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Galileu Galilei: processo trágico, que envolveu fatores políticos | Reprodução
Galileu Galilei: processo trágico, que envolveu fatores políticos| Foto: Reprodução
  • Veja o que é lenda e o que é verdade sobre Galileu
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Dois homens de ciência dominam o ano de 2009: Charles Darwin, que completa 200 anos de nascimento e que publicou, há 150 anos, A Origem das Espécies, marco inicial da Teoria da Evolução; e Galileu Galilei, que há 400 anos apontou sua luneta para o céu e começou a fazer descobertas que abalariam a cosmologia vigente até então – por causa do aniversário, as Nações Unidas declararam 2009 como Ano Internacional da Astronomia. Os dois cientistas também são usados frequentemente para contrapor ciência e religião – Galileu foi processado pela Inquisição, e até hoje fundamentalistas religiosos se recusam a aceitar a evolução proposta por Darwin. Mas um livro recentemente lançado no Brasil revela que Galileu estava muito longe de querer abalar alicerces da religião católica.

Annibale Fantoli, autor de Galileu – Pelo Copernicanismo e pela Igreja, afirma que o astrônomo nunca pretendeu se indispor com a Igreja Católica; pelo contrário, procurou convencer as autoridades eclesiásticas de que o sistema copernicano (em que a Terra gira em torno do Sol) era o correto para benefício da própria Igreja. "(...) isto esforcei-me por demonstrar num escrito meu, porquanto me foi permitido pelo Bom Deus, não tendo outro objetivo senão a dignidade da Santa Igreja", escrevia Galileu em 1615 a Piero Dini.

Dom Sérgio Braschi, bispo de Ponta Grossa e tradutor da obra para o português, afirma que essa faceta de Galileu foi o que mais lhe impressionou durante o trabalho: "Ele queria que a Igreja também estivesse na vanguarda científica, assumindo a teoria copernicana. No entanto, nesse esforço, ele foi além do que era recomendado na época", diz, lembrando que Galileu não ficou apenas no campo científico, mas tentou impor uma nova interpretação da Bíblia justamente durante a Contrarreforma, uma época de maior rigidez doutrinal como reação ao protestantismo – por maior que fosse sua boa vontade ao fazer isso, foram justamente suas afirmações no campo escriturístico que lhe trouxeram problemas com o Santo Ofício.

"O processo de Galileu é uma tragédia da época, que envolveu fatores políticos e também muita inveja e intriga nos meios científicos de seu tempo", afirma dom Sérgio. Não apenas o clero, mas a comunidade científica da época tentou de várias formas salvar as aparências do sistema aristotélico-ptolomaico, que colocava a Terra imóvel no centro do universo. "Quando Galileu descobriu crateras na Lua, desafiou a concepção aristotélica de que os corpos celestes eram esferas perfeitas. Como não podiam negar a evidência da observação, os professores que defendiam Aristóteles chegaram a afirmar que a Lua era revestida por uma camada lisa de vidro", conta o bispo, para quem julgar acontecimentos daquela época com a visão de hoje é um contrassenso. "Hoje nós estamos mais preparados para um encontro com extraterrestres do que o europeu daquele tempo estava preparado para encontrar os índios da América", compara.

Como um dos pioneiros do método científico, Galileu foi responsável por uma poderosa mudança de paradigma, e dom Sérgio vê nesse fato um dos grandes méritos do astrônomo. "Ele desmontou o argumento de autoridade. Antes, todas as questões debatidas eram resolvidas recorrendo-se à autoridade, seja da Bíblia, dos padres da Igreja, de Aristóteles. Com sua luneta, Galileu abre uma crise poderosa nesse modo de pensar. Afinal, se ele mostrou que Aristóteles estava errado, quem garantiria que a Bíblia e os padres também não se enganavam? Não é de se espantar que o Santo Ofício estivesse preocupado", exemplifica.

Entusiasta da Astronomia, dom Sérgio lamenta que, na época atual, ciência tenha se tornado sinônimo de tecnologia. "Filosofia e Teologia também são ciências, mas hoje têm esse status negado. Quando as ciências exatas viram um fim em si mesmas, surge uma sensação de saber tudo, como se poder fazer algo fosse igual a dever fazer algo. No fundo, é a primeira tentação do homem, narrada no Gênesis, quando o diabo diz a Eva ‘sereis como deuses’", afirma.

Serviço

Galileu – Pelo Copernicanismo e pela Igreja. Texto de Annibale Fantoli com tradução de dom Sérgio Braschi. Editora Loyola (www.loyola.com.br), 448 págs.,R$ 65.

Leia mais sobre Galileu – Pelo Copernicanismo e pela Igreja, incluindo a íntegra da entrevista de Annibale Fantoli, no blog Tubo de Ensaio, sobre ciência e religião: www.gazetadopovo.com.br/blog/tubodeensaio

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