“O Miele é um dos pais do entretenimento brasileiro. Criou o chamado “pocket show”, como conhecemos, com roteiro e textos. Se você pensar em toda a área de shows da Globo, foi ele quem ajudou a construir. Quando ele trabalhava na TV, foi receber o pessoal da bossa nova e não cabia no sofá, então pegou um banco. Veio daí o conceito do banquinho e violão. E o que ele não fez? Foi o primeiro a lançar um disco de rap, o ‘Melô do Tagarela’. Lançou disco de piadas, foi roteirista, escreveu livros. O que fica para mim é uma vida muito intensa. Ele foi fazer ‘Dança dos Famosos’ [quadro do ‘Domingão do Faustão’], já estava com o joelho machucado. É um homem renascentista. Para a Elis, a importância dele se deu sobretudo quando ela não se dava muito bem com o meu pai. Ela acabou tendo no Miele um foco de confiança. Ele sabia acolher um talento, sabia dar segurança. Realmente sabia conduzir o artista e extrair o melhor dele. Ele gostaria de continuar a turnê do show que fizemos neste ano [em homenagem aos 70 anos de Elis Regina]. Era uma coisa em que ele estava empenhado pessoalmente, feliz: dizia que não morreria sem fazer esse espetáculo. Um cara muito especial, um dia ele vai ser estudado.”
João Marcelo Bôscoli, produtor musical e filho de Elis Regina e Ronaldo Bôscoli
“O Miele é uma pessoa muito querida e muito próxima de mim a vida inteira. Ele foi um dos nossos maiores incentivadores, foi quase um formador de plateia, desde a nossa estreia, com [o musical] “Cole Porter”. Quando a gente começou a trabalhar em, “O Mágico de Oz”, a gente logo pensou nele. O Miele é o Mágico de Oz brasileiro, estava perto de tudo, ele circulava praticamente como uma figura mítica. Ele era um coringa dentro da vida artística. Era um cantor sem ser cantor, ator sem ser ator, jornalista sem ser jornalista. Era uma enciclopédia viva. Estar em contato com ele era como estar em um mundo de Oz. Ele era um evento, uma aparição.”
Charles Möeller, diretor de teatro, dirigiu Miele no espetáculo “O Mágico de Oz”, em 2012
“Ele foi muito importante para os Dzi Croquettes, amor. Era amigo de Lennie Dale [Leonardo La Ponzina, cantor e ator]. Lembro do dia em que o Lennie nos levou pela primeira vez ao Pujol [Monsieur Pujol, boate de que Miele foi dono]. Foi hilário. Estávamos com roupas andrógenas. Quando Miele viu aquilo, disse: ‘Já estão contratados, só pelo visual!’. A partir daí fizemos shows lá. Aquela era uma época tão louca que eu nem sei se ele nos produzia. Ele subia no show com a gente, fazia um número. Apoiava-nos mesmo na época do ostracismo. Sempre foi vanguarda.”
Bayard Tonelli, bailarino e membro do grupo Dzi Croquettes
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