenhos mais antigos. (CC)
Exposição
Kuarup A Última Viagem de Orlando Villas Bôas
Galeria da Caixa (R. Cons. Laurindo, 280 Centro), (41) 2118-5114. De terça-feira a sábado, das 10 às 21 horas, e domingo, das 10 às 19 horas. Até 15 de agosto.
O grande caderno em que o sertanista Orlando Villas Bôas (1914-2002) anotava a lápis e com letras miúdas todos os acontecimentos de suas expedições às florestas é, talvez, o ponto alto da exposição Kuarup A Última Viagem de Orlando Villas Bôas, que reúne 40 fotografias de Renato Soares, mapas, textos explicativos e utensílios pessoais do sertanista pertencentes ao acervo da família.
São esboços que originariam alguns dos mais importantes livros sobre os povos indígenas do Xingu, a quem ele e seus irmãos, Claudio (1916-1998) e Leonardo (1918-1961), se dedicariam durante mais de 50 anos para lhes assegurar a sobrevivência em um período de povoamento do oeste brasileiro. O empenho pessoal dos irmãos resultou na criação, em 1961, do Parque Indígena do Xingu, que reúne representantes das principais famílias linguísticas brasileiras.
As imagens coloridas de Soares documentam a maior cerimônia de Kuarup já realizado, dedicada a Orlando, em 2003, poucos meses após sua morte. A palavra designa um tipo de madeira e também o ritual dos povos do Xingu de homenagem aos mortos ilustres, colocados no mesmo nível dos ancestrais da tribo.
A mostra, com trilha sonora indígena, reúne ainda os facões, a caneta e o cantil do sertanista, além de objetos indígenas e retratos de Orlando e de Cláudio feitos por Poty Lazzarotto nos anos 60, e o desenho "Índios em Festa", de Carybé, de 1973. (AV)
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