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Cena do documentário "Garapa" | Divulgação
Cena do documentário "Garapa"| Foto: Divulgação

Um ano depois de ser consagrado com o Urso de Ouro por "Tropa de Elite", o diretor brasileiro José Padilha trouxe ao Festival Internacional de Cinema de Berlim um filme que é o contrário das tramas cheias de suspense envolvendo o capitão Nascimento. Em "Garapa" (cujo título vem do nome da mistura de água e açúcar que substitui o leite na mamadeira das crianças), apresentado na seção Panorama Documentário, não há quase ação, nada acontece, mas assim mesmo o filme sobre o cotidiano de três familias cearenses - duas do interior e uma de uma favela de Fortaleza - envolvidas no seu drama existencial, a preocupação diária com a falta crônica de alimentos, foi capaz de lotar até o último batente do Cinestar, na noite de quarta-feira.

Depois das quase duas horas de projeção das cenas sobre as familias, não houve aplauso. Um espectador comentou, durante a discussão que costuma acompanhar os filmes do Panorama, que o silêncio foi talvez uma forma de "aplauso". Padilha foi mais tarde aplaudido ao exigir o mesmo tipo de engajamento mundial para o combate à fome que tem sido dado atualmente ao combate da crise econômica mundial.

- A fome não é um fenômeno apenas brasileiro mas um problema grave mundial que ataca a Ásia, a África e a América do Sul. Enquanto vimos esse filme, em algum lugar do mundo morreu gente de fome. Novecentas milhões de pessoas sofrem de fome no mundo. Todo dia morrem 16 mil crianças de fome ou doenças resultantes da subnutrição - afirmou o diretor.

As imagens de crianças famintas, com as pernas cobertas de feridas e de moscas, que vegetam em choupanas de barro, pareciam também um contraste ao próprio festival, com as suas muitas estrelas de Hollywood. A poucos metros do Cinestar, a atriz Demi Moore era aplaudida e saudada com gritinhos dos fãs ao entrar no Berlinale Palast para a estréia do seu filme "Happy Tears".

O famoso crítico austríaco Bert Rebhandl, professor da Universidade de Berlim e autor de um blog sobre a Berlinale, chamou o documentário de Padilha de "épico" e "versão documentada de 'Vidas secas' de Graciliano Ramos", que voltou a ser mais lido também na Europa por ocasião do seu jubileu de 70 anos.

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