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CDQuadrophenia

The Who. Universal. Preço médio: R$ 50,90. Rock

Em 1973, quando Quadrophenia chegou ao mercado pela primeira vez, o The Who já era escolado na ambição da ópera-rock. Quatro anos antes, Pete Townshend, Roger Daltrey, John Entwistle e Keith Moon haviam lançado a obra-prima do gênero, Tommy. Se daquela vez a linha narrativa seguia a trajetória de um garoto surdo, mudo e cego que se tornaria uma espécie de messias, em Quadrophenia – que foi relançado recentemente em edição especial – a história acompanha os desafios da maturidade encarados por um jovem na metade dos anos 1960. As composições do álbum têm forte caráter autobiográfico. Àquela altura da carreira, o The Who tentava se desvencilhar da estética e do movimento que eles próprios ajudaram a popularizar na década anterior: a cena mod – de adolescentes rebeldes, beberrões, fãs de lambretas e que curtiam um R&B aceleradíssimo. O fato de o protagonista das canções sofrer de personalidade quádrupla (!) também é uma analogia aos quatro integrantes da banda e suas visões muito diferentes sobre os rumos musicais a serem tomados. Confuso e pretensioso demais no tema, Quadrophenia sai perdendo na comparação com Tommy. Mas, analisado por seus próprios méritos e pela música em si, o disco ainda é um dos melhores da fase pré-punk do rock setentista.

Preste atenção nos extras desta "versão do diretor", como a edição especial foi batizada – sem modéstia alguma – por Pete Townshend. O guitarrista incluiu aqui 11 faixas demo (tocadas por ele sozinho). Duas delas acabaram nem entrando na versão oficial do disco. Tudo isso, é óbvio, sem falar nas clássicas "5:15" e "Love Reign O’er Me", aqui remasterizadas. (JPP)

DVD/Blu rayMissão Madrinha de Casamento

Estados Unidos, 2011. Direção de Paul Feig. Universal. Apenas para locação. Comédia

A fronteira entre o humor escrachado e o mau gosto pode ser muito tênue. Missão Madrinha de Casamento, indicado aos Oscars de melhor roteiro e atriz coadjuvante (Melissa McCarthy), brinca o tempo todo com esse limite. E se sai surpreedentemente bem. O filme tem a seu favor o fator surpresa de ser uma comédia que eviscera, sem dó nem piedade, a problemática, complexa e hilariante relação entre um grupo de mulheres. Embora seja dirigido por um homem, Paul Feig (dos seriado The Office), o filme tem uma "dona": Kristen Wiig (do elenco atual de Saturday Night Live), coprodutora, corroteirista e protagonista. A comediante vive o papel de Annie, uma mulher cuja vida é um desastre, mas que pode contar com uma grande amiga, Lillian (Maya Rudolph, que também já foi do SNL), prestes a se casar. Íntimas desde a infância, e, seguindo a tradição norte-americana, Lillian convida Annie para ser sua madrinha de casamento principal, encarregada de organizar todas as festividades pré-nupciais, como chá de panela, festa de despedida de solteira e outros eventos menores.

Por que assistir? O filme se beneficia de ótimos diálogos, situações hilariantes e personagens bem delineados – preste atenção na impagável irmã do noivo, Megan (Melissa McCarthy). Em meio a um verdadeiro tsunami de comédias no mesmo estilo "casca grossa", Missão Madrinha de Casamento se destaca por brincar com o chulo sem com ele se confundir, embora alguns possam se chocar. (PC)

HQCastelo de Areia

Frederik Peeters e Pierre-Oscar Lévy. Tradução de Diogo Rodrigues de Barros. Tordesilhas, 104 págs., R$ 34,90.

Estreia da editora Tordesilhas no ramo dos quadrinhos, Castelo de Areia é uma graphic novel com ares fantásticos, absurdos e catastróficos. Trata-se de duas famílias, um casal e um árabe que, sem se conhecerem, veem-se unidos ao descobrir o cadáver de uma mulher boiando no mar do balneário que pretendiam visitar. O mistério do aparente crime, que levanta mais acusações do que suspeitas, logo é ofuscado por um fato ainda mais bizarro: o tempo se acelera naquela estranha praia, fazendo com que os personagens envelheçam anos em apenas algumas horas. Diante da impossibilidade de lidar com a nova realidade ou reverter o processo, cada personagem lida com a morte iminente de um jeito diferente.

Por que ler? Com um traço habilidoso e uma premissa simples sem ser óbvia, o documentarista francês Pierre-Oscar Lévy e o desenhista suíço Frederik Peeters discutem questões existenciais importantes, como a percepção do tempo e as prioridades de cada geração. (YA)

LivroMirinha

Dalton Trevisan. L&PM Pocket. 87 págs. R$ 12. Novela

Mirinha não fala muito e, mesmo assim, é uma das personagens de Dalton Trevisan que melhor se comunica com o leitor. Ela cresce diante dos olhos de quem lê, de menina ingênua e apaixonada a mulher desiludida, porém decidida. Mirinha pode não saber como cuidar da própria vida, mas sabe bem o que não quer para si. Como a Polaquinha, protagonista do único romance de Trevisan, esta loira curitibana que atrai homens egoístas acaba se mostrando superior a eles. É possível fazer várias leituras da história de Mirinha, uma delas é que a mulher tratada como objeto sexual é – ironicamente – a senhora de seu destino, ainda que através de uma resistência dolorosa e solitária.

Por que ler? O texto flui com uma agilidade que só um escritor experiente e bem equipado como Trevisan consegue ter. As marcas registradas do Vampiro estão lá – e você vai reclamar disso? Nem eu.(MS)

SiteNara Leão

www.naraleao.com.br

Lançado no início de janeiro, mês em que a cantora faria 70 anos, o site oficial de Nara Leão reúne um material precioso. Traz a biografia da artista, com cronologia de discos e de fotos desde o seu nascimento, em Vitória, em 19 de janeiro de 1942, passando pela sua participação na bossa nova e seu reconhecimento como uma das maiores cantoras do Brasil, até sua morte, em 1989, no Rio de Janeiro. Além das fotos e documentos digitalizados, o site oferece o áudio da discografia completa de Nara em streaming, com todas as letras e textos dos encartes originais.

Por que ouvir? Nara Leão, além de musa da bossa nova, foi uma das maiores propulsoras da MPB, que começava a se definir como um movimento musical à época do revolucionário disco de estreia, Nara(1964) – em que gravou composições de Cartola, Zé Ketti e Nelson Cavaquinho, além de promover novos compositores. Ela também protagonizou a peça Opinião, um dos marcos da música brasileira, que delineou os traços políticos do movimento que surgia. Além de sua relevância para a cultura brasileira, também fez escola como cantora, influenciando gerações de musicistas. (RC)

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