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É uma pena que Família Rodante entre em cartaz em apenas uma sessão dirária, às 15 horas, na Cinemateca de Curitiba. Pena, porque se trata de um dos filmes latinos mais bem sucedidos de 2004. O longa dirigido pelo argentino Pablo Trapero, mais do que um road movie pela Argentina e seu povo, é um carinhoso retrato da instituição familiar.

A protagonista da história é a avô Emília, mulher ciente de sua função de matriarca, com pouco além de seu legado familiar para cuidar. O ponto de partida da trama é sua festa de aniversário de 84 anos, em uma casa humilde de Buenos Aires, quando recebe um convite para ser madrinha de casamento de um parente. Acompanhada das duas filhas, seus respectivos maridos, e dos netos, ela embarca em uma viagem rumo a Misiones, próximo à fronteira com o Brasil.

Os 1,5 mil quilômetros são percorridos a bordo de um Chevrolet Viking 52, um trailer caindo aos pedaços. Seja pelas quebras, seja pelo consumo astronômico de gasolina, seria mais barato ir de avião, como bem lembra um personagem. Mas o carro é motivo de afeto por parte do dono, possui "o motor original". Esse é o tipo de motivo irracional, subjetivo e afetivo que rege os 12 integrantes dessa família que disputa, no calor e no aperto, os poucos metros quadrados de um veículo decadente. O confinamento estimula as brigas, os amores e a eclosão de emoções que nutrem os os relacionamentos paralelos entre os personagens.

Cada pessoa é um indivíduo bem constituído, na abrangência de seus desejos, temperamentos, defeitos ou qualidades. Há um respeito por essas características, que o filme não está interessado nem em exaltar, nem em condenar, como se mostrasse a família de dentro para fora, assumindo os seus aspectos. Em outras palavras, um antagonismo de um tipo de personagem brutalizado que povoa parte da cinematografia brasileira recente (exemplares mais recentes em Mulheres do Brasil).

A sensação de que vemos gente autêntica na tela é reforçada pelo uso de atores inexperientes, ou mesmo não-atores. Emília é avó de Trapero e a produtora Martina Gusman, sua mulher. Até os pais do diretor acompanharam o dia a dia das filmagens, mostrando os esforços do cineasta em criar intimidade. O uso da câmera no ombro, longe de um cacoete de estilo, é recurso cinematográfico que transmite confinamento, desconforto e a intimidade dos personagens. GGGG

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