Revista
Arte e Letra Estórias - Edição N
Ricardo Piglia, Júlio Verne, Katherine Mansfield e outros. Editor: Thiago Tizzot. Arte e Letra Editora. R$ 20,50.
O destaque da edição mais recente da revista trimestral Arte e Letra Estórias, publicação dedicada à literatura editada em Curitiba, é o texto Um Peixe no Gelo, do escritor argentino Ricardo Piglia, inédito no Brasil. Na narrativa, Piglia traz o personagem Emílio Renzi refazendo a trajetória do poeta e escritor italiano Cesare Pavese. O autor nasceu em uma pequena província italiana, mas sempre viveu em Turim, de onde se ausentava por poucos períodos, e se suicidou em 26 de agosto de 1950 em um quarto de hotel, aos 42 anos. Deixou a frase "A todos perdoo e a todos peço perdão", escrita na primeira página do seu romance Diálogos com Leucó, que estava na mesa de cabeceira. No texto de Piglia, trechos do diário de Pavese lidos por Renzi são citados, e ele detalha as passagens do caminho feito pelo protagonista. A edição traz também textos de Júlio Verne (1828-1905), do curitibano Carlos Machado e do conterrâneo de Piglia, Esteban Echeverría (1805-1851). As ilustrações são de Arthur Rackham.
Por que ler? Pelo ineditismo e cuidado na escolha dos textos. Além das obras inéditas, a revista divulga obras menos conhecidas de escritores famosos, como é o caso de Júlio Verne. Antes do início do texto, o editor faz uma breve contextualização sobre o autor e sua obra. (IR)
HQ
Pateta Faz História
Walt Disney. Editora Abril. R$ 9,95 (cada volume). Quadrinhos.
No primeiro esboço pintado por Leonardo Da Vinci, Monalisa segurava um mata moscas. Antes de confirmar que a Terra era plana, Cristóvão Colombo apareceu em programas televisivos com uma ideia maluca de que nosso planeta era redondo. Estas são algumas das liberdades narrativas da série Pateta Faz História, que reúne biografias históricas em quadrinhos protagonizadas pelo Pateta. A editora Abril resolveu publicar 20 volumes da coleção, que estão sendo lançados semanalmente (os primeiros já estão nas bancas). Cada história apresenta uma versão inusitada da vida de um personagem relevante na trajetória da humanidade o que inclui algumas figuras literárias. A maioria das histórias foi produzida entre as décadas de 1970 e 1980 e publicadas no Brasil pelo Almanaque Disney. Cada edição contém duas histórias, com introduções e biografias reais dos personagens retratados.
Preste atenção: Além do visual inventivo, o charme das aventuras históricas do atrapalhado Pateta são as gags com elementos anacrônicos. A presença de telefones, óculos de sol e roupões de banho, entre inúmeros outros objetos salta aos olhos do leitor. A série pode não ser comparável a obras historiográficas como as de Eric Hobsbawm, mas é difícil imaginar que adultos e crianças não aprendam nada com as biografias bem-humoradas da coleção. (RS)
Livro
O Cheiro do Ralo
Lourenço Mutarelli. Companhia das Letras, 184 págs., R$ 36.
Estreia do quadrinista Lourenço Mutarelli na literatura, O Cheiro do Ralo, publicado originalmente em 2002, ganha uma nova edição pela Companhia das Letras. O livro, segundo o autor, foi escrito em cinco dias, durante um carnaval, e foi bem recebido pela crítica, tendo sido elogiado pelo escritor radicado em Curitiba Valêncio Xavier e adaptado para o cinema por Heitor Dhalia e Marçal Aquino. O personagem principal, que foi vivido por Selton Mello na grande tela, é um misantropo proprietário de uma loja de penhores, reconhecido principalmente por ser parecido com "o moço que faz o comercial do Bombril", e que enlouquece aos poucos, criando uma relação psicótica pelo cheiro do ralo que vem do banheiro de seu escritório e pelo, digamos, derrière de uma garçonete.
Por que ler: Mutarelli começou, em O Cheiro do Ralo, a desenvolver a sua voz literária, uma das mais interessantes já surgidas no Brasil nos últimos anos. Com escrita minimal, poucas palavras a cada linha, a leitura se torna fluida e abre diversas arestas para que o leitor crie, a partir dessas lacunas, suas interpretações da história. A nova edição conserva as ilustrações originais do autor feitas para a primeira tiragem do livro. (YA)
CD
Bags & Suitcases
Sabrina Starke. EMI/Blue Note. R$ 29,90. Soul/R&B.
É um alívio ouvir de vez em quando alguém cantando a felicidade. Seguindo a linha de seu primeiro álbum, Yellow Brick Road, a surinamesa Sabrina Starke fala em suas canções autorais de Bags & Suitcases sobre coisas boas. Com uma visão de mundo otimista, ela se atém a assuntos corriqueiros, como o mau-humor de segunda-feira ou a beleza de dias ensolarados. E num embalo que traz a melodia do pop para dentro do universo soul, ensina que é preciso parar de enxergar o mundo contra nós. A faixa-título trata do longo caminho da vida que se estende diante de nós, e como se preparar para ele: não importa quantas boas influência se receba, a bagagem você carrega sozinho.
Por que ouvir: Além da atmosfera alegre, Sabrina esconde em sua música feita na Holanda, onde mora e faz sucesso, características étnicas da população negra do Caribe. Está lá a valorização dos antepassados. A letra de várias músicas remete à espiritualidade talvez a fonte de seu bom humor. (HC)
CD2
Jeff Bridges
Jeff Bridges. EMI. R$ 29,90. Country
A princípio, um CD gravado por Jeff Bridges pode parecer mera curiosidade, um produto a ser adquirido pela legião de fãs do Dude, personagem interpretado pelo ator no filme O Grande Lebowski (1998). Jeff Bridges, o álbum, prova que não é o caso. Depois da atenção que recebeu ao colocar a própria voz nas músicas de Coração Louco (2009), em que vivia Bad Blake, um decadente cantor de country, Bridges resolveu gravar o segundo disco da carreira de músico (o primeiro, Be Here Soon, foi lançado de forma independente em 2000). Chamou o produtor T Bone Burnett e foi para o estúdio. Saiu de lá com esta agradável coleção de canções que ora pendem para o country-rock ("What a Little Bit of Love Can Do" e "Maybe I Missed the Point"), ora seguem na direção do folk ("Blue Car" e "Either Way"). "Falling Short", uma das três músicas compostas pelo próprio Bridges, é arrastada demais e destoa do resto do trabalho. Ainda assim, Jeff Bridges é uma excelente surpresa no cenário mais tradicional da música norte-americana.
Preste atenção: na steel guitar de boa parte das faixas e no vocal de apoio de Rosanne Cash em "Everything But Love", "Nothing Yet" e "Slow Boat", que acentuam o tom pastoral do disco. Burnett, por sua vez, se encarrega de criar o clima de raiz que vem aperfeiçoando em trilhas sonoras como as de E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?, Cold Mountain e Johnny & June. (JPP)
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