Desfilando a propaganda como a alma do negócio e destacando a fidelidade, a Gaviões da Fiel levantou sua torcida nas arquibancadas do Anhembi no início da madrugada deste domingo (10), que ficaram parecidas com uma partida de futebol. O clima também lembrou um estádio pelos fogos, rojões e sinalizadores que enfumaçaram o sambódromo até o momento de a bateria entrar no recuo. Ao final do desfile, ecoaram gritos de "é campeã". Outro bordão que tomou conta da avenida foi "bando de loucos".
Dentro do tempo regulamentar, a agremiação da torcida organizada do Corinthians levou o público ao delírio com o carro alegórico que trouxe o publicitário Washington Olivetto e o goleiro Cássio. Outros jogadores se posicionaram no camarote da Brahma para acompanhar a apresentação.
No abre-alas, 43 gaviões representaram os 43 anos da escola de samba. O primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira foi outro exemplo de fidelidade à escola. Gi e Bozó, que também são marido e mulher, desfilaram com fantasias de 40 quilos, sendo que a porta-bandeira pesa 50 quilos.
Caracterizada por baronesa do café, a apresentadora Sabrina Sato madrinha de bateria da Gaviões da Fiel, destacou a responsabilidade da escola neste ano. Na concentração, disse que "a vontade de fazer um carnaval bonito é ainda maior, pelos torcedores", em referência à conquista do mundial de clubes pelo Corinthians no fim do ano passado.
O terceiro carro alegórico da escola da "nação corintiana" trouxe a figura de Abelardo Barbosa, o Chacrinha, como exemplo de grande comunicador da televisão brasileira. Na ala A Bela e a Fera, a Gaviões aproveitou o filme para falar de propagandas que prometem, mas não cumprem.
Nenê de Vila Matilde
Apesar de cerca de 20 minutos de atraso para entrar na avenida, mas sem estourar o tempo regulamentar para o desfile, a Nenê de Vila Matilde levantou a arquibancada. Foi a primeiro do segundo dia do Grupo Especial do carnaval de São Paulo. O enredo com diferentes enfoques de reivindicação sobre igualdade, com destaque para o preconceito racial, agradou ao público no Anhembi.
A comissão de frente mostrou a luta do bem contra o mal. A presença de integrantes do bloco baiano Olodum também fez a plateia vibrar. Eles vieram no terceiro carro alegórico, o Baticum do Olodum no Pelourinho, e também junto com outros ritmistas da bateria da Nenê.
A ala Canudos foi um espetáculo de dramaturgia, que contou com a presença do diretor Zé Celso Martinez, como Antonio Conselheiro. Junto com outros integrantes do Teatro Oficina fizeram uma encenação, com sertanejos sendo mortos por soldados. Ao fim, todos davam as mãos para celebrar a igualdade, o tema da agremiação que quer se manter na elite do carnaval de São Paulo, depois de vencer no ano passado no Grupo de Acesso.
Outra a se destacar na pista foi a madrinha de bateria Déborah Caetano, que veio caracterizada de diabo, com traje nas cores preto e roxo.
Os carnavalescos da Nenê de Vila Matilde fecharam o desfile com muita emoção da dispersão e levantaram o presidente da escola, Rinaldo José Andrade, para aos gritos de "Tá pensando o quê? Eu sou Nenê, eu sou Nenê". O grupo baiano de percussão, Olodum, que teve participação no desfile fez um convite formal para que a bateria da escola abra amanhã o carnaval no Pelourinho, em Salvador, e segundo Andrade, a composição embarca logo mais para o evento.
Andrade avaliou que o desfile foi maravilhoso e que a comunidade foi a grande responsável pela boa apresentação. "A comunidade sofre muito, luta muito e chegou onde chegou graças ao suor de todo mundo", disse. Segundo ele, o carnaval de São Paulo cresceu muito e a agremiação é um bom exemplo disso.
O diretor de teatro José Celso Martinez, que fez uma ala da escola representando Canudos como a terra prometida e interpretou Antonio Conselheiro compartilhou da boa avaliação e disse que "foi uma delícia" desfilar na Nenê,e "muito audacioso" por parte da escola propor uma encenação de Os Sertões na passarela do samba.