Livro 1Todas as Famílias Felizes (foto 1)Carlos Fuentes. Rocco. 341 págs. R$ 45,50. Contos.Ler Carlos Fuentes não é das tarefas mais fáceis. Tanto devido a sua linguagem ágil, que muda de voz narrativa de forma quase imperceptível e surpreendente, mas principalmente pelo tema de seu mais recente livro: as relações familiares. Em 16 contos os títulos crueis vão desde "Uma Prima sem Graça" a "O Irmão Incômodo", os textos tratam basicamente do encadeamento da vida entre pai, mãe, filho, prima. Até um papagaio aparece. Sempre com um pano de fundo político marca do autor mexicano os contos são "arrematados" por poesias e textos quase concretos, que abordam o tema "família" a partir de um pressuposto focado mais na condição social e menos nas relações humanas. São os chamados coros, "das mães de rua", "dos compadres rivais", "das crianças sofridas". O que mais nos toca em sua prosa, entretanto, é o pessimismo cruel com que fotografa a família. Da relação entre pai e mãe surge a desilusão. Então, Fuentes prega que "ser casal é uma doença. Um mal. Não é verdade que o casal seja o egoísmo perfeito entre duas pessoas. O casal é o inferno compartilhado". Da relação nada afetiva entre três irmãs que mal se veem, sugere que "a regra mudou para nos dizer que a ausência nos separa e nos torna indesejáveis. Gostaríamos de nos consumir uns aos outros. Se não conseguimos, não nos odiamos. Simplesmente nos ignoramos". (CC)* * * * *
Exposição
Flávio Damm Fotógrafo (foto 2)
Museu Oscar Niemeyer (Rua Marechal Hermes, 999). Terça a domingo, das 10 às 18 horas. R$ 4 (inteira) e R$ 2. Até 28 de março. Fotografia.
Alguns fotógrafos conseguem retratar pessoas nas ruas sem assustá-las ou tirar-lhes a naturalidade. São notados, mas adotam uma postura que não assusta o modelo involuntário. O gaucho Flavio Damm exerceu esse talento durante 60 anos, fotografando para a imprensa brasileira. Uma seleção de seus retratos está no MON, em uma mostra que foi prorrogada por mais um mês (inicialmente, ela terminaria hoje). Em imagens feitas em vários estados brasileiros e no exterior, vê-se a integração entre pessoas e o ambiente. A mãe e a criança que trocam carinhos no gramado de um parque europeu parecem estar ali para compor um quadro harmonioso, quando nada mais são que elementos naturais e espontâneos da vida urbana.
A presença dos trabalhos de Damm no Museu Oscar Niemeyer, assim como de outras mostras que a precederam, vai confirmando ao espaço mais visitado da capital a condição de local privilegiado para a fotografia. Lá, as exposições podem ser vistas por muita gente, conseguindo uma projeção interessante para uma arte que tem potencial para ser popular. (MS)
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CD/DVD
The Killers Live at Royal Albert Hall (foto 3)
The Killers. Universal Music. Preço médio: R$ 49,90. Rock.
Dá para entender por que a banda norte-americana The Killers se torna, álbum a álbum, objeto de culto. E até mais na Europa do que em sua terra natal, onde sua música ainda é considerada "sofisticada demais" para o gosto médio. Ao contrário de outros artistas, que deitam em berço esplêndido quando fazem um disco de sucesso, o grupo liderado pelo exuberante vocalista Brandon Flowes parece ter imenso prazer em apresentar-se ao vivo. Prova disso é este combo CD + DVD, registro dos shows realizados nos dias 5 e 6 de julho do ano passado no Royal Albert Hall, tradicional casa de espetáculos em Londres.
O DVD, primeiro na carreira do The Killers, traz em vídeo de alta definição a apresentação de 22 canções, que vão desde hits do primeiro CD da banda, Hot Fuss ("Somebody Told Me," "Smile Like You Mean It," "Mr. Brightside," "All These Things That Ive Done," "Jenny Was A Friend Of Mine"), passa pelo mais controverso e experimental Sams Town ("For Reasons Unknown," "Bling (Confessions of a King)" "Sams Town )" "Read My Mind," "The River Is Wild," "Bones," "When You Were Young"); até chegar ao último e ótimo disco de estúdio do grupo, Day & Age ("Human," "This Is Your Life," "The World We Live In," "Joy Ride," "I Cant Stay," "Losing Touch," "Spaceman," "A Dustland Fairytale"). O pacote também inclui, além de cenas de bastidores e registros de outras apresentações, um CD de 24 faixas, também gravado ao vivo na capital britânica. (PC)
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Livro 2
Viva o Brasil! (foto 4)
Xavier Roy. Imprensa Oficial do Estado de São Paulo e Instituto Totem Cultural. 136 pág. R$ 60. Ensaio fotográfico.
