G Indica

• 0

Revista

Helena 5

Secretaria de Estado da Cultura do Paraná, 76 págs., distribuição gratuita e dirigida. Cultura.

Uma reportagem profunda, analítica e até política sobre a Kracóvia, aquele salaminho feito com lombo de porco? A quinta e mais recente edição da revista Helena, publicação trimestral da Secretaria de Cultura do Paraná, tem. Um perfil detalhado da rapper curitibana Karol Conka, que deixou as quebradas do Alto Boqueirão para brilhar em Paris? Tem também. Se em suas primeiras edições a revista que homenageia a poeta Helena Kolody (1912-2004) pecava pelo excesso, por ser muito hermética em suas pautas e no tratamento dado a elas, agora a publicação demonstra uma bem-vinda diversificação. E, de quebra, um bom-humor na medida.

A função de promover e divulgar os acontecimentos do Paraná se dão, agora, por meio de reportagens muito bem conduzidas. Luiz Andrioli, por exemplo, discorre sobre a primeira montagem de O Grande Circo Místico no Teatro Guaíra, em 1983. E não é só texto. Na última edição, a sessão "Vi Shows" traz fotos de Rodrigo Juste Duarte, que registrou espetáculos tanto em "suntuosas casas de shows" como em "rudimentares porões alternativos." Dá gosto.

Onde encontrar? A revista Helena está disponível gratuitamente na Biblioteca Pública do Paraná (R. Cândido Lopes, 133, Centro) e na internet (issuu.com/revistahelena). A página da publicação no Facebook (www.facebook.com/revistahelena) traz conteúdo exclusivo. (CC)

Infantil

Aventuras de Alice no País das Maravilhas

Lewis Carroll. Ilustrações de Yayoi Kusama. Tradução de Vanessa Barbara. Globo Livros, 184 págs., R$ 59,90.

À primeira vista, o lindo livro encadernado em tecido chama a atenção por não trazer ilustrações da menina Alice, costumeiramente retratada como uma garota loira num vestido rodado. Surge então a hipótese de que o objetivo seja deixar livre a imaginação das crianças, sem empurrar uma versão pré-moldada para a divertida protagonista.

Uma pesquisa sobre a ilustradora, a japonesa Yayoi Kusama, revela que a opção pelos círculos, brancos, pretos e azuis que povoam as 184 páginas do livro quadrado não é tão espontânea assim: a artista, de 85 anos, pioneira da pop arte e do minimalismo, conta sofrer de alucinações desde a infância, que a fazem ver círculos por tudo e influenciam sua arte. Ela própria pediu para ser internada há 40 anos, o que não a impediu de continuar criando.

Seja qual for a fonte de suas ideias, elas tornaram essa versão da obra mais famosa de Lewis Carroll algo pouco óbvio e bastante surpreendente.

Tradução: O texto da jornalista Vanessa Barbara vem numa prosa cristalina e animada, tal qual o original. O mais bacana é o uso na diagramação de fontes de tamanhos diferentes, em trechos que se assemelham à poesia concreta. (HC)

CD 1

Nordeste de Paris

Nicolas Krassik e Cordestinos. Independente. R$ 35 (em www.superlativastore.com.br).

Segundo disco do músico francês radicado no Brasil com o grupo Cordestinos, que tem Marcos Moletta (rabeca), Guto Wirtti (baixo), Carlos César e Chris Mourão (percussões), Nordeste de Paris mostra a relação profunda que Nicolas Krassik estabeleceu com a música brasileira. O violinista, que toca com artistas do naipe de Gilberto Gil – presente na releitura de "Refazenda" – assina a maioria das faixas do disco, que mistura elementos regionais e instrumentos tradicionais a recursos modernos, como em "Soturno".

Com composições sofisticadas e sonoridade contemporânea, Nordeste de Paris dilui elementos como o baião, a música clássica e o rock em linguagem mundial.

Preste atenção: A capa do disco é uma referência bem-humorada à proposta artística de Nicolas Krassik e os Cordestinos. Um triângulo desses usados no forró homenageia o icônico prisma do clássico The Dark Side of the Moon (1973), do Pink Floyd. (RRC)

CD 2

Luminous

The Horrors. XL Recordings. Importado. US$ 12 (CD) e US$ 9,99 (iTunes). Indie rock.

Lançado há pouco menos de duas semanas, o quinto álbum da banda inglesa de Horrors segue a mesma linha de seu antecessor, Skying (2011), em que se ouviam fortes ecos de Madchester – a cena alternativa, dançante e psicodélica desenvolvida em Manchester, na Inglaterra, no início dos anos 90.

A influência agora pende para o lado mais dançante, mas ainda com forte referência psicodélica, a exemplo de álbuns clássicos da época, como Screamadelica (Primal Scream) e Pillls ‘n’ Thrills & Bellyaches (Happy Mondays).

Como ouvir? Comece com a acelerada e ruidosa faixa de abertura "Chasing Shadows"; passe para a climática "So Now You Know"; viaje na psicodelia arrastada de "Jealous Sun"; lembre de Echo & the Bunnymen ao som de "I See You"; e termine com a melancolia romântica da belíssima "Change Your Mind". Sem dúvida, uma das melhores e mais inventivas bandas do rock atual. (JG)

HQ

Malcom

Fábio Massari. Ilustrações de Luciano Thomé. Edições Ideal, 53 págs., R$ 39. Quadrinhos.

Uma história em quadrinhos narrando a lendária entrevista que o reverendo Fábio Massari fez com o mestre dos magos da música punk Malcom McLaren (1946-2010). A cena aconteceu no ano de 1995, quando o produtor e agitador inglês visitou os estúdios da antiga MTV Brasil, onde Massari era apresentador.

McLaren falou pelos cotovelos sobre muitos assuntos em uma conversa que durou mais de uma hora. Porém, apenas cinco minutos foram ao ar e o documento ficou perdido nos arquivos da emissora durante 19 anos.

Quatro anos depois da morte de McLaren, o episódio foi transformado em HQ por Luciano Thomé. Suas páginas mostram a expectativa, a entrevista em si, os bastidores e faz pequenas digressões narrativas para explicar fatos e mostrar pessoas citadas por ambos ao longo do papo.

Porque ler? McLaren fala da invenção dos Sex Pistols e todas as brigas e picaretagens que ela envolve. Lembra a visita ao Brasil para encontrar o lendário ladrão inglês Ronald Biggs (1929-2013), e fala de sua carreira solo e da música pop de uma maneira muita aberta e inusitada. O livro tem posfácio do jornalista André Barcinski. (SM)