O contrabaixista Glauco Sölter costuma dizer que começou a entender o Brasil a partir do momento em que passou a se apresentar em palcos no exterior. "A partir do olhar e da percepção do estrangeiro é que me dei conta de como é ou pode ser entendida a nossa cultura", diz Sölter.
O ponto de vista do músico que vive em Curitiba faz todo o sentido no momento em que se manuseia Viva o Brasil!, livro luxuoso que traz 119 fotos que o fotógrafo francês Xavier Roy registrou durante algumas viagens pelo Brasil.
Dois dálmatas no Arpoador, com o Morro Dois Irmãos ao fundo. Meninos nus em palafitas no Maranhão. A pobreza da Bahia. A exuberância de São Paulo etc. Os contrastes que todos conhecemos, pelo noticiário do dia e da noite, e pelo cotidiano, pelo amor e pela dor, toda essa complexidade se evidencia ainda mais pelos cliques de Roy.
O preto e branco aponta para o cinza, e realmente nada é preto no branco, como se diz, mas as coisas, a vida, por exemplo, acontece no entre, nas tonalidades do indefinível, e isso é também um pouquinho de Brasil, desse Brasil brasileiro, mulato inzoneiro, pelas lentes de um francês, terra de Nosso Senhor. (MRS)
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CD
Heligoland (foto 5)
Massive Attack. EMI Music. Preço médio: R$ 29,90. Eletrônica.
Massive Attack passou sete anos sem lançar um disco novo (houve somente uma compilação de sucessos no meio do caminho) e, nesse tempo, a dupla formada por Robert Del Naja e Grand Marshall acabou virando "os caras que tocam aquela música na abertura da série House". A faixa se chama "Teardrop" e faz parte do disco Mezzanine, de 1998. O último trabalho de estúdio do duo, 100th Window, saiu em 2003. Heligoland rompe o silêncio relativo do Massive Attack projetos paralelos para o cinema, como a trilha sonora do filme Gomorra, mantiveram Del Naja ocupado e põe para funcionar um bom grupo de colaboradores. O mais notório deles é Damon Albarn, vocalista do Blur que entoa um melancólico "Do you love me?" na faixa "Saturday Come Slow". Melancolia, aliás, dá conta do ânimo suscitado por Heligoland. "Pray for Rain" é soturna como alguns dos melhores momentos do trip-hop, gênero que o Massive Attack ajudou a celebrizar no final dos anos 1990 ao lado do grupo Portishead. O guitarrista deste, Adrian Utley, participa da mesma faixa de Albarn. "Babel" é uma das melhores do disco, cantada por Martina Topley-Bird, ex-namorada de Tricky, com quem gravou o álbum Maxinquaye (1995). (IBN)
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Livro 3
Granta em Português 5: Família (foto 6)
Isa Pessôa (ed.). Alfaguara/Objetiva, 248 págs., R$ 39,90. Contos.
A versão nacional da revista literária inglesa chega a sua quinta edição e, como de costume, ele um tema em comum para os textos compilados. Desta vez, 12 colaboradores escrevem (e uma fotografa) sobre família. Na nota à edição brasileira, Isa Pessôa conta que a Granta original dedicada ao assunto saiu em 1991 e usou o título de um poema de Philip Larkin para batizar o volume: "Family, They Fuck You Up" ("Família, eles ferram contigo"). Mas não é só de percalços entre pais, filhos, irmãos, tios e avós que falam os 11 contos e o ensaio fotográfico da Granta em Português. Um dos destaques é "O Segredo", fragmento do livro inédito de memórias do jornalista Zuenir Ventura, autor de 1968 O Ano Que Não Terminou. Em "Gente Famosa", o turco Orhan Pamuk, Nobel de Literatura, escreve sobre a rotina solitária de um garoto, sempre à espera de que algo aconteça. O dramaturgo e cineasta David Mamet narra em apenas duas páginas o momento em que uma mãe e um pai cometem um "Assassinato de Alma", minando um garoto espontâneo que quer só brincar. Rebecca Miller, roteirista e diretora do filme A Vida Íntima de Pippa Lee, aparece com o conto "Sra. Cobiça". Ronaldo Correia de Brito, vencedor do Prêmio São Paulo de Literatura pelo romance Galileia, escreve "A Bênção do Pai". O elenco se completa com a fotógrafa Ana Regina Nogueira e o escritores Daniel Alarcón, Cíntia Moscovich, Joshua Ferris, André Laurentino, Amy Bloom e Mary Gaitskill. (IBN)
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